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Mercado da moda se articula e traça metas para nova revolução


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Mercado da moda se articula e traça metas para nova revolução
De acordo com estudo apresentado no mês passado, jovens não têm tempo, querem roupas exclusivas e com preço justo

07MAI2017| 9h01 - Moda

Pensar a moda do futuro é tão complexo que nenhuma grife imagina um cenário sem cair no exercício vão da especulação. É consensual, porém, a necessidade de que a cadeia da moda entre em um novo ciclo de criação, produção e distribuição que mitigue perdas de faturamento.

A quarta revolução industrial, conceito que conecta processos internos pelo ciberespaço e, na moda, dá ao consumidor o poder de escolher o produto à sua maneira, virou centro dos investimentos das maiores empresas da área no mundo.

Em encontros com empresários na França e na Inglaterra, a reportagem foi em busca do que é palpável dentro de um futuro próximo. A desmaterialização da fábrica, com menos pessoas e mais programas de computador e máquinas automatizadas, a personalização dos produtos de luxo, o distanciamento entre vendedor e comprador e a rapidez na entrega são os eixos da nova “revolução” até 2025.

O ano, segundo Claudia d’Arpizio, da consultoria italiana Bain & Company, coincide com a chegada da juventude “millennial”, nascida entre 1980 e 2000, no topo do consumo dos bens de luxo no mundo. São eles que estão mexendo com as estratégias de médio prazo das grifes.

Cerca de 40% dos produtos serão comprados por esses cerca de 2,2 bilhões de pessoas. De acordo com estudo apresentado no mês passado, em encontro com a indústria organizado pela loja on-line Farfetch, em Londres, esses jovens não têm tempo, querem roupas exclusivas e com preço justo e, principalmente, não aceitam marcas que não respeitem suas ideologias.

FÁBRICA 4.0

O início dessa mudança começa no chão de fábrica. A francesa Lectra, líder no desenvolvimento de softwares e maquinário para grifes, com clientes que vão da varejista sueca H&M até o grupo LVMH, da Louis Vuitton, anunciou que colocará sua plataforma de desenvolvimento de coleções na nuvem, uma das ações do planejamento para entrar de vez na indústria 4.0.

A partir de uma assinatura mensal, marcas poderão fazer o sistema de confecção, que envolve planilhas, custos e dimensões de corte, por exemplo, chegar a todas as equipes, do estilista ao terceirizado. A ideia é que toda a cadeia esteja reunida num canal de comunicação que erradique erros de produção, diminua desperdícios de matéria-prima e, principalmente, acelere a produção.

Uma nova família de máquinas, por exemplo, identifica falhas no couro, principal matéria-prima das grifes de luxo, e automatiza o corte. “Não sabemos quase nada sobre a revolução 4.0, mas, se não houver pelo menos 2% de investimento do lucro em novas tecnologias, as empresas vão ficar para trás. É uma mudança sistemática de dez anos para ser adotada e, enquanto isso, temos de reunir o máximo de informações sobre as necessidades do consumidor”, diz o presidente da Lectra, Daniel Herari.

Ele se refere ao novo ouro das grifes de moda, o “data”, ou seja, as informações sobre os hábitos de cada consumidor a partir dos seus acessos na internet. A gigante Google é o maior banco dessas informações e capitaliza com as empresas que investem em propaganda direcionada.

Não à toa a companhia contratou Maria McClay, ex-especialista em inovação da grife Gucci, para dirigir seu núcleo de inteligência de moda, que tem a responsabilidade de entender a nova cara do consumo e criar novidades a partir dessas informações. Em parceria com a grife Levi’s, por exemplo, a empresa está desenvolvendo o primeiro jeans “touchscreen”, ainda em fase de testes.

“O grande desafio é entender o que fazer com as informações sobre os clientes. Sabemos o que eles querem, quem são e onde consomem, a questão é como chegar neles de forma efetiva”, diz McClay.

