‘Não achamos que fake news seriam tão importantes’, diz jornalista
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‘Não achamos que fake news seriam tão importantes’, diz jornalista
Alerta para brasileiros não repetirem equívocos que transformaram a disputa entre Hillary Clinton e Donald Trump em embate de muitas agressões e poucas ideias
12NOV2017| 7:30 - Folhapress - Foto: Reprodução/Faceook
Menosprezar o impacto que as “fake news” -notícias falsas, geralmente criadas com objetivo político ou financeiro- poderiam ter nas eleições foi um erro que jornalistas, eleitores e políticos dos EUA cometeram na campanha presidencial de 2016.
Repórter no time que ganhou o Prêmio Pulitzer de 2009 pela checagem de fatos nas eleições americanas do ano anterior, Holan diz que seu trabalho de atestar a veracidade das declarações de políticos tornou-se mais relevante sob o governo de um presidente com pouco apreço pela verdade.
Ela conversou no Rio, onde participa, neste domingo (12), do Festival 3i – Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente, criado por oito organizações de jornalismo on-line e pelo Google News Lab.
Em sua mesa (“Polarização e Eleições”), a americana vai discutir a importância de fazer bom jornalismo e checagem de fatos numa época de divisão política radical e de ânimos exaltados.
Pergunta – O Brasil deve ter uma campanha eleitoral tumultuada em 2018. O que a última eleição americana pode nos ensinar?
Angie Holan – Para jornalistas, diria que devem tratar as “fake news” com seriedade. Deveríamos ter feito mais checagem de fatos em cima dessas notícias falsas durante a eleição, mas não achamos que fossem ser um fator tão importante quanto foram.Nos EUA, os candidatos não queriam discutir os grandes temas, mas se atacar: Hillary atacava a falta de preparo de Trump para o cargo, e Trump atacava Hillary e todos os demais por não fazerem um bom trabalho. Mas não eram acusações embasadas.
O público também tem a responsabilidade de estar bem informado. E os políticos têm as obrigações de sempre: divulgar suas posições, participar de debates. Há uma ideia de que, se os jornalistas fizessem seu trabalho melhor, as campanhas seriam melhores, mas não sei se é verdade. Às vezes, os políticos só querem apelar às emoções das pessoas, e não temos poder de ditar o tipo de campanha que eles devem fazer.
Como os leitores podem se blindar das notícias falsas?
Eles devem estar sempre desconfiados quando usam redes sociais, especialmente o Facebook. Se virem uma manchete surpreendente, do tipo “meu Deus, não acredito nisso”, devem checar, mesmo que tenha vindo de amigos ou da família. Se virem algo muito emocional ou virulento, ou que diz as piores coisas sobre um dos candidatos, têm a responsabilidade de checar, de ir mais fundo. Nas redes sociais, os títulos são os mais enganadores. Então sugiro ao público que seja muito cauteloso com os títulos e textos curtos que vê nas redes sociais. Leia mais reportagens aprofundadas.
O próprio termo “fake news” tem sido usado de forma deturpada, não?
Sim. Nós, checadores de fatos, definimos “fake news” como notícias inventadas que se passam por textos jornalísticos. Trump define como notícias de que ele não gosta. Ele frequentemente trata notícias de empresas jornalísticas de tradição, com procedimentos e práticas de reportagem, como “fake news”. Como jornalistas, precisamos reagir a isso, dizer que aquilo não é notícia falsa, mas reportagem de verdade, ainda que alguém não goste.
Se os políticos repetem mentiras seguidamente, precisamos corrigi-los repetidamente. Por exemplo, Trump vive repetindo que os EUA são o país com os impostos mais altos do mundo, e não somos.
Trump é um exemplo de político que usa as redes sociais para falar diretamente ao público, ignorando a imprensa. Isso enfraquece o jornalismo?
