Lula não foi processado no mensalão por falta de investigação, diz Renan
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Lula não foi processado no mensalão por falta de investigação, diz Renan
A afirmação foi dita em uma das conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e entregue ao Ministério Público Federal
7:01| 28/05/2016 Audio
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia “saído”, ou seja, não foi processado no caso do mensalão porque os pagamentos ao marqueteiro Duda Mendonça no exterior não foram investigados a fundo quando vieram a público, em 2005.
De acordo com a Folha de S. Paulo, a afirmação foi dita em uma das conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e entregue ao Ministério Público Federal.
A publicação destaca que, em 2005, Duda, que havia trabalhado na vitoriosa campanha de Lula em 2002, reconheceu, em depoimento prestado à CPI dos Correios, que havia recebido no exterior cerca de R$ 10 milhões em esquema de caixa dois. Duda revelou na época que o dinheiro havia sido transferido pelo publicitário mineiro Marcos Valério Souza, pivô do escândalo do mensalão.
Nas conversas de Renan e Machado, Renan tenta explicar “por que o Lula saiu”: “O Duda fez a delação, e disse que recebeu o dinheiro fora. E ninguém nunca investigou quem pagou, né? Este é que foi o segredo”.
Machado diz que, durante seu governo, Lula “não fez”, provável referência a não ter cometido irregularidades, porém “quando chegou no final do governo botou na real”. “Caiu na real”, concordou Renan.
A gravação revela que Machado disse que foram feitas “umas merdas, um sítio merda, um apartamento merda”, citações ao sítio de Atibaia (SP) frequentado por Lula e a um apartamento da Bancoop, cooperativa de bancários, construído pela OAS no Guarujá (SP).
“Apartamento bancário!”, ironizou Renan. “Duzentos metros quadrados, Renan. Quer dizer, foi uma cagada enorme”, afirmou Machado. Ele ainda diz que Lula, além de Sérgio Gabrielli e “uma turma”, “armaram” a criação da empresa Sete Brasil, empresa constituída em 2010, último ano do segundo governo de Lula, voltada para a construção de navios-sonda para exploração do pré-sal brasileiro.
A publicação conta que, ainda no diálogo, Machado questionou a Renan se o advogado Eduardo Ferrão, defensor do senador, realmente tinha influência, se tinha “força”, sobre o ministro do STF Teori Zavascki, relator da Lava Jato no tribunal. Renan corrigiu: “Acesso. Nesse primeiro momento é o acesso”.
No entanto, ainda não há indícios de que Ferrão tenha de fato tentado influir o ministro Teori.
OUTRO LADO
A Folha destaca que uma divulgada pela assessoria do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), ele reitera que “não tomou nenhuma iniciativa ou fez gestões para dificultar ou obstruir as investigações da operação Lava Jato, até porque elas são intocáveis e, por essa razão, não adianta o desespero de nenhum delator”.
A nota não respondeu às questões sobre os comentários de Renan acerca do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli rebateu a ideia de que a Sete Brasil tenha sido um erro. “A empresa foi criada para viabilizar a construção de sondas no Brasil, coisa extremamente importante para o pré-sal brasileiro. O projeto é correto. Os problemas que ocorreram foram decorrentes de dificuldades de financiamento do BNDES e de algumas fontes, nada de coisas clandestinas ou ilegais”, afirmou Gabrielli.
O Instituto Lula divulgou uma nota em que diz: “Nenhum homem público brasileiro foi tão investigado quanto Lula em 40 anos de vida pública, sem que nada fosse encontrado contra ele. E nenhum outro foi tão caluniado quanto Lula, por todos os meios, até mesmo por essa abjeta autogravação, feita sob encomenda para difamar”.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Machado. A delação está sob segredo de Justiça.