Padrinho de Flávio Bolsonaro usa verba pública para passar finais de semana no Rio
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O secretário do governo de Jair Bolsonaro (PL) já fez quase 100 viagens adquiridas pelo governo junto a empresas aéreas desde que assumiu o cargo, em fevereiro de 2020, sendo que, em quase todas elas, não há registro de atividade pública exercida.
Padrinho de casamento de Flávio Bolsonaro (PL) e indicado ao cargo pela relação com o filho mais velho do presidente da República, o secretário nacional do Esporte, Marcelo Reis Magalhães, usa verba pública para passar feriados e finais de semana no Rio de Janeiro, onde tem casa.
O secretário do governo de Jair Bolsonaro (PL) já fez quase 100 viagens adquiridas pelo governo junto a empresas aéreas desde que assumiu o cargo, em fevereiro de 2020, sendo que, em quase todas elas, não há registro de atividade pública exercida.
Em mais da metade, os deslocamentos lhe proporcionaram passar finais de semana (completos ou parciais) ou feriadões no estado onde morava antes de assumir o cargo em Brasília.
O secretário foi nomeado para a função no lugar do general Décio Brasil, que à época disse ao jornal Folha de S.Paulo acreditar que havia sido exonerado por ter resistido a atender ao pedido de Bolsonaro de nomear o padrinho de Flávio para sua equipe.
“Talvez isso tenha desagradado o presidente, porque a minha exoneração já foi junto com a nomeação dele para o meu lugar”, disse o general, dias após perder o cargo.
Marcelo Magalhães fez 98 viagens custeadas com verba pública, de acordo com o Sistema de Concessão de Diárias e Passagens do Ministério da Economia. Desse total, 94 foram para o Rio. Das idas para a capital fluminense, 56 vezes – ou seja, mais da metade– coincidiram com finais de semana ou feriadões.
De acordo com os dados públicos, já foram gastos R$ 332 mil com as viagens de Magalhães, sendo R$ 56 mil só com diárias para a cidade onde ele tem residência fixa.
O levantamento não inclui possíveis voos que o secretário tenha feito com aviões da FAB. Os passageiros desses voos só são divulgados mediante um pedido de LAI (Lei de Acesso à Informação).
Além disso, é possível que o secretário tenha utilizado outro meio de transporte para viajar a trabalho a outros destinos. Caso alguma dessas alternativas tenha acontecido, porém, o evento não foi informado na agenda pública de Magalhães.
O Ministério da Cidadania, pasta à qual a secretaria de Esporte é subordinada, disse que o Parque Olímpico da Barra é o principal motivo das viagens ao Rio.
“A gestão do Parque ficou sem servidor oficialmente designado até a criação do Departamento de Gestão de Instalações Esportivas, em março de 2022, quando foi possível designar cinco servidores para atuarem exclusivamente na gestão do parque. Ou seja, com um quantitativo tão baixo de servidores, foi necessária a atuação próxima do secretário especial in loco”, afirmou a pasta à reportagem.
Magalhães assumiu o cargo pouco depois da chegada de Onyx Lorenzoni (PL) ao Ministério da Cidadania. O então ministro é hoje o candidato de Bolsonaro ao Governo do Rio Grande do Sul.
Ainda de acordo com o Ministério da Cidadania, as idas de Marcelo Magalhães ao Rio proporcionaram tratativas com diversas entidades e empresas relativas à destinação final do parque olímpico. “Trata-se de tarefa árdua, estratégica, que o secretário especial deve conduzir de perto”, disse o ministério.
“A gestão do Parque Olímpico e o fato de o Departamento de Gestão de Instalações Esportivas da Secretaria Especial do Esporte ser sediado na cidade do Rio de Janeiro já justificariam a emissão das passagens”, prosseguiu a pasta, afirmando também que “inúmeras vezes foi emitido um único trecho com recurso público, tendo sido o outro custeado pelo próprio secretário, com recursos próprios”.
O decreto que regulamenta as viagens a trabalho no Ministério da Cidadania estabelece ser necessário justificar a viagem, fazendo menção expressa a que isso ocorra caso os compromissos públicos incluam finais de semana ou feriados.
“As solicitações de deslocamentos que se iniciarem em sextas-feiras, bem como as que incluam sábados, domingos e feriados, deverão ser expressamente justificadas, realizando-se com estrita finalidade pública”, afirma a norma.
A agenda pública de Magalhães raramente traz indicações dos motivos das viagens. Do total de 98 viagens declaradas como tendo sido a trabalho, 82 não têm nenhuma atividade informada na agenda.
Nas demais, o motivo da viagem é quase sempre o comparecimento a algum evento esportivo no Rio de Janeiro. O secretário já foi para um campeonato de tênis na cidade, dois campeonatos de boxe, o Pan-Americano de ginástica artística e rítmica e um festival de surfe em Saquarema (RJ).
A diversidade esportiva não se reflete nos destinos. Sua agenda oficial não registra o comparecimento do secretário em algum campeonato esportivo em outro estado.
De acordo com o currículo disponibilizado pelo padrinho de Flávio no site do Ministério da Cidadania, Magalhães é nascido e formado em jornalismo no Rio, cidade onde “acumulou mais de 15 anos de experiência no setor esportivo, como consultor, gestor de carreiras, captador de patrocínios e produtor de conteúdos voltados para múltiplas plataformas midiáticas”.
Antes de assumir o posto como secretário, ele chefiou o Escritório de Governança do Legado Olímpico no Rio de Janeiro. A entidade é “responsável pela gestão de estruturas esportivas que ficaram como legado dos Jogos Rio 2016, em especial no Parque Olímpico da Barra”.
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