Há 40 anos, título de Piquet deu novo status aos pilotos brasileiros na F-1
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Piquet foi um dos melhores pilotos de F-1 de todos os tempos, com três títulos. Além de 1981, ele também foi campeão em 1983 e 1987
Oano é 1981. A rivalidade Brasil-Argentina polarizava nas pistas a briga pelo título mundial de Fórmula 1. Em um improvisado circuito montado no estacionamento de um hotel, em Las Vegas, nos Estados Unidos, a temporada chegava ao fim. Em uma corrida cheia de nuances, o promissor Nelson Piquet, de 29 anos, faturou então o campeonato com um quinto lugar. A Carlos Reutemann, oitavo colocado naquela prova, restou o vice. Foi dessa forma que o brasileiro festejou seu primeiro dos três títulos da categoria.
Procurado pela reportagem do Estadão, o ex-piloto não se propôs a comentar os 40 anos da sua histórica conquista, muito festejada pelos torcedores brasileiros. Piquet foi um dos melhores pilotos de F-1 de todos os tempos, com três títulos. Além de 1981, ele também foi campeão em 1983 e 1987.
A façanha de Piquet não é esquecida por outro campeão mundial, o primeiro do Brasil, nas temporadas de 1972 e 1974, Emerson Fittipaldi. Primeiro brasileiro a ter seu nome escrito na galeria dos campeões de F-1, ele, atualmente com 74 anos, é tido como um dos desbravadores do automobilismo. Ele chegou a dividir não só as pistas, mas também o seu último pódio da carreira com Piquet, em 1980. Em entrevista ao Estadão, Fittipaldi comentou sobre a importância da conquista de 81 por um piloto brasileiro para a consolidação do país na categoria.
“O primeiro título dele foi muito importante para o automobilismo nacional. Criou um prestígio absurdo para todos nós na F-1. O piloto passou a ser reconhecido e essa valorização foi em todo o mundo. O Nelson foi a confirmação do piloto brasileiro depois de mim”, afirmou Fittipaldi, que atualmente mora na Europa onde acompanha a carreira do filho Emerson Fittipaldi Júnior, o Emmo, nas competições internacionais.
Feliz por ser reconhecido pelo próprio Piquet como um símbolo do automobilismo no País, Fittipaldi elencou as qualidades que levaram o brasileiro ao seu primeiro título mundial quatro décadas atrás. “Ele nos representou muito bem. É talentoso, é técnico e gosta de carros. Para quem é três vezes campeão do mundo, não precisa falar mais nada. Após o título de 81, o piloto passou a ser tão valorizado como são os nossos jogadores de futebol”, comparou.
Além da perícia ao volante de uma Brabham-Ford BT-49C, a conquista do primeiro de seus três Mundiais teve ainda uma outra marca: a superação. Visivelmente debilitado pelas dores nas costas e nos ombros, Piquet precisou de ajuda da equipe para deixar o cockpit em meio às comemorações dos torcedores após o GP que definiu o título a seu favor.
O desfecho da temporada contra o quase quarentão Carlos Reutemann teve contornos de dramaticidade até a última corrida do ano. O piloto de 39 anos da Williams teve, em 1981, a chance derradeira de se tornar campeão pela primeira vez. Somente um ponto separou Piquet do rival argentino na classificação geral (50 a 49). Ao todo, o brasileiro obteve três vitórias e fez quatro poles.
INÍCIO PROMISSOR –
Piquet precisou de três temporadas e meia na F-1 para se sagrar campeão mundial. Considerado um bom acertador de carros, ele também impressionava por sua técnica. David Simms, chefe de equipe da BS Fabrications, nunca escondeu sua admiração pelo piloto que surgia. Os dois trabalharam juntos na McLaren. Um de seus comentários ganhou até tom de profecia. “Aposto meu dinheiro com quem quiser que Nelson Piquet será campeão mundial em três anos.”
Para Emerson, os bons resultados de Piquet eram apenas um indicativo do que estava por vir. “Lembro quando ele chegou na Europa. Ganhou corridas na Fórmula 3 e já começou a chamar atenção. Quando entrou na Brabham, realmente decolou. Em 1980, no meu último pódio da carreira, ele venceu a prova. Foi uma alegria só. Já era uma mostra do que ele faria no título de 81”, comentou.
