Relatório de inteligência da polícia troca local de morte no Jacarezinho
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Relatório de inteligência da polícia troca local de morte no Jacarezinho
Um suposto confronto em que o boletim de ocorrência descreveu duas vítimas aparece no relatório como tendo três mortos
O relatório de inteligência da Polícia Civil alterou o local de ao menos um óbito provocado por seus agentes na operação do Jacarezinho, que terminou com 28 pessoas mortas na semana passada na zona norte do Rio de Janeiro.
Um suposto confronto em que o boletim de ocorrência descreveu duas vítimas aparece no relatório como tendo três mortos. Por outro lado, a troca de tiros relatada por policiais que resultou em seis mortes, segundo o registro na Divisão de Homicídios, aparece com cinco no papel da inteligência.
Produzido como uma espécie de balanço da operação, a mais letal da história do Rio de Janeiro, o relatório foi distribuído para diversas unidades das forças de segurança do estado, entre elas a Divisão de Homicídios, que apura o caso por parte da Polícia Civil.
O documento também foi enviado ao Ministério Público estadual, que montou uma força-tarefa para apurar de forma independente o massacre.
O número de pessoas mortas num local interfere no trabalho de tentar reproduzir a dinâmica dos supostos confrontos.
Procurada, a Polícia Civil afirmou que houve um erro de digitação no documento. “Já está sendo corrigido o equívoco de uma unidade numérica”, afirmou a nota.
A operação no Jacarezinho teve como objetivo, segundo a Polícia Civil, o cumprimento de 21 mandados de prisão contra pessoas denunciadas sob acusação de associação ao tráfico de drogas. O vínculo com a facção criminosa foi estabelecido por meio de fotos com armas em redes sociais.
As trocas de tiros perduraram por mais de cinco horas. Os policiais invadiram ao menos cinco casas de moradores atrás de supostos bandidos. Criminosos em fuga, por sua vez, pularam lajes das residências. Ao fim do dia, ruas e casas da favela estavam repletas de marcas de sangue.
Dos 28 mortos, um era policial civil e 27 pessoas que, de acordo com o estado, atiraram contra os agentes. Três dos mortos eram alvos dos mandados de prisão. Segundo a Polícia Civil, todas as vítimas tinham antecedentes criminais, alguns deles antigos, ou vínculo com o tráfico confirmado por parentes.
Seis pessoas foram presas –sendo três alvos dos mandados expedidos pela Justiça– e foram apreendidos na operação cinco fuzis, uma submetralhadora, duas espingardas, 16 pistolas e 12 granadas.
A Defensoria Pública afirma que há relatos de mortos que haviam se entregado para a polícia antes de serem baleados. Além disso, critica o desfazimento das cenas dos crimes antes da realização de perícia.
O relatório de inteligência indica as pessoas apontadas como lideranças da facção criminosa que atua no Jacarezinho, os policiais mortos na favela, o objetivo e os resultados da operação, e os antecedentes criminais das vítimas dos confrontos.
Ao descrever os mortos pela polícia, o documento os relaciona com os boletins de ocorrência registrados na Divisão de Homicídios da capital. Assim, foi possível cruzar os nomes com os locais dos óbitos.
De acordo com o BO sobre o suposto confronto dentro de uma casa em uma travessa próximo à rua do Areal, dois homens foram mortos. Foram apreendidos ali, segundo o registro na DH, uma pistola e duas granadas.
O relatório de inteligência, contudo, aponta três mortos vinculados a essa ocorrência: Pedro Donato de Sant’anna, 24, Francisco Fábio Dias Araújo, 25, e Caio da Silva Figueiredo, 16, único adolescente morto na operação.
O suposto tiroteio na travessa Santa Laura, por sua vez, aparece nos registros da DH como tendo sido palco da morte de seis homens. No documento da inteligência da Polícia Civil, aparecem cinco: Maurício Ferreira da Silva, 27, Rômulo Oliveira Lúcio, 29, Jonas do Carmo Santos, 31, Guilherme de Aquino Simões, 35, e Luiz Augusto Oliveira de Faria, 41.
A Polícia Civil afirmou, após o contato da reportagem, que Pedro foi morto na travessa Santa Laura, e não naquela próxima à rua do Areal.
“Realmente houve erro de digitação na identificação do RO da morte de Pedro Donato de Sant’anna, RG 293490686, o qual, por erro material, foi vinculado ao RO 901-00430/2021, quando na verdade está vinculado ao RO 901-00436/2021. Já está sendo corrigido o equívoco de uma unidade numérica”, afirmou a nota.
Os registros de ocorrências das 27 mortes de civis na quinta-feira (6) mostram que elas ocorreram em 12 pontos distintos da comunidade. Os documentos indicam o envolvimento de 27 policiais nos homicídios sob investigação.
Uma das ocorrências que mais chamou a atenção de defensores públicos e membros de entidades de direitos humanos ocorreu sem a apreensão de qualquer arma. Trata-se de um homem encontrado numa cadeira de plástico num beco da favela.
De acordo com o registro de ocorrência deste caso, a vítima, Matheus Gomes dos Santos, 21, foi encontrada por dois policiais após a troca de tiros. Moradores acusam a polícia de ter colocado o dedo do jovem já morto na boca, como aparece em foto, com o objetivo de humilhá-lo.
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