Alucinógeno alivia sintomas de depressão resistente em ensaio clínico
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Pesquisadores divulgaram resultados preliminares do maior ensaio clínico realizado até ao momento com a psilocibina para tratar a depressão.
Realizado pela farmacêutica britânica Compass Pathways, o estudo ainda será revisto por pares.
De acordo com um artigo publicado na revista Galileu, a psilocibina, um alucinógeno encontrado em cogumelos psicodélicos, revelou ser uma potencial terapia para a depressão resistente a tratamento (DRT) – condição esta que afeta mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo e que ocorre quando dois ou mais tratamentos com antidepressivos não apresentam melhoras significativas. Estima-se que entre as pessoas com DRT, cerca de 30% tentam o suicídio pelo menos uma vez.
“Necessitamos urgentemente de opções para pessoas que não são ajudadas pelas terapias existentes”, disse George Goldsmith, CEO e cofundador da Compass Pathways, em comunicado.
“Procuramos explorar a segurança e a eficácia da terapia de psilocibina na depressão resistente ao tratamento e encontrar uma dose apropriada para levar ao próximo estágio. Estou muito feliz por termos conseguido fazer isso”, acrescentou.
Para efeitos daquela pesquisa, explica a revista Galileu, 233 voluntários foram divididos em três grupos que receberam doses distintas de psilocibina (25, 10 e 1 miligramas). A dose de 1 mg foi administrada como placebo, isto é, como referência para o estudo.
De notar que todos os participantes haviam interrompido tratamentos com outros antidepressivos antes do início da experiência e, durante a pesquisa, receberam acompanhamento psicológico.
Com o intuito de interpretar os efeitos do alucinógeno, os investigadores basearam-se na Escala de Depressão de Montgomery-Asberg (MADRS). Três semanas após o começo do tratamento, os 79 indivíduos que tomaram a dose mais elevada da substância obtiveram o melhor resultado, nomeadamente uma queda de 6,6 pontos na escala de MADRS, que correspondeu a uma melhoria dos sintomas.
Já entre os voluntários que tomaram doses de 10 mg e 1 mg, não houve diferenças notórias.
Entretanto na terceira semana, refere a revista Galileu, a remissão foi registrada em 29,1% dos pacientes do grupo dos 25 mg comparativamente a somente 7,6% do grupo placebo. Sendo que passado três meses desde o início do tratamento, 24,1% dos doentes aos quais foi administrada a dose mais elevada de psilocibina ainda detinham uma resposta robusta e mantiveram os seus níveis da MADRS baixos. Entre aqueles que tomaram o placebo, o valor correspondeu a 10,1%.
Os investigadores destacaram que a maioria dos efeitos secundários observados foram leves ou moderados. Ainda assim, durante a pesquisa, 12 indivíduos experienciaram um efeito colateral grave, como comportamento suicida, automutilação ou idealização suicida. Seis dos doentes integravam o grupo de 25 mg, cinco o de 10 mg e um o de 1 mg.
Todavia, a farmacêutica declarou que esse tipo de sintoma é frequente “numa população que resiste ao tratamento” e que algumas das ocorrências que envolveram comportamento suicida ocorreram precisamente em pacientes que já estavam mostrando resistência ao potencial tratamento.
Os impactos preliminares da psilocibina foram bem recebidos pela comunidade científica envolvida nos estudos de transtornos de saúde mental.
Segundo Ralph Metzner, professor de neurologia, psiquiatria e ciências comportamentais na Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos, a utilização de alucinógenos no tratamento de quadros depressivos tem de ser considerado e estudado a fundo.
“[Este momento] Baseia-se em mais de duas décadas de pesquisa sobre a viabilidade de compostos psicodélicos para tratar condições de saúde mental e demonstra o potencial que [os psicodélicos] têm em ajudar pessoas que vivem com depressão resistente ao tratamento”, ressaltou o professor.
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