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Destruição nos arredores de Kiev projeta futuro da capital caso Rússia consiga invadir


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Cidades do interior da Ucrânia estão sendo usadas como ponto de encontro e ajuda de cidadãos

Nicolai estava sentado sozinho numa mesa de piquenique em Irpin enquanto um bombardeio acontecia próximo de onde ele vive, um conjunto habitacional de prédios de cinco andares, sem elevadores.

Antes de a invasão russa começar, o lugar era habitado por famílias de trabalhadores dispostas a viver nas periferias de grandes cidades, como Kiev, acomodadas em prédios como os daquele conjunto.

Por Hostomel, outra cidade próxima à capital, chegam e saem cargas, civis e militares, não turistas ou pessoas viajando a negócios. Em 24 de fevereiro, primeiro dia da guerra na Ucrânia, o aeroporto local foi o primeiro ponto estratégico tomado pelos russos que chegaram em helicópteros, com paraquedistas.

Desde então, o som da explosão de bombas, a presença de militares e a ausência de grande parte da população viraram rotina nos arredores de Kiev. Os poucos civis que ainda não foram retirados das cidades de Irpin e Bucha são idosos ou pessoas doentes devido a dificuldades para se locomoverem.

A avenida que liga os dois municípios, ocupada pelos soldados russos no primeiro dia da invasão e hoje sob controle ucraniano, está completamente destruída, tornando-se uma projeção do que pode acontecer na capital caso as forças russas avancem. Como aquela via atravessa o conjunto habitacional onde Nicolai estava, o Exército ucraniano construiu uma barreira dentro do local.

Um dos obstáculos será um tanque russo, atingido por um drone das forças ucranianas e praticamente derretido pelo calor da explosão, cuja carcaça é usada para tentar impedir o avanço dos invasores.

Do outro lado da rua, dois corpos de soldados uniformizados com a famosa “telniachka” russa, uma camiseta com listras horizontais nas cores branca e azul usada por membros da Marinha, paraquedistas e fuzileiros navais, adotada pela Marinha Imperial Russa do século 19, estão apodrecendo, amontoados um sobre o outro, parcialmente cobertos por uma chapa de metal suja, enferrujada e torta.

Após semanas de intensa mobilização para retirar civis, Irpin estava praticamente deserta.

Os voluntários que transportavam mulheres, crianças, idosos e pessoas doentes até a ponte que liga o município a Kiev foram substituídos por alguns policiais que vasculhavam as ruas em busca de quem ainda precisava sair de Irpin. Muitos deles estão em porões de prédios sem luz nem aquecimento.

Em meio ao vazio, o cozinheiro Aleksander, 41, fez amizade com um dos tantos gatos que buscam um abrigo em meio a escombros e explosões. Na trincheira em que o agora soldado ucraniano se abriga, o bichano se esconde e se esquenta sobre seu fuzil Kalashnikov. A arma, afirma ele, protege os dois.

Aleksander, que tem o russo como língua materna e parentes russos, diz nunca ter imaginado que um dia estaria em guerra com a Rússia. “Estamos em guerra contra o Kremlin, não contra os russos”, afirma ele, que diz se sentir traído pelo país onde muitos ucranianos têm familiares e amigos.

A calma do cozinheiro contrastava com o nervosismo das milícias armadas de Irpin neste domingo (13). Com o esvaziamento da cidade e a intensificação dos combates na cidade de Bucha, principalmente em torno do aeroporto Hostomel, a tensão entre os membros desses grupos aumentou, e a reação de civis armados mas sem treinamento apropriado torna-se cada vez mais imprevisível e perigosa.

No final da manhã, jornalistas estrangeiros entraram em Irpin por meio do caminho improvisado para o resgate de civis, sob os destroços da ponte destruída para impedir que os invasores entrem em Kiev.

De lá, como muitos profissionais estão acostumados a fazer, abordaram um dos voluntários que transportavam civis para pegar uma carona até a base militar localizada no conjunto habitacional, onde pretendiam cobrir a chegada de pessoas escapando da cidade de Bucha.

Ao chegarem ao posto de controle, o jornalista americano Brent Renaud foi morto após ser atingido no pescoço por uma bala. As autoridades ucranianas disseram que os jornalistas foram atacados por forças russas, afirmação que não pôde ser verificada de forma independente.

Até o momento, o centro de Kiev foi poupado dos piores ataques, mas a rotina da guerra começa a se estender e a se repetir, cada vez mais tomando forma de um conflito que durará muito tempo.

| IDNews® | Folhapress | Via NMBR |Brasil

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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