Contos eróticos de Anaïs Nin inspiram série sensual e bem-produzida
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Contos eróticos de Anaïs Nin inspiram série sensual e bem-produzida
Essa não é uma série para deixar passando enquanto as crianças estão na sala
Talvez o que a gente mais precise agora seja uma boa dose de escapismo baseado em ficção erótica colocada na tela com ares surrealistas. Se for mesmo o caso, ou se a descrição apenas soou intrigante, “Little Birds”, é uma ótima pedida.
Escritas provavelmente nos anos 1940, as histórias que deram origem a esse roteiro acabaram por se transformar em uma das obras fundamentais da literatura erótica de Nin, ao lado de “Delta de Vênus”, outra coletânea de contos sensuais, também adaptada para o audiovisual em 1994, num filme (ruim) dirigido por Zalman King (produtor de “9 1/2 Semanas de Amor”).
“Little Birds”, a série tem como protagonista a jovem nova-iorquina Lucy Savage (Juno Temple), filha de um comerciante rico e uma mãe entediada e que se muda para Tânger, no Marrocos, no meio da década de 1950, para se casar com um aristocrata inglês chamado Hugh Cavendish-Smyth (Hugh Skinner, o Harry de “Fleabag”).
Curiosidade: Juno Temple protagonizou um longa-metragem com o mesmo nome deste programa, “Little Birds”, em 2011, quando tinha 22 anos e um rosto bem mais redondo. O filme não tem nada a ver com a série, nem com a obra literária de Anaïs Nin.
Aqui, Juno vive uma jovem de formação ultra convencional, guardada sob controle dos pais, e depois do marido, com pílulas calmantes prescritas para mantê-la quieta e obediente, mas que não previne que deixe de sonhar com uma vida livre e exótica, bem distante das convenções sociais que a aprisionavam na Nova York daquela década.
Lucy tem desejos: de sexo, de uma vida social interessante, de uma vida de casada com fortes emoções. Tudo o que seu novo marido não quer. Pelo menos não com ela. Hugo é gay, e toda a sociedade de Tânger sabe disso, conhece o seu namorado. Todo mundo, menos sua mulher.
Outra personagem central é a dominatrix Cherifa (Yumna Marwan), uma prostituta local que humilha, sufoca e faz golden shower em seus clientes, para o deleite de alguns deles. As cenas que ela protagoniza não são exatamente sexys, mas bem explícitas em sua porção sadomasoquista.
Ou seja, essa não é uma série para deixar passando enquanto as crianças estão na sala.
E tem ainda a dupla formada pela cineasta norte-americana Lilo von X (Nina Sosanya) e a socialite espanhola Contessa Mandrax (Rossy de Palma, uma das musas de Pedro Almodóvar), que vivem em uma mansão com outras mulheres jovens e produzem filmes sensuais e festas extravagantes. Essas mulheres fascinam Lucy e abrem o seu horizonte para um mundo que ela não imaginava que pudesse existir, mas do qual quer desesperadamente fazer parte.
Tudo acontece em um cenário que se alterna entre as cores quentes e os ângulos surrealistas da parte, digamos, não ortodoxa da trama e o universo de tons pastéis que domina a vida de Lucy e Hugo. Os figurinos são primorosos, o trabalho de direção de arte é impecável.
Mas se tudo parece um pouco errático e sem pé nem cabeça, é porque de fato é mesmo assim. Até onde foi mostrado à reportagem, não ficou claro em que subtramas investir a atenção, que diálogos sussurrados ou gritados em um inglês cheio de sotaques diferentes vale a pena voltar para tentar entender.
Por um lado, parece ser propositadamente um programa algo superficial envolto em uma roupagem extraordinária, talvez inspirado em produções de Ryan Murphy como “Hollywood.” Por outro lado, há assuntos muito sérios que aparecem até o terceiro capítulo, como preconceito, manipulação psicológica e venda de armas. Não é absolutamente necessário que se decida por um lado ou por outro, desde que continue tão interessante quanto essa primeira metade.
LITTLE BIRDS
Onde: Starzplay
Elenco: Juno Temple, Yumna Marwan, Hugh Skinner
Produção: Reino Unido, 2020
Direção: Stacie Passon
Avaliação: Bom
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