China acusa Cúpula pela Democracia de Biden de neocolonialismo disfarçado
Warning: Trying to access array offset on value of type bool in /usr/storage/domains/i/idnews.com.br/www/wp-content/plugins/wp-social-sharing/includes/class-public.php on line 81
China, Rússia e mesmo ditaduras árabes próximas dos EUA, como os Emirados Árabes Unidos, foram excluídos, o que revela pesos diferentes nas escolhas
A China considera da Cúpula pela Democracia convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, uma arma para dividir o mundo e manter a hegemonia geopolítica americana.
“Na essência, é um neocolonialismo disfarçado”, diz o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, em uma entrevista sobre o tema à reportagem, por e-mail.
Biden convidou 110 países e a União Europeia para, nesta quinta (9) e sexta (10), discutir o avanço do autoritarismo pelo mundo. Há contradições óbvias, dado que países autoritários como o Paquistão e a Nigéria, para não falar em regimes com notas baixas em fóruns democráticos como Brasil, Hungria e Filipinas, estarão presentes.
China, Rússia e mesmo ditaduras árabes próximas dos EUA, como os Emirados Árabes Unidos, foram excluídos, o que revela pesos diferentes nas escolhas.
“Ao se autoproclamar como líder da democracia, os EUA aplicam seus próprios parâmetros para julgar quem é qualificado para essa cúpula e definir quais são os países democráticos. Isso é antidemocrático”, afirma.
Segundo os critérios da ONG Freedom House, compilados pelo site americano Politico, 28% dos integrantes da cúpula são “parcialmente livres” e 3%, “não livres”. O Brasil de Jair Bolsonaro, citado no relatório de 2021 da ONG como um exemplo de degradação do ambiente democrático, ainda é “livre”.
Para irritar ainda mais Pequim, no contexto da Guerra Fria 2.0 entre as duas maiores economias do mundo, Biden convidou representantes de Taiwan. A ilha autônoma é vista como uma província rebelde pelo regime comunista, que nos últimos meses deu tintas de ameaça de guerra à sua política de reunificação com o continente.
“Os EUA [em reunião de Biden com o líder Xi Jinping mês passado] assumiram compromissos claros perante o governo chinês. O princípio de ‘uma só China’ não é uma carta de baralho, mas sim a base política da relação China-EUA e uma linha vermelha inabalável que não deve ser cruzada. A China repudia a manobra americana.”
Confrontado com o fato de que a China não deveria ser convidada por ser uma ditadura dominada pelo Partido Comunista, com repressão ao dissenso em Hong Kong e Xinjiang, Yang defende que o que há “é um novo sistema de cooperação multipartidária sob a liderança do PC”.
Ele se refere aos oito partidos autorizados a cooperar com o PC chinês, o que não se enquadra com a ideia de democracia liberal. Para o embaixador, isso não é problema, dado que cada país deve ser respeitado em suas características.
São argumentos que se encaixam nas contradições americanas, claro, e soam como música para setores da esquerda brasileira -basta ver os elogios da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) ao modelo chinês. Yang saca a tradicional carta dos avanços chineses na economia e na redução da miséria, sob o suposto aplauso da população, como prova de que a ideia ocidental de democracia é relativa.
Essa visão, encimada pela defesa do multilateralismo, tem alinhado Xi ao russo Vladimir Putin em fóruns internacionais. Não por acaso, ambos os países são rivais diretos de Washington, em dimensões diversas -mais militar no caso de Moscou, estratégica no de Pequim.
Yang é um dos expoentes da geração de diplomatas conhecidos como “lobos guerreiros”, por defender a visão de Xi com ênfase inaudita mundo afora. No Brasil, notabilizou-se por conflitos com o governo Bolsonaro, em especial o filho presidencial Eduardo. Já teve sua cabeça pedida pelo Planalto, mas o peso da relação comercial entre os países acabou falando mais alto.
*
Pergunta – Biden convidou 110 países e a UE para a cúpula, mas deixou de fora a China e outras nações, como Rússia e alguns representantes árabes. Como o sr. avalia isso?
Yang Wanming – A democracia é um valor comum de toda a humanidade, e não é uma ferramenta para certos países alcançarem seus próprios interesses. Ao se autoproclamarem como “líder da democracia”, os EUA aplicam seus próprios parâmetros para julgar quem é qualificado para essa cúpula e definir quais são os países democráticos.
