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Alok faz disco com indígenas, diz ser contra o marco temporal e ignora Bolsonaro


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O álbum, diz o DJ, é a concretização de uma mudança de percurso iniciada em 2014, quando, sofrendo de depressão e “em busca de respostas”, decidiu fazer uma visita à aldeia de yawanawá, no Acre, a 30 horas de São Paulo.


Poucos serão capazes de compreender o primeiro disco de Alok, que deve ser lançado nos próximos meses. É que todas as faixas tiveram suas letras escritas em línguas indígenas, numa aliança que o DJ formou com lideranças de 12 etnias Brasil afora e o levou à primeira manifestação política de sua carreira.

O álbum, diz o DJ, é a concretização de uma mudança de percurso iniciada em 2014, quando, sofrendo de depressão e “em busca de respostas”, decidiu fazer uma visita à aldeia de yawanawá, no Acre, a 30 horas de São Paulo.

Lá, numa sessão de ayahuasca, veio a resposta que o levou à parceria com os indígenas –a de que “o futuro é ancestral”. A união recebeu a bênção de dois pajés que o presentearam com dois cocares, hoje guardados em sua casa, já que o DJ não se sente confortável em usá-los em respeito à cultura indígena.

Isso foi dois anos antes do lançamento de “Hear me Now”, que o alçou ao estrelato e ainda hoje é a música brasileira mais tocada no mundo no Spotify, com 583 milhões de audições. Para termos de comparação, “Downtown” e “Envolver”, de Anitta, tiveram respectivamente 524 milhões e 207 milhões.

A primeira mudança é artística. Alok diz que o álbum, cujo título e o número de faixas ainda não estão definidos, não foi criado para se destacar nas paradas, porque, em sua avaliação, elas produzem hits “descartáveis”.

“Quando visitei a primeira aldeia, estava muito preocupado em procurar uma fórmula que funcionasse nas rádios e nos charts, enquanto os indígenas estavam fazendo músicas que curam. A partir daí, ressignifiquei muita coisa.”

O DJ não considera que a falta de conhecimento do público em relação às línguas indígenas seja um entrave para a performance do disco, visto que muitas músicas de sucesso, as suas entre elas, são cantadas em inglês, que a maior parte da população não domina. “As pessoas não sabem o que diz a letra, mas sentem o clima”, diz.

Ele já apresentou duas faixas do projeto no Global Citizen, um festival transmitido pelo YouTube que arrecada doações para o combate à pobreza mundial. Uma delas é “Sina Vaeshu”, que está entre os 130 cânticos para além das composições originais gravadas em NFT e salvas no blockchain “para preservar a cultura oral” dos povos yawanawá, kariri-xocó, huni kuin e guarani.

A letra, cuja tradução não pode ser encontrada na internet, diferentemente de seus outros trabalhos em inglês, versa sobre um curandeiro que pede atenção aos seus ensinamentos, isto é, pede que os brasileiros se voltem para os indígenas.

O cântico, diz Alok, representa a segunda mudança de sua carreira, a do ativismo, que teve início em agosto, quando ele subiu num palanque em Brasília contra o marco temporal. É a tese jurídica que, se for aprovada pelo Supremo Tribunal Federal, pode interromper a demarcação de terras indígenas que não eram ocupadas antes de a Constituição ser promulgada, em 1988.

O que o levou à Esplanada dos Ministérios foi o chamado de Célia Xakriabá, uma professora e ativista que roteirizou um documentário sobre sua relação com os indígenas e os bastidores da produção do disco. O longa-metragem também deve ser lançado este ano, com produção de Marcos Nisti, da Marinha Farinha Filmes, que fez “Aruanas”.
Célia, que já trabalhou com Caetano Veloso, relembra que a princípio rejeitou o convite para ser roteirista do documentário, mas mudou de ideia depois de se consultar com um pajé.

“Era um chamado. Fiz o roteiro não só com caneta, mas com jenipapo e urucum. Minha missão era levar o Alok para além da música. Não bastava que ele reconhecesse a força do canto. Ele tinha que ajudar a proteger o corpo e as vozes de quem canta”, diz.

A participação de Alok na manifestação detonou críticas de lideranças políticas à direita como o ex-deputado Arthur do Val, o Mamãe Falei, que publicou no YouTube um vídeo para dizer que o DJ queria se promover em cima dos indígenas, ao qual ele não respondeu por considerar que não seria frutífero para o debate.

Ele diz que não teve medo de perder público nem seguidores nas redes sociais porque sua presença na manifestação “foi em prol dos indígenas e da humanidade como um todo”, “antes de qualquer cunho político e de quem estava por trás”.

É uma afirmação que sintetiza a maneira como Alok encara polêmicas. Envolto numa batalha judicial sob a denúncia de não creditar nem pagar os supostos autores dos hits que o alçaram ao estrelato, o DJ nega as acusações, mas prefere não comentá-las, porque correm em sigilo.

Ele também nunca declarou apoio nem criticou nenhum político, nem mesmo Jair Bolsonaro, que é a favor do marco temporal e defende a mineração nas proximidades dos territórios indígenas não demarcados. Isso porque prefere estimular o público a refletir por conta, diz.

“Eu mesmo tinha este olhar sobre os indígenas 15 anos atrás. A gente pensa que, para crescer economicamente, precisa desmatar”, diz. “Juro que tento acreditar que o preconceito é por falta de conhecimento. Ele vem de pessoas queridas, inclusive da minha família, que são ignorantes. São essas pessoas que eu quero conscientizar.”

| IDNews® | Folhapress | Via NMBR |Brasil

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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