Todos os políticos têm o direito de falar diretamente com os eleitores, passando as mensagens como quiserem. O problema é que, ao mesmo tempo em que Trump usa o Twitter, ele evita as entrevistas coletivas da imprensa, que é quando os questionamentos sobre a Presidência são feitos. E temos problemas com sua porta-voz [Sarah Sanders] que, quando questionada sobre as imprecisões de Trump, diz que ele está certo, mesmo com evidência em contrário.
A mídia americana o critica mais do que fez com outros presidentes? Há exageros?
Para jornalistas profissionais, é muito importante que o princípio da verdade oriente suas reportagens. Trump diz coisas que são incorretas, repetidamente. Nunca saberemos se ele acha que o que diz é verdade, mas quando a imprensa busca reportar com precisão e ele diz coisas incorretas, isso cria muita tensão nessa relação. É por isso que ele tem uma relação tão antagônica com a imprensa. Dito isso, o presidente Barack Obama não amava a imprensa, tinha muitas reclamações e sua administração foi muito dura contra os “whistleblowers”, gente que trabalhava no governo e vazava [informações] para a imprensa.
Como o governo Trump afetou a vida dos jornalistas que fazem checagem de fatos?
Ele não mudou nosso trabalho, temos um método estabelecido para checagem: procuramos evidências, fontes originais, falamos com um amplo espectro de especialistas. A diferença é que o nível de imprecisão dele é maior do que o de outros políticos, então trabalhamos mais.
Qual a responsabilidade do Google e do Facebook na disseminação das “fake news”?
O Facebook foi surpreendido em 2016 pelo poder de suas ferramentas e por como elas podiam ser usadas por atores estrangeiros ou extremistas políticos. Tem tomado alguns passos para corrigir isso, mas é cedo para saber se vai funcionar. Nós [PolitiFact] temos uma parceria com o Facebook para fazer checagem de “fake news”, mas ainda é inicial.
O Google também tem levado em conta sua responsabilidade em promover um ambiente midiático responsável, tem tentado destacar organizações com histórico de bom jornalismo. Isso é animador.
Carreira
Mestre em jornalismo pela Universidade Columbia, é editora do Politifact, principal site americano de checagem de fatos em declarações de políticos. Foi repórter no time que ganhou o Prêmio Pulitzer de 2009 pelo trabalho de checagem de fatos nas eleições presidenciais de 2008 nos Estados Unidos. Com informações da Folhapress.
Menosprezar o impacto que as “fake news” -notícias falsas, geralmente criadas com objetivo político ou financeiro- poderiam ter nas eleições foi um erro que jornalistas, eleitores e políticos dos EUA cometeram na campanha presidencial de 2016.
Repórter no time que ganhou o Prêmio Pulitzer de 2009 pela checagem de fatos nas eleições americanas do ano anterior, Holan diz que seu trabalho de atestar a veracidade das declarações de políticos tornou-se mais relevante sob o governo de um presidente com pouco apreço pela verdade.
Ela conversou no Rio, onde participa, neste domingo (12), do Festival 3i – Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente, criado por oito organizações de jornalismo on-line e pelo Google News Lab.
Em sua mesa (“Polarização e Eleições”), a americana vai discutir a importância de fazer bom jornalismo e checagem de fatos numa época de divisão política radical e de ânimos exaltados.
Pergunta – O Brasil deve ter uma campanha eleitoral tumultuada em 2018. O que a última eleição americana pode nos ensinar?
Angie Holan – Para jornalistas, diria que devem tratar as “fake news” com seriedade. Deveríamos ter feito mais checagem de fatos em cima dessas notícias falsas durante a eleição, mas não achamos que fossem ser um fator tão importante quanto foram.Nos EUA, os candidatos não queriam discutir os grandes temas, mas se atacar: Hillary atacava a falta de preparo de Trump para o cargo, e Trump atacava Hillary e todos os demais por não fazerem um bom trabalho. Mas não eram acusações embasadas.
O público também tem a responsabilidade de estar bem informado. E os políticos têm as obrigações de sempre: divulgar suas posições, participar de debates. Há uma ideia de que, se os jornalistas fizessem seu trabalho melhor, as campanhas seriam melhores, mas não sei se é verdade. Às vezes, os políticos só querem apelar às emoções das pessoas, e não temos poder de ditar o tipo de campanha que eles devem fazer.