LOJA DO FUTURO

Uma das formas de aproximação já foi posta em prática. A Farfetch desenvolveu e apresentou à imprensa o protótipo de loja conectada, na qual inexiste o contato com o vendedor, a não ser em caso de dúvidas do cliente.

O projeto deve ser posto em prática neste ano na multimarcas Browns, em Londres, e na loja do estilista Thom Browne, em Nova York. A partir de dados sobre os gostos pessoais dos clientes, totens exibem digitalmente sugestões de roupas no estoque, e o cliente escolhe o que quer provar.

Já no provador, ele recebe a roupa e uma tela exibe possíveis combinações com outros produtos. Todos os pagamentos são feitos digitalmente. A pessoa entra com o smartphone na loja, toda espelhada, e faz “check-in”. Seu histórico de compras aparece em uma tela. O aplicativo mostra as novidades.

Numa estrutura, vários sapatos estão ao lado de outra tela “touch”, na qual é possível personalizar o acessório.A loja do futuro da varejista on-line Farfetch entrega o produto na hora, se o tiver em estoque, ou em qualquer lugar do globo onde, dias depois, o cliente esteja.

Apresentado em Londres como a “nova revolução do consumo de moda”, o projeto integra o mundo físico e “on-line”.Maior e-commerce de luxo do mundo, com 2.000 marcas em sua plataforma, a Farfetch tem planos de expandir essa loja conectada já nos próximos anos, e, neste ainda, começar a testá-la nos EUA e no Reino Unido com a grife Thom Browne e a multimarcas Browns, respectivamente.

O serviço de personalização, por enquanto, está restrito à grife do designer inglês Nicholas Kirkwood, mas a empresa já desenvolve um aplicativo para reunir marcas que ofereçam produtos personalizáveis. Agrados ao cliente também são apostas da marca alemã Adidas, que lançou em Berlim uma loja temporária que oferece casacos personalizados ao gosto do cliente.

As medidas são tiradas por um escâner que envia as informações para uma máquina, programada para finalizar o produto em poucas horas. A marca esportiva também colocou à venda os primeiros sapatos com solados impressos em máquinas 3D. “As grifes precisam unir os mundos digital e físico para serem competitivas. Sinto os empresários entusiasmados com o modelo de loja do futuro porque ela oferece uma experiência que não deixa de ser de luxo e, ao mesmo tempo, minimiza custos operacionais”, explica o CEO da Farfetch, o português radicado em Londres José Neves.

No mês passado, durante conferência organizada para empresários de moda, em Londres, ele também elevou o conceito de velocidade para as lojas on-line.Por meio de uma parceria com a Gucci, o cliente de seis metrópoles, incluindo São Paulo, recebe em até 90 minutos o produto da grife comprado no site da Farfetch. A intenção de Neves é equacionar uma solução para que o prazo se reduza a meia hora.

“Já estamos negociando com outras marcas para que, no próximo ano, possamos oferecer o mesmo serviço aos clientes dessas grifes”, diz. O executivo foi pioneiro no serviço de “luxo expresso” com uma empresa que, em menos de uma década, já é avaliada em US$ 1 bilhão.

O modelo de negócio consiste em concentrar na plataforma on-line o estoque de multimarcas espalhadas pelo mundo e, por meio de um “hub” geograficamente privilegiado, em Portugal, conseguir entregar peças num curto espaço de tempo. No auge da crise, em 2009, o negócio salvou da bancarrota várias lojas do interior europeu, principalmente italianas.

Para os clientes brasileiros, o site virou opção para a baixa oferta de marcas estrangeiras no país.No ano passado, o negócio de Neves gerou, só no Brasil, R$ 100 milhões. Ele quer encerrar 2017 com faturamento de R$ 155 milhões. “Vivemos num mundo em que o Uber e a Amazon estão criando hábitos de luxo nos consumidores. Ninguém sai do restaurante para pegar um táxi ou espera dias para um produto chegar em casa. O tempo das pessoas não comporta experiências demoradas”, diz ele.

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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