Aleijadinho tem obras restauradas em espaço aberto ao público em BH
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As obras vieram de igrejas das cidades de Ouro Preto, Raposos e Caeté, em Minas Gerais
Três obras do artista mineiro Antônio Francisco Lisboa (1738-1814), o Aleijadinho, estão sendo restauradas em um espaço aberto ao público em Belo Horizonte. A ação “Aleijadinho, a Arte Revelada: O Legado de um Restauro” acontece em um ateliê-vitrine, instalado no hall da Casa Fiat de Cultura.
O trabalho pode ser acompanhado através de visitas guiadas gratuitas, agendadas previamente, mas também pelos pedestres que passarem pelo prédio, localizado nos arredores da praça da Liberdade.
As obras do escultor que passam pelo processo de restauração são as imagens de Sant’Ana Mestra, São Joaquim e São Manuel. As obras vieram de igrejas das cidades de Ouro Preto, Raposos e Caeté, em Minas Gerais.
O trabalho está sendo realizado por três profissionais do grupo Oficina de Restauro, sob a coordenação da restauradora Rosângela Reis Costa e acompanhamento técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan.
Segundo Rosângela, para o início da restauração foi desenvolvido um trabalho de pesquisa e análise das obras, buscando coletar informações sobre a iconografia, o contexto histórico em que as peças foram produzidas, seu estado de conservação e reformas anteriores.
Ao receber as peças, elas foram tratadas, por 30 dias, em uma bolsa sem a presença de oxigênio, para a desinfestação de cupins na madeira. Ao final elas receberão uma proteção química para evitar novos ataques.
De acordo com a coordenadora, as obras estão em um estado de conservação regular, apresentando danos causados pelo tempo e passam pela restauração em um momento necessário. A pintura da imagem de Sant’Ana apresenta falhas, na de São Joaquim não há resquícios da tinta original e a de São Manuel apresenta manchas e rachaduras na pintura.
“A gente não quer deixar essas peças com cara de que foram feitas hoje, elas são antigas e essas marcas do tempo são fundamentais, a restauração não é uma maquiagem. Elas devem carregar a história e o tempo de vida delas com elegância, qualidade, visibilidade e com uma boa leitura da peça toda”, afirma a restauradora.
Todas as obras passarão por uma higienização, contenção das fissuras, complementação de partes faltantes com massa, correção na pintura e a aplicação de verniz para proteção das peças.
Sobre o trabalho em um espaço aberto ao público, Rosângela diz que é uma experiência diferente da rotina, mas que é uma grande oportunidade de dar visibilidade ao processo de restauração de obras de arte.
“O nosso trabalho exige muita concentração, a gente trabalha fechado em ateliês, mas é importante esclarecer o que é esse trabalho. As pessoas não têm muita noção do que significa, do cuidado que exige, do tempo gasto, do porquê dos custos e da formação adequada. Essa ação é muito importante para as pessoas entenderem e valorizarem esse trabalho.”
Segundo Fernão Silveira, presidente da Casa Fiat de Cultura, a proposta já era pensada desde 2019. Neste ano, a ação foi escolhida para a reabertura da casa após o fechamento devido a pandemia. Além disso, os eventos marcam a comemoração dos 15 anos do espaço.
“É uma ação muito importante, porque a gente está restaurando obras de um valor inestimável do mestre Aleijadinho e são obras que necessitavam efetivamente de uma restauração”, afirma o presidente da instituição.
A escolha das obras a serem restauradas contaram com a curadoria do historiador Liszt Vianna Neto. Alguns dos critérios estabelecidos foram de que as obras deviam ser representativas do barroco mineiro e do trabalho de Aleijadinho, além de serem peças que o público tivesse acesso e que pudessem ser devolvidas para as comunidades de origem.
“Desde o início, o nosso plano era tornar o restauro uma parte da ação, de modo que o público pudesse participar e aprender, porque a Casa Fiat preza muito pela cultura e a arte como meios pra educação. É importante que as pessoas tenham a oportunidade de acompanhar e entender como funciona o processo de restauro”, diz Silveira.
O projeto acontece em três momentos distintos. O ateliê-vitrine está aberto ao público desde quarta (3), com objetivo de sensibilizar as pessoas quanto à importância do trabalho de preservação e conservação de obras de arte. As visitas são gratuitas, mas precisam ser agendadas com antecedência pelo Sympla.
A partir do dia 2 de dezembro será lançada uma mostra com a exibição das imagens de São Joaquim e São Manuel já restauradas, enquanto Sant’Ana ainda continuará a ser restaurada ao vivo até janeiro.
Para o ano que vem, o objetivo é lançar um ebook com o registro de todo o processo de restauração e exposição das peças, além de devolvê-las para as comunidades de onde vieram.
Além da exposição, a história e o processo de restauro das obras serão apresentados através da websérie “A Arte do Restauro”, com oito episódios disponibilizados nas redes sociais da Casa Fiat de Cultura. Os vídeos serão lançados semanalmente a partir da próxima segunda (8).
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