Justiça

Jovem negro preso após comprar pão no Jacarezinho é solto


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Yago Corrêa foi preso quando saia de uma padaria, onde comprou pão de alho para um churrasco com os amigos

O estudante Yago Corrêa, 21, foi solto na tarde desta terça-feira (8) após passar dois dias preso no Complexo Prisional de Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro.

Morador do Jacarezinho, comunidade na zona norte carioca, Yago foi preso no último domingo (6) quando saia de uma padaria, onde comprou pão de alho para um churrasco com os amigos. “Eu queria agradecer a todo mundo que me ajudou até aqui. Não sou bandido. Sou morador”, disse o jovem, que falou brevemente com a imprensa quando saiu.

Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que o estudante deixa a padaria segurando um saco com pães. Já imagens feitas em uma farmácia mostram Yago e outras pessoas correndo para dentro da drogaria, como se tentassem se proteger de algo que não foi registrado pelas câmeras.

No instante seguinte, um policial aponta um fuzil para o jovem, que levanta a mão para alto, ainda segurando o saco de pães.

“Ele foi associado ao tráfico de drogas por ser negro e favelado. É um sentimento de revolta, de que a comunidade está abandonada. O governo nos promete emprego, mas o estado que ele coloca dentro da comunidade acaba com a nossa imagem”, disse Erica Corrêa, irmã do jovem.

“No momento em que foi rendido, poderiam tê-lo levado para uma averiguação e ser liberado quando não fosse encontrado nada”, acrescentou ela. “Mas ele foi simplesmente abordado, arrastado e levado para o sistema prisional.”

Nesta terça, Erica ficou na porta do presídio desde cedo até o momento em que o jovem foi libertado, por volta das 16h20.

Antes da soltura, familiares e amigos fizeram um protesto no local. Segurando cartazes, pediam que o jovem fosse solto. Sua irmã acrescentou que ele estava debilitado e sem o medicamento necessário para o tratamento de tuberculose a que é submetido.

Quando Yago saiu do presídio, o clima foi de euforia entre parentes e amigos. “A favela venceu. Yago é inocente e vai voltar com a gente para casa. Não vejo a hora de abraçá-lo de comemorar e de poder deitar a cabeça no travesseiro em paz, com a sensação de dever cumprido”, disse Erica, um pouco antes da soltura.

De acordo com Vivaldo Lúcio da Silva, advogado de Yago, a prisão é consequência do racismo estrutural do país. “Pessoas negras têm até dificuldade para comprar pão. A gente vive um momento muito difícil. Ser negro neste país, ser gay neste país, é ser alvo de violências físicas e verbais.”

Em nota, a Polícia Militar diz que que, na noite de domingo, uma equipe do Batalhão de Polícia de Choque em patrulhamento no Jacarezinho se deparou com duas pessoas, uma delas carregando uma bolsa. “Eles foram alcançados em posse de material entorpecente. Os dois indivíduos, um homem e um adolescente, foram conduzidos à 25ª DP para o registro da ocorrência. Nesta ação foram apreendidos 32 pinos de cocaína, 32 papelotes de skunk e 58 papelotes de maconha.”

Na decisão que concedeu a liberdade provisória ao estudante, o juiz Antonio Luiz da Fonsêca argumentou que é necessário continuar apurando os fatos e que o próprio delegado à frente do caso disse haver dúvidas quanto às acusações que pesam contra Yago.

Segundo o documento, o agente afirmou que as drogas foram encontradas em posse do adolescente preso com Yago e que não existiria vínculo entre os dois. “Ante tal contexto, denota-se que não há a gravidade em concreto para se justificar a prisão neste momento”, escreveu o magistrado.

Em nota, a Polícia Civil de fato afirmou que surgiram novos elementos após a prisão e, por isso, o delegado entendeu que deveria ser instaurado um inquérito policial para que os fatos sejam apurados com mais detalhes.

“Desta forma, o próprio delegado de plantão, verificando dúvida razoável da participação de Yago na ocorrência, solicitou e representou à Justiça pela soltura do jovem para que os fatos sejam melhor investigados dentro deste inquérito policial.”

A SEPM (Secretaria de Estado de Polícia Militar) afirmou que a abordagem a Yago “respeitou todos protocolos e normativas previstas na atuação policial, não havendo qualquer inconformidade com a atuação da equipe em policiamento”.

“A SEPM também se mantém ao total dispor das demais instâncias do poder público para colaboração nos trâmites processuais relativos à ocorrência.”
A comunidade do Jacarezinho, onde Yago foi preso, foi ocupada pela PM e pela Polícia Civil no último dia 19. A favela foi uma das escolhidas para receber o programa Cidade Integrada, que, segundo o governo, pretende levar projetos sociais às comunidades.

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou, porém, que o programa está sendo visto com desconfiança pelos moradores, que relatam, inclusive, invasão de casas por policiais.

| IDNews® | Folhapress | Via NMBR |Brasil

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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