Com mais de quatro décadas de experiência na categoria, o jornalista Reginaldo Leme esteve presente na corrida realizada em Las Vegas em 1981. Em conversa com a reportagem do Estadão, ele traçou um perfil do brasileiro que despontava na categoria. “Naquela época, o Piquet era ainda mais arredio com a imprensa. Sempre foi introspectivo. Nós não tínhamos um relacionamento. Mas em 81, a Globo voltou a fazer as coberturas in loco e isso me ajudou sob um aspecto: o Piquet passou a ter um feedback positivo do nosso trabalho. Disse que mostrávamos realmente o que se passava nos treinos e corridas. A partir dali, ele se colocou à disposição para as entrevistas”, lembra Reginaldo Leme.
A performance demonstrada há 40 anos, na verdade, foi uma confirmação do seu amadurecimento, de acordo com o jornalista. “No ano anterior ele já poderia ter sido campeão. Perdeu o título para o Alan Jones por causa de uma quebra de carro. Já em Las Vegas, fez uma corrida de superação. Terminou a prova com muitas dores nos ombros e nas costas. Não fosse uma corrida decisiva, teria abandonado. Com o Piquet, fiz uma das grandes entrevistas da minha carreira após a bandeirada final”, comentou o repórter.
A prova que consagrou o primeiro título mundial de Piquet foi a 49ª de sua carreira. Somando todas as suas corridas desde a estreia na F-1, o piloto brasileiro fechou o ano de 81 com seis vitórias e um total de 107 pontos conquistados.
EMOÇÃO NO COCKPIT E LEGADO NA F-1 –
Cercado pelos torcedores brasileiros que invadiram a pista, Piquet ficou chorando por um bom tempo no carro e precisou do auxílio dos mecânicos para sair do cockpit. Na entrevista, agradeceu à família e ao seu estafe, e disse estar muito emocionado.
Em seguida, foi dominado por um silêncio que o levou às lágrimas. E tudo isso foi registrado na matéria. “O Armando Nogueira (diretor de jornalismo da Globo) me elogiou por ter mostrado a emoção do Piquet sem interrompê-lo. E esse momento durou quase um minuto. A matéria entrou na íntegra no Fantástico (programa dominical da emissora)”, disse.
Mas além das marcas alcançadas ao longo de sua trajetória, Piquet também deixou um legado de inovações que seriam perpetuadas ao longo dos tempos. Dentre essas novidades estavam a utilização dos pit stops nas provas, o reabastecimento dos carros e ainda o aquecimento dos pneus com mantas elétricas. “A Brabham tinha um time de mecânicos muito bons. E esse entrosamento ajudou o Piquet, que era um excelente acertador de carros. A parceria com Gordon Murray, projetista da equipe, foi outro diferencial. Juntos, eles criaram estratégias que mudaram a história das corridas”, diz Reginaldo Leme.
Profundo conhecedor do automobilismo brasileiro e também dos bastidores da Fórmula 1, o jornalista definiu a importância de Piquet e também do seu primeiro título mundial. “Se o Emerson foi o desbravador, o pioneiro, com o Piquet veio a consolidação de uma porteira aberta para o automobilismo brasileiro. O Piquet foi a confirmação da categoria do brasileiro diante da improvisação. Tinha um talento natural para ser piloto.”
A CORRIDA –
Três pilotos chegaram na última prova com chances de título. O argentino Carlos Reutemann, que fez a pole position, tinha 49 pontos, um a mais do que Piquet, quarto colocado no grid de largada. Jacques Lafitte somava 43 e largou apenas na sexta fila. Por ter uma vitória a mais no calendário do que o argentino (3 a 2), Piquet arrebataria o título no caso de terminar a prova com o mesmo número de pontos do que o seu rival da Williams.
Logo na largada, porém, a cautela tomou conta dos dois principais candidatos ao título. Do quarto lugar no grid, Piquet caiu para a nona posição. Apesar da pole, Reutemann também ficou para trás. Enquanto seu companheiro de equipe Alan Jones assumiu a ponta, o argentino acabou sendo superado pela Brabham de Nelson Piquet, que assumiu a oitava posição.
Numa corrida de superação, Jacques Laffite chegou a sustentar a vice-liderança e ficaria com o título caso seus rivais diretos não pontuassem. O francês, porém, não sustentou o segundo lugar, terminou a prova no sexto posto e somou apenas um ponto na corrida.
Cauteloso, Piquet procurou se manter à frente de Reutemman, que não conseguiu melhorar sua colocação na corrida. No transcorrer da disputa, o brasileiro chegou a ocupar o terceiro lugar com a ida de alguns pilotos para os boxes. Por fim, o corredor da Brabham diminuiu o ritmo, terminou o GP na quinta colocação e encerrou um jejum de sete anos do Brasil sem títulos na F-1.
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