Aliados de Rodrigo temem rejeição a Doria e ensaiam descolamento
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O vice deve assumir o Palácio dos Bandeirantes no fim de março, quando Doria deixa o cargo para ser candidato ao Planalto
Aliados de Rodrigo Garcia (PSDB) temem que a rejeição ao presidenciável João Doria (PSDB) contamine a campanha do vice-governador ao Palácio dos Bandeirantes e já há quem proponha o descolamento como estratégia de sobrevivência.
A preocupação também é compartilhada por tucanos contrários ao projeto presidencial do governador de São Paulo, que pressionam pela desistência de Doria. Auxiliares do vice-governador ouvidos pela reportagem minimizam o problema.
O vice deve assumir o Palácio dos Bandeirantes no fim de março, quando Doria deixa o cargo para ser candidato ao Planalto. Rodrigo se prepara para concorrer à reeleição em outubro. Políticos próximos a Rodrigo ouvidos pela Folha afirmam que o vice terá que se afastar da imagem de Doria para ter alguma chance no pleito.
Desde já, dificilmente Rodrigo e o governador são vistos juntos em eventos externos, que têm funcionado como pré-campanha de ambos.
Ainda desconhecido da população, Rodrigo marcou 6% em pesquisa Datafolha de dezembro e tende a ficar espremido na polarização entre Fernando Haddad (PT), candidato de Lula (PT), e Tarcísio de Freitas (PL), candidato de Jair Bolsonaro (PL).
Na ala do PSDB que prega a desistência de Doria do pleito, a avaliação é a de que a candidatura do governador resultará em diminuição da bancada tucana e em derrotas nos estados –pela primeira vez, a hegemonia do partido em São Paulo estaria em risco.
No levantamento Datafolha de dezembro, Doria alcança 4% das intenções de votos, enquanto outros nomes da chamada terceira via têm melhor desempenho –Ciro Gomes (PDT) tem 7% e Sergio Moro (Podemos), 9%.
Já no quesito rejeição, Doria chega a 34%, empatado com Lula, presidenciável que lidera a corrida eleitoral.
Auxiliares de Rodrigo afirmam que Doria não é um problema e que o vice deixará claro que o tucano é seu candidato a presidente. Eles ainda rechaçam rumores de que Doria poderia não deixar o cargo como previsto e até concorrer à reeleição, já que seu caminho rumo ao Planalto enfrenta uma série de obstáculos.
Doria até agora tem o apoio do Cidadania, e o PSDB mantém conversas com União Brasil e MDB, mas dirigentes das siglas afirmam que a tendência atual do bloco é dar preferência à candidatura de Simone Tebet (MDB) e não ao governador paulista.
Já Rodrigo construiu um arco maior de alianças, o que evidencia as dificuldades de Doria. O vice conta com Cidadania, União Brasil e MDB, sendo que Republicanos e PP ainda podem apoiá-lo. Membros dessas siglas aliadas dizem reservadamente que Doria se tornou um peso na campanha do vice.
Nas palavras desses políticos, a luz no fim do túnel seria que Doria deixasse o governo em março, como está programado, mas não concorresse ao Planalto. Assim, Rodrigo teria a cadeira de governador e não precisaria fazer campanha para Doria –seu vínculo com o tucano ficaria no passado.
Em entrevista ao Painel, o deputado federal Alexandre Leite (UB-SP), filho do vereador Milton Leite (UB), afirmou que irá sugerir a Rodrigo que descole sua imagem da de Doria caso o governador não melhore seu desempenho eleitoral.
Leite descreveu Rodrigo como “um João Doria melhorado”, sem os “problemas de personalidade” do governador.
Rodrigo tem na família Leite seu principal apoio em São Paulo e mantém proximidade com parlamentares da União Brasil (fusão de DEM e PSL) –o partido reivindica a cadeira de vice na chapa do tucano.
Também membro do União Brasil, o deputado federal Junior Bozella afirmou que o assunto ainda não foi tratado no partido. Mas, para ele, não é positivo colocar divisões entre Doria e Rodrigo no momento.
“Doria e Rodrigo se completam, é um bom governo. Um dos maiores dos últimos tempos em São Paulo, com entregas substanciais”, disse, citando a rejeição de Doria como momentânea.
