Scholz supera trancos após 1 ano no poder, mas vê ministros mais populares
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Segundo levantamento realizado entre 28 e 30 de novembro pela Infratest Dimap, para a emissora ARD, Scholz é aprovado por 36%, cifra que pouco oscilou desde setembro, mas que, logo após a guerra, era 20 pontos percentuais mais alta.
Ninguém disse que seria fácil assumir a Alemanha no lugar da então bem-avaliada Angela Merkel apoiado em uma coalizão de três partidos com, literalmente, cores diversas. Como se não bastasse, o premiê Olaf Scholz ainda precisou mudar de planos menos de três meses após sua posse.
Mas prestes a completar um ano no cargo, na quinta (8), Scholz pode responder que, apesar de tudo, está entregando o que nem era esperado dele, mesmo tendo apostado mais na continuidade do que na ruptura.
A Guerra da Ucrânia, em fevereiro, ofuscou as emergências de então, como a pandemia e a crise climática, e levou para o topo de prioridades a reversão da dependência energética da Alemanha em relação à Rússia e a manutenção da unidade na Europa. Internamente, forçou o realinhamento de posições do seu partido, o social-democrata SPD, e frustrou intenções dos Verdes, a segunda maior força do governo.
Scholz tem alguns resultados para chamar de seus. Se em 2021 a Alemanha importava dos russos mais da metade de todo o seu gás, essa quantidade já tinha caído para cerca de 25% até junho. Para cumprir a meta de zerar todas as compras de energia da Rússia até 2024 sem comprometer o andamento da quarta maior economia do mundo -a primeira na Europa-, o governo corre para reorganizar seu abastecimento.
Nesta semana, um acordo de 15 anos foi fechado com o Qatar para fornecimento de gás natural liquefeito (GNL). Pouco antes, foi concluída, em 200 dias, a construção do primeiro terminal alemão de importação de GNL. Nos últimos dias, índices como o PIB do terceiro trimestre (0,4%) e uma possível estabilização da inflação (11,3%) levantaram o otimismo de que o impacto da guerra possa ser menos dramático.
Na área política, sua coalizão semáforo, em alusão às cores dos partidos do governo -o vermelho SPD, o amarelo FDP e os Verdes-, continua viva, apesar de trancos. Ao fazer parte sem hesitação da resposta da UE contra a Rússia, Scholz teve de diluir sentimentos pró-Moscou que historicamente habitam seu partido e fazer os Verdes, pacifistas, engolirem a criação de um fundo com EUR 100 bilhões para despesas militares.
Um dos maiores enroscos foi em relação às usinas nucleares. No fim deste ano, as três remanescentes deveriam ser desativadas, seguindo decisão de Merkel, em 2011, mas seu funcionamento foi prorrogado até abril. Para pôr fim a semanas de debates, com os Verdes contrários ao adiamento, e os liberais do FDP, a favor, Scholz impôs a decisão, por meio de uma prerrogativa de poder que não era usada desde 1956.
“Se olharmos para o ano que passou, Scholz está se saindo bem. Um dos grandes desafios é administrar os Verdes e o FDP, que demarcaram seus limites e perderam terreno comum. Em termos de comunicação, Scholz poderia fazer melhor, mas, em resultados, ele tem sido bem-sucedido”, afirma Andrea Römmele, professora de Comunicação em Política e Sociedade Civil da Universidade Hertie School, em Berlim.
Os problemas de comunicação são observados, desde o início, como uma das fraquezas do premiê, visto como excessivamente discreto e hesitante. Em contraposição, seus principais ministros costumam estar em evidência e disponíveis para comentar decisões. A divisão de tarefas se reflete em pesquisas.
Segundo levantamento realizado entre 28 e 30 de novembro pela Infratest Dimap, para a emissora ARD, Scholz é aprovado por 36%, cifra que pouco oscilou desde setembro, mas que, logo após a guerra, era 20 pontos percentuais mais alta. À sua frente estão os dois rostos mais populares dos Verdes, Annalena Baerbock (Relações Exteriores), com 48%, e seu colega Robert Habeck (Economia e Clima), com 41%.
