Início da temporada do futebol brasileiro é marcado por episódios de violência
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Atos de selvageria ocorreram em Brasília, São Paulo, Curitiba e Natal
A temporada 2022 do futebol brasileiro mal começou e diversos casos de violência envolvendo torcidas e invasão de campo foram registrados. Na quarta-feira, dia 25, torcedores do Gama e do Brasiliense deram início a uma briga generalizada nas arquibancadas do Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Um extintor de incêndio chegou a ser usado na briga e a Polícia Militar interveio com bombas de gás lacrimogêneo. Atos de selvageria também ocorreram em São Paulo, Curitiba e Natal.
O caso mais emblemático do mês aconteceu dia 22, na semifinal da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha, quando são-paulinos invadiram o gramado da Arena Barueri e partiram para cima dos jogadores do Palmeiras, que vencia a partida por 1 a 0 e acabou se classificando para a final do torneio. Uma faca foi encontrada entre os objetos atirados no campo de jogo. Ela teria entrado no estádio dentro de uma marmita. Jogadores do São Paulo tiveram de segurar os briguentos.
Um dia após o incidente, o clássico entre Athletico-PR e Paraná terminou em quebra-quebra na Arena da Baixada, com cadeiras sendo arremessadas e divisórias sendo derrubadas. Já nesta quarta-feira, torcedores do rubro-negro paranaense se envolveram em um novo tumulto, desta vez no jogo diante do Maringá. Durante a partida, os donos da casa arremessaram objetos em direção aos athleticanos, que revidaram a agressão derrubando a divisória e partido para cima dos rivais. Um torcedor rubro-negro usou uma barra de ferro para atacar os adeptos do Maringá. O caso foi relatado na súmula do jogo.
“De um ponto de vista negativo, a cultura de torcer possui a violência como característica de comportamento e forma de se expressar. Quando pensamos em violência, geralmente falamos da violência física, mas existe também a violência verbal. Essa cultura é pautada na ideia de virilidade, de transformar o ambiente hostil aos adversários”, diz Cleyton Batista, Doutorando em Educação na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisador sobre assuntos relacionados à torcida no futebol. “O ambiente do futebol possibilita essas manifestações, mas é um reflexo de uma sociedade que banaliza a violência e isso se materializa também nas arquibancadas”, conclui.
O episódio mais lamentável, no entanto, aconteceu em Natal, também no último domingo. Uniformizadas de América e ABC tomaram conta de em um trecho da BR-101 na capital potiguar, transformando o local em um campo de batalha em plena luz do dia. Carros voltaram na contramão com medo, rojões foram atirados e um homem, envolvido na briga, foi espancado. Tudo foi filmado por moradores da região.
Durante a década de 1990, as tradicionais festas com bandeiras e públicos abarrotando estádios deram lugar a um crescimento das brigas nas arquibancadas – geralmente protagonizadas por uniformizadas. Dificilmente os fãs de futebol não relacionaram o episódio da faca na semifinal entre Palmeiras x São Paulo na Copinha deste ano com a batalha do Pacaembu. Em 1995, tricolores e palmeirenses invadiram o campo da final da Supercopa de Futebol Júnior e realizaram uma verdadeira batalha campal. O resultado foi um morto em 102 feridos.
Em 2003, o governo brasileiro sancionou o Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/03), visando diminuir a onda de violência e instituir os direitos e deveres de quem frequenta os estádios. Entre os avanços da legislação, é possível apontar a criação de corpos policiais especializados no patrulhamento de arenas, como é o caso do Batalhão Especializado em Policiamento em Estádios (BEPE), no Rio de Janeiro. Em São Paulo, desde 2004, os clássicos são organizados com torcida única com o objetivo de evitar brigas no estádio e em outros pontos da cidade. No entanto, a medida é criticada.
“Apesar do avanço, falta fazer mais claro essa lei. Ainda não observamos um padrão para isso. Casos como esses do início do ano não têm a devida atenção, mas o caso da Copinha é possível que ganhe alguma repercussão (jurídica) por causa do apelo”, diz Batista. “É preciso uma participação maior dos clubes. O clube, de um modo geral, se coloca numa posição isenta, como se não houvesse responsabilidade pelo que acontece, quando justamente deveria ocorrer o contrário, pois ele tem uma influência forte sobre os seus torcedores.”
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