Como os leitores podem se blindar das notícias falsas?
Eles devem estar sempre desconfiados quando usam redes sociais, especialmente o Facebook. Se virem uma manchete surpreendente, do tipo “meu Deus, não acredito nisso”, devem checar, mesmo que tenha vindo de amigos ou da família. Se virem algo muito emocional ou virulento, ou que diz as piores coisas sobre um dos candidatos, têm a responsabilidade de checar, de ir mais fundo. Nas redes sociais, os títulos são os mais enganadores. Então sugiro ao público que seja muito cauteloso com os títulos e textos curtos que vê nas redes sociais. Leia mais reportagens aprofundadas.
O próprio termo “fake news” tem sido usado de forma deturpada, não?
Sim. Nós, checadores de fatos, definimos “fake news” como notícias inventadas que se passam por textos jornalísticos. Trump define como notícias de que ele não gosta. Ele frequentemente trata notícias de empresas jornalísticas de tradição, com procedimentos e práticas de reportagem, como “fake news”. Como jornalistas, precisamos reagir a isso, dizer que aquilo não é notícia falsa, mas reportagem de verdade, ainda que alguém não goste.
Se os políticos repetem mentiras seguidamente, precisamos corrigi-los repetidamente. Por exemplo, Trump vive repetindo que os EUA são o país com os impostos mais altos do mundo, e não somos.
Trump é um exemplo de político que usa as redes sociais para falar diretamente ao público, ignorando a imprensa. Isso enfraquece o jornalismo?
Todos os políticos têm o direito de falar diretamente com os eleitores, passando as mensagens como quiserem. O problema é que, ao mesmo tempo em que Trump usa o Twitter, ele evita as entrevistas coletivas da imprensa, que é quando os questionamentos sobre a Presidência são feitos. E temos problemas com sua porta-voz [Sarah Sanders] que, quando questionada sobre as imprecisões de Trump, diz que ele está certo, mesmo com evidência em contrário.
A mídia americana o critica mais do que fez com outros presidentes? Há exageros?
Para jornalistas profissionais, é muito importante que o princípio da verdade oriente suas reportagens. Trump diz coisas que são incorretas, repetidamente. Nunca saberemos se ele acha que o que diz é verdade, mas quando a imprensa busca reportar com precisão e ele diz coisas incorretas, isso cria muita tensão nessa relação. É por isso que ele tem uma relação tão antagônica com a imprensa. Dito isso, o presidente Barack Obama não amava a imprensa, tinha muitas reclamações e sua administração foi muito dura contra os “whistleblowers”, gente que trabalhava no governo e vazava [informações] para a imprensa.
Como o governo Trump afetou a vida dos jornalistas que fazem checagem de fatos?
Ele não mudou nosso trabalho, temos um método estabelecido para checagem: procuramos evidências, fontes originais, falamos com um amplo espectro de especialistas. A diferença é que o nível de imprecisão dele é maior do que o de outros políticos, então trabalhamos mais.
Qual a responsabilidade do Google e do Facebook na disseminação das “fake news”?
O Facebook foi surpreendido em 2016 pelo poder de suas ferramentas e por como elas podiam ser usadas por atores estrangeiros ou extremistas políticos. Tem tomado alguns passos para corrigir isso, mas é cedo para saber se vai funcionar. Nós [PolitiFact] temos uma parceria com o Facebook para fazer checagem de “fake news”, mas ainda é inicial.
O Google também tem levado em conta sua responsabilidade em promover um ambiente midiático responsável, tem tentado destacar organizações com histórico de bom jornalismo. Isso é animador.
Carreira
Mestre em jornalismo pela Universidade Columbia, é editora do Politifact, principal site americano de checagem de fatos em declarações de políticos. Foi repórter no time que ganhou o Prêmio Pulitzer de 2009 pelo trabalho de checagem de fatos nas eleições presidenciais de 2008 nos Estados Unidos. Com informações da Folhapress.