Isso, por si só, é antidemocrático, revelando que o verdadeiro propósito da cúpula é simplesmente dividir o mundo em blocos sob o pretexto da democracia, a fim de implementar sua geoestratégia, cercear e explorar outros países, e preservar sua hegemonia econômica, financeira, tecnológica e militar. Na sua essência, é um neocolonialismo disfarçado de democracia.
Em vez de refletir sobre seus próprios problemas, os EUA estão obcecados pela ideia de “superioridade civilizacional” e a visão egocêntrica, usam meios desprezíveis, como infiltração e opressão, intervenção militar, subversão política e sanções econômicas para promover uma “transformação democrática” noutros países, causando numerosas crises, inclusive na América Latina. Essas práticas antidemocráticas camufladas de democracia estão na origem de muitas turbulências no mundo de hoje.
A diversidade é uma realidade no mundo contemporâneo e não existe uma única maneira de alcançar a democracia. Cabe ao povo de cada país avaliar se o seu país tem ou não um Estado democrático e ninguém pode agir como se fosse “juiz da democracia”.
Ao tornar a democracia numa ferramenta e uma arma particular, os Estados Unidos só vão exacerbar divisões, causar desordem e prejudicar a diversidade civilizacional do mundo. Esse tipo de falsa democracia está condenado ao fracasso.
O sr. considera a China, com seu regime dominado pelo Partido Comunista, uma democracia?
YW – Desde a sua fundação, o Partido Comunista, ao erguer a bandeira da democracia popular, tem feito esforços contínuos para garantir que o povo seja dono do país. Ao longo do último século, sob a liderança do partido, a China nunca deixou de buscar e desenvolver a democracia.
Desde 2012, com uma compreensão mais profunda sobre o caminho da China para a democracia e o sistema político, o Comitê Central do partido, com Xi Jinping no seu núcleo, desenvolveu a Democracia do Povo em Todo o Processo como um conceito-chave.
Ela tem as seguintes características: em primeiro lugar, tem uma estrutura institucional sólida, que garante ao povo tanto o direito de votar como o de participar amplamente na administração de assuntos estatais em conformidade com as disposições legais.
Na China, o povo exerce efetivamente o poder do Estado por meio de Assembleia Popular Nacional e assembleias locais em todos os níveis, algo parecido com o Congresso Nacional do Brasil e as Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
Atualmente, há mais de 2,62 milhões de representantes de cinco níveis de assembleias populares desde a esfera nacional até esferas locais, todos eleitos pelos eleitores.
Diferentemente dos parlamentares ocidentais, os representantes de assembleias populares da China vivem e trabalham entre as massas populares e, portanto, conhecem melhor as reivindicações e preocupações do povo e estão sempre sob a supervisão do povo.
Todos os anos, cerca de 3.000 representantes da Assembleia Popular Nacional reúnem-se na sessão plenária para debater planos de desenvolvimento do país e apresentam suas opiniões e recomendações.
Em segundo lugar, a Democracia do Povo em Todo o Processo da China não representa apenas um pequeno número de pessoas ou determinados grupos de interesse. Existem, na China, oito partidos políticos além do Comunista. Ele é o partido governante e os outros partidos não atuam como oposição, aceitam a liderança do PC e cooperam com ele.
O sistema político da China não é um sistema de governo com partido único, nem é um sistema em que vários partidos disputam o poder e governam com alternância. É um novo sistema de cooperação multipartidária sob a liderança do PC.
Em terceiro lugar, a Democracia do Povo em Todo o Processo não é mero formalismo, mas sim uma verdadeira democracia. A China tirou mais de 800 milhões de pessoas da pobreza absoluta. Atualmente, 1,08 bilhão de chineses já foram totalmente imunizados com a vacina contra a Covid-19
A democracia é um processo histórico concreto em constante evolução. Enraizada na história, cultura e tradição de cada nação, assume diversas formas e desenvolve-se em caminhos escolhidos por diferentes povos a partir da sua experimentação e inovação. Não há escolhas superiores ou inferiores.
A China respeita o direito de cada nação a explorar e desenvolver de forma soberana sua própria via de democracia, defende os valores comuns de humanidade de paz, progresso, equidade, justiça, democracia e liberdade.