Para Roderick Parkes, chefe do programa Europa do Conselho Alemão de Relações Exteriores, as realizações e o estilo de liderança de Scholz até aqui representam mais uma continuidade do que uma ruptura com Merkel, do CDU (democrata cristão), que terminou o governo com 69% de aprovação.
“Alguém me perguntou qual seria a diferença se Merkel ainda estivesse no poder. Mas ela ainda está no poder. Não só porque Scholz foi parte do governo anterior e o SPD comandou as Relações Exteriores. Nem porque Merkel acatou políticas do SPD. Mas porque ele realmente se modela nela”, disse ele à Folha.
Como exemplo, cita duas grandes marcas de Scholz -os EUR 100 bilhões de euros para rearmamento e o pacote de EUR 200 bilhões para aliviar os efeitos da crise energética em lares e empresas. Após períodos de hesitação, duas medidas estrondosas tanto dentro quanto fora do país. “Isso é como a Merkel: evitar a mudança até que ela se torne completamente inevitável. E aí, dar uma enorme virada”, diz Parkes.
Também na gestão da coalizão há sinais de continuidade, o que rendeu ao premiê o apelido de “Olaf Merkel”. “Assim como ela, Scholz deixa todos discutirem até que só reste uma opção. Aí ele vai em frente.”
Parkes aponta uma diferença, porém. Enquanto a ex-primeira-ministra continua a defender seu legado, inclusive em relação a Vladimir Putin e a decisões na área energética que se mostraram equivocadas nos últimos meses, Scholz tem abordagem mais realista, retomando declarações passadas, da época em que foi prefeito de Hamburgo (2011-2018), quando já defendia menor dependência da energia russa.
Nas últimas semanas, o silêncio de Merkel foi interrompido por entrevistas em que, além de não fazer mea-culpa, ela afirma que, como estava de saída do cargo, havia perdido “o poder de persuadir os outros porque todos sabiam que ‘ela iria embora'”, sobre uma tentativa de conversas com Putin no ano passado.
“Se ela defende seus feitos, Scholz tem sido sábio em relação aos fatos. Mas segue cometendo os mesmos erros que ela”, diz Parkes. Além do novo acordo com o Qatar, país com histórico de violação de direitos humanos, pesa contra ele as relações com a China, maior parceiro comercial da Alemanha. Em novembro, a viagem do premiê a Pequim foi alvo de críticas internas -parte do programa de Baerbock é fazer uma política externa feminista, baseada em direitos humanos- e gerou mal-estar na União Europeia.
Um deles foi com Emmanuel Macron, líder da França, com quem Scholz ainda não conseguiu atingir a sintonia que o francês cultivou com Merkel, algo visto como vital para o bom andamento do bloco. Macron chegou a propor que eles fossem juntos à China, mas Scholz acabou indo na companhia de empresários.
A lista de desencontros, que inclui o pacote bilionário para a crise energética, não combinado com os demais países da UE, e questões ligadas a defesa, motivou o adiamento de uma reunião dos dois líderes e seus ministros de outubro para, talvez, janeiro. “Para a UE se manter unida, é preciso haver uma relação próxima entre Macron e Scholz. Eles sabem que é fundamental. Existem dificuldades, mas Scholz está só há um ano no governo. É provavelmente uma questão de química pessoal”, diz a professora Römmele.
Para Parkes, do Conselho Alemão de Relações Exteriores, a busca por afinamento é uma prioridade para o ano que vem, de olho nos acontecimentos previstos para 2024, como a eleição presidencial dos EUA e no Parlamento Europeu. “Quando França e Alemanha discordam, isso envenena as relações europeias, e Estados que temem ser dominados por eles, como Reino Unido, Itália e Espanha, exploram a situação.”
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