Enfermeira diz à PF que emprestou senha para chefe excluir registros de vacina de Bolsonaro
Warning: Trying to access array offset on value of type bool in /usr/storage/domains/i/idnews.com.br/www/wp-content/plugins/wp-social-sharing/includes/class-public.php on line 81
Ela afirmou aos investigadores da suposta fraude no sistema de vacinação ter sido procurada pelo secretário João Brecha na data da exclusão, mas relatou não ter recebido os CPFs dos excluídos sob a justificativa de não “envolvê-la em problemas, uma vez que se tratavam de pessoas relevantes e conhecidas”.
BRASIL, Bolsonaro e o caso da vacina misteriosa
Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, chefe da central de vacinação de Duque de Caxias (RJ), disse em depoimento à Polícia Federal ter emprestado sua senha para o secretário de Governo do município apagar os registros de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ela afirmou aos investigadores da suposta fraude no sistema de vacinação ter sido procurada pelo secretário João Brecha na data da exclusão, mas relatou não ter recebido os CPFs dos excluídos sob a justificativa de não “envolvê-la em problemas, uma vez que se tratavam de pessoas relevantes e conhecidas”.
Cláudia foi um dos alvos no último dia 3 de maio da operação Venire, que fez busca na residência de Bolsonaro e prendeu alguns de seus principais assessores, como o tenente-coronel Mauro Cid, ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência da República.
Ao falar do motivo do empréstimo da senha pessoal do sistema de vacinação, ela justificou não ter visto “qualquer má fé” no pedido do secretário e disse ter acreditado que as exclusões seriam “idôneas”.
As exclusões foram registradas em 27 de dezembro pelo usuário em nome de Cláudia Rodrigues e estão entre as informações levantadas pela PF na investigação de fraude ao sistema do Ministério da Saúde para emissão do certificado de vacinação de Covid a ser utilizado na viagem para os Estados Unidos por Bolsonaro e seus assessores.
Cláudia foi procurada, mas não retornou o contato. A Prefeitura de Duque de Caxias informou que, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, instaurou uma sindicância no último dia 4 para apurar os fatos e responsabilidades acerca das circunstâncias supostamente ocorridas no âmbito municipal.
De acordo com a investigação da PF, foi inserido no sistema como se Bolsonaro tivesse tomado duas doses de vacina contra Covid, a primeira em 13 de agosto e a segunda em 14 de outubro.
A inserção desse registro retroativo de vacinação na rede do Ministério da Saúde, porém, só ocorreu em 21 de dezembro, pouco antes de o então presidente viajar para os EUA.
No dia seguinte, em 22 de dezembro, o certificado de vacinação de Bolsonaro foi emitido de dentro do Palácio do Planalto.
Dias depois, em 27 de dezembro, novamente houve uma emissão de certificado e, em seguida, o usuário em nome da chefe de vacinação de Duque de Caxias apagou o registro do sistema com a justificativa de “erro”.
Para a PF, a “coerência lógica e temporal desde a inserção dos dados falsos” até a geração dos certificados indicam que Bolsonaro e Mauro Cid, seu ajudante de ordens, “tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos dados de vacinação”.
Embora no registro no sistema de vacinação conste que a exclusão das vacinas atreladas a Bolsonaro se deu por erro, a PF afirma no pedido de busca contra Bolsonaro que isso foi feito para “dificultar a identificação do proveito do crime de inserção dos dados falsos no sistema”.
A chefe de vacinação do município fluminense também foi questionada pelos investigadores sobre a inserção das vacinas em nome de Bolsonaro no sistema.
No inquérito da PF, os registros de inserções estão em nome do próprio secretário de Governo, João Brecha. Cláudia Rodrigues disse desconhecer os fatos e afirmou não ter contato com políticos.
Em relação às inserções de registros de vacinação para Mauro Cid e seus familiares, ela afirmou não ter informações da presença deles na cidade e de como as inclusões foram feitas.
Outro tema abordado pela PF foi sua relação com o secretário João Brecha. Cláudia disse não conhecê-lo pessoalmente e que o pedido para ajudá-lo com o acesso ao sistema de vacinação foi feito por sua chefe, a secretária de Saúde, Célia Serrano.