No entanto, segundo o deputado, se Rodrigo e Doria chegarem à conclusão de que é oportuno um descolamento para suavizar a imagem do vice-governador, é possível fazê-lo sem rompimentos.
Ele mencionou, por exemplo, a campanha de Bruno Covas (PSDB), morto vítima de um câncer, à Prefeitura de São Paulo, na qual o então prefeito se manteve afastado do governador.
Tucanos ligados a Doria ouvidos pela Folha minimizaram a investida da família Leite. Para eles, trata-se de um recado de Milton Leite para ganhar mais espaço no governo de Rodrigo, após Doria se afastar para concorrer à Presidência.
O vice-governador, que iniciou sua carreira na administração pública aos 21 anos, teve o DEM (antes PFL) como único partido até ingressar no PSDB em maio de 2021 a convite de Doria, o que contrariou membros daquela sigla.
A migração para o PSDB foi vista como fruto da pressão de Doria, que queria evitar a candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin pelo partido.
Presidente do DEM à época, ACM Neto afirmou que a filiação foi uma imposição do governador, “cuja inabilidade política tem lhe rendido altíssima rejeição e afastado aliados”.
Políticos próximos a Rodrigo, por outro lado, minimizam o potencial estrago de Doria. Uma avaliação é a que o vice não deveria, neste momento, buscar distanciamento do governador, já que a candidatura de Doria ao Planalto pode nem se concretizar.
O movimento de ruptura poderia soar como traição e seria preciso esperar para avaliar se Doria será candidato e o quanto sua campanha funciona como âncora. Membros da campanha do governador ainda apostam que ele irá decolar no meio do ano.
De qualquer forma, Doria e Rodrigo têm se dedicado a agendas diferentes no estado. Integrantes do governo afirmam que essa é uma forma de potencializar a campanha do PSDB, fazendo entregas simultâneas em pontos distintos.
Foi o caso, por exemplo, do último dia 24. Enquanto Doria foi ao evento de início da construção de um corredor de ônibus no ABC, Garcia entregava obras em São Paulo, ao lado do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e de Milton Leite –esses dois últimos mais tarde se encontrariam com o arquirrival de Doria, Bolsonaro.
No dia seguinte, mais uma vez, ambos tiveram compromissos separados. Analisando as agendas de Doria e Garcia, a reportagem constatou que os encontros entre os dois frequentemente ocorrem a portas fechadas, no palácio.
O vice-governador também tem tido intensa agenda no interior, onde tem buscado conquistar o voto do agro.
Interlocutores de Rodrigo apontam ainda que ele, sentado na cadeira de governador e com a máquina a seu favor, será menos dependente de Doria do que Haddad e Tarcísio dos seus respectivos padrinhos.
Isso porque o vice pode basear sua propaganda em sua biografia e nas entregas da administração, enquanto os demais contam com a polarização para se promoverem.
Esse é o caminho que estrategistas de Rodrigo pretendem adotar –o de ressaltar sua experiência política como secretário em diversas gestões tucanas no estado. O recado é o de que Rodrigo não surgiu a partir de Doria.
Interlocutores de Rodrigo acreditam que ele é visto pela população como uma pessoa diferente de Doria e, portanto, poderá se apropriar dos feitos da administração –que é bem avaliada por 24% segundo o Datafolha. O vice coordena as principais obras e programas do estado.
Além disso, sua campanha planeja condenar a polarização entre Lula e Bolsonaro e entre Haddad e Tarcísio, pregando que São Paulo não é um estado de extremos. Covas conseguiu vencer a eleição paulistana, em 2020, seguindo esta mesma fórmula.
Para aliados de Rodrigo ouvidos pela Folha, sua campanha deve destacar sua habilidade na articulação política, seu conhecimento técnico, sua experiência na gestão e sua ligação com o interior –características que a classe política não vê em Doria.
“Doria e ele fizeram um bom trabalho, então Doria não será um problema. Nada vai influenciar quem conhece o Rodrigo. A população vai captar a mensagem”, afirma o deputado federal Eli Corrêa Filho (UB-SP), aliado de longa data do vice-governador.
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