Carnaval de rua cresce, e mancha ocupada por blocos se esparrama por SP
Warning: Trying to access array offset on value of type bool in /usr/storage/domains/i/idnews.com.br/www/wp-content/plugins/wp-social-sharing/includes/class-public.php on line 81
| IDNews | Folhapress/São Paulo | Via Notícias ao Minuto | Foto: © Nacho Doce|Reuters
A concentração de desfiles persiste nas regiões centrais e oeste, mas a presença carnavalesca cresce para outros bairros ao longo dos anos
Quando souberam que a avenida 23 de Maio ia ser tomada por blocos de Carnaval, há dois anos, moradores do Bom Retiro fizeram pedido oficial para o mesmo não acontecer na av. Tiradentes, que corta o bairro na região central de São Paulo.
Em mapa elaborado pela reportagem que mostra a dispersão de blocos pela cidade entre os anos de 2012 e 2019, é possível ver que a concentração de desfiles persiste nas regiões centrais e oeste, mas a presença carnavalesca cresce para outros bairros ao longo dos anos.
“Quando fizeram [desfiles] na 23 de Maio, percebi que o perigo ia chegar até aqui e logo fui ao Ministério Público. É ruim ficar empurrando [os megablocos] para os outros bairros. Impactam o bairro todo, vamos ficar ilhados”, disse Saul Nahmias, morador do Bom Retiro e membro do Conseg do bairro.
Diante de um Carnaval com previsão recorde de público -5 milhões de pessoas, segundo a prefeitura-, a mancha ocupada pelos foliões na cidade também cresceu. Serão 516 blocos -em 2018, foram 433.
A av. Tiradentes, que sempre passou incólume aos desfiles de blocos, neste ano foi escolhida pela gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) para substituir a 23 de Maio, que abrigou os megablocos no ano passado, mas foi vetada pela Polícia Militar e Ministério Público diante do risco de acidentes por não dispor de rotas de fuga em caso de confusão. Doze blocos vão passar pela Tiradentes na segunda (4) e terça-feira (5) e no fim de semana do pós-Carnaval, incluindo os gigantes Domingo Ela Não Vai e o Bloco da Pabllo Vittar.
Neste ano, o esparrame da folia de rua chegou até o Brooklin, na zona sul, outra região da cidade que passava os feriados de Carnaval adormecida. A av. Engenheiro Luís Carlos Berrini vai funcionar como passarela de blocos a partir desta segunda-feira (4). A av. Professor Vicente Rao, em Santo Amaro, também foi cogitada, mas, como a via alaga com frequência em dias de chuva, foi descartada.
Assim como no Bom Retiro, moradores incomodados com a novidade se articularam em oposição ao Carnaval no bairro. Entre os argumentos apresentados aos gestores municipais foram incluídos até os fios de alta tensão. “É inviável fazer [Carnaval] na Berrini. Os fios são muito próximos aos carros, das árvores, e ainda temos quatro ou cinco avenidas que fazem intersecções com a Berrini”, disse o morador e presidente do Conseg Brooklin, Marco Braga.
Reações adversas ao espalhamento dos blocos de Carnaval pela cidade mobilizaram também moradores da região da av. Paulista no fim do ano passado, quando a via foi cogitada pela administração municipal para abrigar os megablocos. Para impedir os desfiles, membros da associação de moradores se muniram do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), firmado entre prefeitura e Ministério Público em 2007, que permite a realização de apenas três eventos na Paulista: festa de Réveillon, Parada Gay e corrida de São Silvestre.
Historicamente, o Carnaval de rua sempre animou São Paulo, principalmente, entre as décadas de 1940 e 1950, quando as festividades tomavam as ruas do Brás e a av. Paulista, que ficava congestionada com o desfile de carros enfeitados e ocupados por famílias fantasiadas.
Com o passar dos anos, o Carnaval de rua foi sendo substituído pelos bailes em clubes fechados e, posteriormente, pelos desfiles no sambódromo do Anhembi, inaugurado em 1991, que passou a abrigar os desfiles dos cordões, transformados em escolas de samba.
A av. Tiradentes, que neste ano vai receber blocos, antigamente era transformada em sambódromo durante as festas de fevereiro, quando recebia arquibancadas para acomodar a população durante os desfiles das escolas de samba.
Até 2014, quando se consolidou a retomada do Carnaval de rua em São Paulo, os desfiles dos blocos, em proporções bem menores, ficavam restritos ao entorno do parque da Luz, onde ocorria o Pholia na Luz, uma das esparsas manifestações carnavalescas fora do sambódromo do Anhembi na cidade.
A partir de 2014, quando foi promulgada lei que regulamentou a inscrição e desfile de blocos de rua em São Paulo, os cerca de 40 cortejos que costumavam ocupar a cidade nos dias de folia pularam para mais de 170 no primeiro ano. Em 2015, foram cerca de 300. ” Com a democratização do processo, a lógica foi invertida e a cidade teve que acolher todos os blocos, e não apenas os que tinham autorização para desfilar. Qualquer um passou a poder participar”, diz Zé Cury do Fórum Aberto dos Blocos de Carnaval de São Paulo.
Segundo Cury, por outro lado, a regulamentação permitiu o mapeamento de blocos que já desfilavam, mas de forma espontânea, nos bairros.
Junto com a regulamentação vieram os incentivos aos desfiles, como verba de patrocínio para a contratação de trios elétricos e instalação de banheiros químicos, o que contribui para o número maior de blocos inscritos a cada ano e, consequentemente, para o aumento da mancha do Carnaval de rua pela cidade.
Pela lógica de mercado dos patrocinadores, quanto mais nobre o local dos desfiles, mais atraente se torna o bloco. Diante disso, a cada Carnaval, é instituída uma verdadeira corrida pelos trajetos mais nobres da cidade. “Há uns dois anos sobravam vagas para quem quisessem desfilar na avenida Faria Lima durante o feriado”, lembra Cury em relação a uma das avenidas mais disputadas pelos blocos.
Em uma tentativa de descentralizar o Carnaval, e evitar problemas causados pelo excesso de foliões nesses pontos mais badalados, neste ano, a prefeitura decidiu destinar parte do patrocínio de R$ 16,1 milhões a blocos comunitários, organizados por moradores de bairros na periferia. Cerca de 30 cordões serão beneficiados com a verba municipal. “A ideia é que as pessoas curtam o Carnaval em seus bairros e não precisem se deslocar para Pinheiros, por exemplo”, diz Cury.