Ondas gigantes se formam no litoral do ES e atraem ‘caçadores de tubos’
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Muitos passam temporadas no Havaí, em Portugal e outros locais do mundo, mas também monitoram o litoral brasileiro para treinar e se preparar para os grandes eventos
Tem um grupo de surfistas radicais que o trabalho deles é ir sempre atrás das ondas grandes, onde quer que elas estejam. Elas se formam quando as ondulações encontram um terreno mais alto que seu entorno, então possibilita um tamanho grande de onda. Muitos passam temporadas no Havaí, em Portugal e outros locais do mundo, mas também monitoram o litoral brasileiro para treinar e se preparar para os grandes eventos. E foi isso que ocorreu na última semana, quando um grupo encontrou condições ideais em Avalanche, uma temida onda no Espírito Santo.
“Ela tem uma condição boa para a gente treinar o surfe em ondas grandes. É importante para quando encontrarmos essas condições fora do Brasil. É uma onda de slab, uma cabeça de pedra. Não é tão perfeita, mas tem uma condição extrema, que proporciona tubos grandes para treinarmos nossas habilidades”, explica Carlos Burle, que pegou um enorme tubo lá.
O slab é uma onda que quebra em bancadas muito rasas e existem muitas pelo litoral brasileiro. No caso da Avalanche, ela fica a cerca de cinco quilômetros da Praia da Costa, em Vila Velha. É um afloramento de terra em uma região bastante profunda, ou seja, quando o desnível sobe para quatro metros, forma uma onda muito grande, porém curta. As maiores chegam a ser superiores a 6 metros. É um tamanho muito grande, porém menor que em outros lugares, como Jaws, no Havaí, e Nazaré, em Portugal, que chegam a mais de 20 metros.
Avalanche era bastante conhecida pelos pescadores locais e seria como se fosse uma pequena ilha submersa. “É uma onda muito perigosa. Essa grande que surfei, eu coloquei a mão na parede para atrasar, porque ela é curta, e acabei virando, bati no fundo com o cotovelo e a perna. Estou com a mão toda arranhada por causa dos ouriços. Então é uma onda que tem muita adrenalina, tem um medo envolvido”, diz Burle.
Ele conta que quem descobriu o pico e começou a se destacar lá foi um grupo de bodyboarders. “Eles pegam as ondas sem ajuda do jet-ski. O pessoal da equipe NXF Bodyboarders sempre nos recebe muito bem. O Estado do Espírito Santo tem história muito forte com essa modalidade”, afirma.
Burle vinha monitorando a ondulação em Avalanche e decidiu ir para lá por causa de seu trabalho como técnico de Lucas Chumbo. Vários outros atletas conhecidos no meio foram também, como Lucas Fink, Pedro Calado, Ian Cosenza, Michelle de Bulhões, Gabriel Santos, Ziul Andueza, os irmãos Aline e Gabriel Adisaka, Vini dos Santos, entre outros. “Quero sempre estar próximo desse universo das ondas grandes, de compartilhar esse momento, mas também fazer meu trabalho de coach”, comenta Burle, que está com 53 anos.
“Os free surfers e big riders estão sempre de plantão, analisando as condições, previsões, mapas e sites especializados, e vão atrás dessas ondas grandes. Quando entra uma ondulação nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, e o mar começa a ficar grande, com direção mais de sudeste, aí a gente entende que pode quebrar essa onda lá de Avalanche, no Espírito Santo. Aí é questão de a previsão se confirmar, o vento e a maré estarem bons. É importante estar no lugar certo, na hora certa”, avisa.
A BUSCA PELAS ONDAS PERFEITAS – O surfista de ondas grandes está sempre atrás das boas ondulações para poder treinar e se aprimorar em condições limites, mas também sabe que é importante gerar conteúdos a partir daquele momento. Até por isso, o trabalho de encontrar os melhores lugares nas datas corretas não para.
“O surfista de ondas grandes precisa mapear as ondulações. No Sul e Sudeste tem uma consistência maior, além da região de Fernando de Noronha e as urcas no Rio Grande do Norte, como a Urca do Minhoto. São muitos picos conhecidos, como Saquarema (RJ), Maresias (SP), Cardoso, Garopaba e Silveira (SC). Tem o Pontão do Leblon, Sheraton, praia do Grumari, em Niterói dá onda grande direto, São Paulo também tem umas lajes. São muitos lugares que reúnem condições”, diz Burle.
“A gente fica em cima dos mapas de previsão, como força dos ventos, tamanho das ondas, direção da ondulação. Quando vai chegando mais perto, essa previsão vai ficando mais certa. A leitura de dez dias ou uma semana é só para alertar. Quando faltam quatro ou cinco dias, já fica mais certo e a gente começa a se organizar e buscar o ponto ideal onde essas ondas vão quebrar. Quando dá 48 horas, a gente faz a chamada e pega a estrada, porque o negócio é mais certo”, continua.
É um grupo grande de surfistas destemidos e cada um dá um jeito para chegar ao local das ondas. Eles também utilizam muito os contatos com outros surfistas nas regiões de grandes ondas. “A gente conta com a experiência e contato com os locais para estar nos locais certos para pegar as ondas grandes e treinar bastante. A gente tem uma equipe, estamos sempre nos comunicando”, afirma.
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