Milton Nascimento dá início à despedida dos palcos com show à altura de sua estrela
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Como esperado, foi um início de adeus épico digno de um patrimônio incontestável da música.
Desde que anunciou sua despedida dos palcos, no mês passado, Milton Nascimento causou um alvoroço entre os fãs, levando mais de cem mil pessoas a uma fila digital para garantir um ingresso.
Para a primeira das 18 apresentações da turnê internacional “A Última Sessão de Música”, o alvoroço foi ainda maior. Com ingressos esgotados, Bituca levantou a plateia –ainda meio atônita com a notícia– ao introduzir “Para Lennon e McCartney”, sétima do repertório do show realizado na noite de sábado (11), na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, sua cidade natal.
Mas este foi apenas o começo das muitas reações da noite. Em grande estilo e com direito a uma troca de figurino na frente do público, a “avant-première” foi restrita a amigos, artistas e 800 afortunados que conseguiram adquirir o NFT (sigla para token não-fungível) Ticket Pass. Como esperado, foi um início de adeus épico digno de um patrimônio incontestável da música.
Por quase duas horas em cima do palco, interpretando sentado um setlist de 27 músicas, Milton Nascimento se manteve fiel ao jazz, ao samba-jazz, à música sacra e às trilhas das “Geraes”– inclusive o barulho do trem que atravessa toda a obra do compositor–, além do rock feito na época de apogeu dos Beatles. Bastava um olhar atento, aliás, para observar outra fidelidade do artista, os gestos inquietos com a mão esquerda.
O dono de sucessos como “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor” e “Mais Bonito Não Há” foi direto ao ponto ao relembrar momentos marcantes de sua trajetória. Entenda por isso “Encontros e Despedidas”, “Ponta de Areia”, “Cio da Terra”, “Nos Bailes da Vida” e a obrigatória “Travessia”, feita com Fernando Brant, que impulsionou a gravação do álbum de estreia do artista, em 1967.
Mas por que Milton Nascimento decidiu que chegou a hora de se despedir dos palcos? “Viver este momento depois de 60 anos de carreira é a prova de que os sonhos não envelhecem”, disse Bituca, evitando palavras de despedida.
E a performance seguiu no maior alto astral –o clima de fim ficou restrito à entrada da sala de espetáculos, onde alguns fãs choravam ao ver um mural com fotos, documentos, reportagens e registros da carreira do músico. Entusiasmado, o público cantou junto e bateu palma durante a maior parte da apresentação.
No palco, chamou a atenção um jovem bem magro à esquerda de Bituca. Seu nome é José Ibarra, carioca de apenas 25 anos, vocalista, tecladista e um dos compositores da banda Dônica, que conta também com Lucas Nunes (guitarra), Miguel Guimarães (baixo) e Tom Veloso (composições e violão) –o último, filho de Caetano e Paula Lavigne.
“Tem muita gente nova fazendo coisas incríveis na música”, afirmou Milton antes de cantar “Nos Bailes da Vida”.
Apesar de carioca, foi em Minas que Bituca encontrou a música. Essa Minas das montanhas permeia uma parte importante do show (“Geraes”), assim como as tradições mineiras (“Cálix Bento”).
Desde os 13 anos que Milton Nascimento solta a voz nas estradas. Nesta turnê, ele celebra também seus 80 anos de vida, completados em 26 de outubro.
Um detalhe sobre a arte dos tokens. Trata-se de um desenho feito à mão por Milton ainda na infância, chamado de “Serra de Três Pontas”, imagem icônica que estampou a capa de “Geraes”, de 1976.
Milton Nascimento também trouxe à cena artistas renomados que o ajudaram, como Tom Jobim, Elis Regina (que ele descreveu como “o grande amor da minha vida”), Agostinho dos Santos, Quincy Jones e Eumir Deodato, além de parcerias que entraram para a história, como aquelas com Herbie Hancock e Wayne Shorter, além dos bons e velhos amigos Lô Borges e os outros mineiros do Clube da Esquina.
Ficou de fora a primeira canção gravada profissionalmente por Milton, “Barulho De Trem”, de 1962, um ano antes de ele partir para Belo Horizonte, onde, antes de descobrir a música, pretendia estudar Economia. Mas de resto, está tudo ali.
A demora para a volta depois da última música deixou um suspense e uma dúvida no ar: seria mesmo aquela a última sessão de música?
Após 43 discos gravados, cinco prêmios Grammy e o título de Doutor Honoris Causa em música pela Universidade de Berklee, em Boston, Milton– que hoje mora em Juiz de Fora– se prepara agora para cantar seus maiores sucessos por outras cidades do Brasil e também na Europa –Itália, Inglaterra, Portugal e Suíça– e nos Estados Unidos.
Na semana seguinte ao aviso da despedida dos palcos, Bituca anunciou mais quatro shows em São Paulo, no Espaço Unimed, somando seis no total, no dias 26, 27, 28 e 29 de agosto e 1º e 2 de setembro.
Segundo a produção do artista, já foram vendidos mais de 100 mil tickets para os shows no Brasil. Bituca ainda fará duas apresentações no Rio de Janeiro, nos dias 6 e 7 de agosto na Jeunesse Arena, e uma em Belo Horizonte, em 13 de novembro, no Mineirão, onde, ao que tudo indica, encerrará a turnê.
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