Em algumas narrativas ocidentais, qualquer partido político que está no poder por muito tempo é autoritário ou despótico. Mesmo que tenha liderado o país a alcançar o milagre da estabilidade duradoura e crescimento rápido com o apoio de grande maioria da população, este partido será rotulado como indiferente à democracia e aos direitos humanos. Tal conclusão decorre ou de uma compreensão restrita da democracia, ou de uma agenda sombria para reprimir o dissenso.
Há diversas críticas no Ocidente acerca da repressão ao dissenso na China, como no caso de Hong Kong e Xinjiang, além de restrições à liberdade de expressão. Isso não torna a exclusão da China de uma cúpula como essa algo previsível, sob a ótica ocidental?
YW – O governo chinês segue um conceito de governança centrada no povo, protege todos os direitos legítimos da população de Hong Kong, Xinjiang e de todas as regiões e grupos étnicos conforme a lei, incluindo a liberdade de expressão, crenças religiosas, emprego e trabalho e cultura étnica.
É lamentável ver certas personalidades do Ocidente fabricarem desinformações por motivos políticos ou geopolíticos e usarem a liberdade de expressão e os direitos humanos como pretexto para difamar e atacar a China, com o objetivo de deter o desenvolvimento do país. Estes atos desprezíveis têm sido combatidos e condenados pela comunidade internacional. Durante a 47ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, realizada este ano, mais de 90 países enfatizaram publicamente que as questões de Hong Kong, Xinjiang e Tibete são assuntos internos da China.
Biden convidou Taiwan para a cúpula. Qual o impacto desse convite, em especial à luz da recente conversa entre ele e o presidente Xi Jinping? Na videoconferência, o presidente Xi salientou que a nova onda de tensões no estreito de Taiwan foi motivada pelas repetidas tentativas das autoridades da Ilha de buscar o apoio dos EUA a uma agenda separatista e pela intenção de alguns americanos de usar Taiwan para conter a China, o que é extremamente perigoso.
O presidente Biden reiterou que o governo dos EUA sempre segue a política de uma só China, não apoia a “independência de Taiwan” e expressou o desejo de que sejam mantidas a paz e a estabilidade no estreito de Taiwan. Esperamos que o lado norte-americano implemente efetivamente o consenso alcançado.
A China opõe-se firmemente ao convite dos EUA às autoridades de Taiwan. Existe no mundo apenas uma China, e Taiwan é parte inseparável do território chinês. Ao convidar Taiwan para participar dessa conferência, os EUA deixaram claro que a “democracia” é apenas um disfarce usado para servir a seus objetivos geoestratégicos e para atender à sua agenda egoísta de manter a hegemonia.Nos últimos meses, contudo, a tensão militar de lado a lado no estreito tem crescido.
O sr. acredita que a situação poderá gerar um conflito inevitável?
YW – O que motivou a tensão atual e o crescente risco para a paz foi o desrespeito das autoridades de Taiwan pelos interesses fundamentais dos compatriotas de ambos os lados do estreito e sua tentativa de buscar a “independência” no conluio com forças externas.
Os dois lados do estreito de Taiwan devem e certamente serão reunificados. Isso é uma tendência inevitável e vontade coletiva de toda a nação chinesa, que não vão mudar e impossível de ser mudada. A China sempre faz o maior esforço em favor da perspectiva da reunificação pacífica.
Ao mesmo tempo, tem a firme vontade, plena confiança e capacidades para defender a soberania nacional e a integridade territorial, para derrotar qualquer forma de atos secessionistas, e jamais permitir que qualquer pessoa ou força venha violar ou dividir o território nacional.
Os EUA reconhecem a China única, mas ao mesmo tempo estimulam a democracia em Taiwan. Esse movimento não é contraditório?
YW – Sobre a questão de Taiwan, o governo dos EUA assumiu compromissos claros perante o governo chinês. As questões relacionadas a Taiwan são problemas políticos sério, e não são questões de valores.
O princípio de “uma só China” não é uma carta de baralho nas relações internacionais, mas sim a base política da relação China-EUA e uma linha vermelha inabalável que não deve ser cruzada. A China repudia a manobra norte-americana de distorcer os conceitos.
| IDNews® | Folhapress | Via NMBR |Brasil