Só após a solicitação de sua superior, disse ela, os dois começaram a se falar pelo WhatsApp.
Na representação em que pediu as buscas contra Bolsonaro, a PF detalha minuto a minuto como foram as alterações no sistema e a emissão do cartão de vacinação em nome do ex-presidente.
As inserções, emissão dos certificados e posterior exclusão dos registros, para a PF, configuram a existência de crime.
“Tais condutas, contextualizadas com os elementos informativos apresentados, indicam que as inserções falsas podem ter sido realizadas com o objetivo de gerar vantagem indevida para o ex-presidente da República Jair Bolsonaro relacionada a fatos e situações que necessitem de comprovante de vacinação contra a Covid-19”, diz a PF.
A Procuradoria-Geral da República foi contra as buscas solicitadas pela PF e afirmou que Mauro Cid “teria arquitetado e capitaneado toda a ação criminosa” à revelia do ex-presidente.
“Não há lastro indiciário mínimo para sustentar o envolvimento do ex-presidente da República Jair Bolsonaro com os atos executórios de inserção de dados falsos referentes à vacinação nos sistemas do Ministério da Saúde e com o possível uso de documentos ideologicamente falsos”, diz manifestação assinada por Lindôra Araújo.
Moraes discordou da PGR sobre a tese de que Cid atuou sozinho e concedeu as buscas.
“Não há qualquer indicação nos autos que conceda credibilidade à versão de que o ajudante de ordens do ex-presidente da República Jair Bolsonaro pudesse ter comandado relevante operação criminosa, destinada diretamente ao então mandatário e sua filha L. F. B., sem, no mínimo, conhecimento e aquiescência daquele, circunstância que somente poderá ser apurada mediante a realização da medida de busca e apreensão requerida pela autoridade policial”, afirmou o ministro.Veja o minuto a minuto da suposta fraude no registro de vacinação de Bolsonaro:
21/12/2022 às 19h
O secretário de Governo de Duque de Caxias, João Carlos Brecha, inseriu os dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em nome do ex-presidente Jair Bolsonaro
22/12/2022 às 07h59
O usuário associado ao ex-presidente, utilizando o endereço de IP cadastrado no Palácio do Planalto, acessou o aplicativo ConecteSUS
22/12/2022 às 8h
O usuário emite o certificado de vacinação contra a Covid-19 contendo o registro de três doses de vacina, sendo duas da fabricante Pfizer, tomadas no município de Duque de Caxias
22/12/2022 às 8h20
Ocorre a alteração cadastral no “Gov.br” do então presidente, passando a ter o email de Marcelo Câmara, nomeado assessor para acompanhar Jair Bolsonaro, na condição de ex-presidente da República
27/12/2022 às 14h19
O usuário do ex-presidente da República, utilizando o endereço de IP cadastrado no Palácio do Planalto, acessou o aplicativo ConecteSUS
27/12/2022 às 14h19min44seg
Usuário emitiu novamente o certificado de vacinação contra a Covid-19 contendo o registro das mesmas vacinas
27/12/2022 às 20h59
Após a geração desse segundo certificado, os registros das vacinas da fabricante Pfizer em nome de Bolsonaro foram excluídos do sistema do Ministério da Saúde
Segundo a PF, quem apagou os registros foram a operadora Claudia Acosta da Silva, sob a justificativa de ‘erro’
30/12/2022 às 12h02
O usuário associado ao ex-presidente usou endereço de IP vinculado ao terminal telefônico em nome de Mauro Cid para acessar o aplicativo ConecteSUS
30/12/2022 às 12h02min24seg
O usuário atrelado a Bolsonaro emitiu um novo certificado de vacinação contra a Covid19, agora contendo apenas o registro da vacina da fabricante Janssen, pois as demais já haviam sido excluídas.
Por volta das 14h
Cerca de duas horas após a emissão do certificado, Mauro Cid e Jair Bolsonaro viajaram de Brasília para a cidade de Orlando, nos Estados Unidos. O voo da Força Aérea brasileira decolou por volta das 14h.
|IDNews® | Folhapress | Beto Fortunato |Via NBR | Brasil