Aliados defendem e Lula avalia aderir a manifestos pró-democracia
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Aliados do petista têm estimulado sua adesão ao movimento
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia assinar os dois manifestos pró-democracia organizados por entidades e por alunos da Faculdade de Direito da USP. Aliados do petista têm estimulado sua adesão ao movimento, sob o argumento de que está afastado o risco de o gesto ser interpretado como eleitoreiro.
Na opinião de colaboradores, Lula está sensível a essa avaliação e tende a aderir ao movimento. No fim da tarde de quinta-feira (4), durante reunião em São Paulo, ele disse a aliados que avalia a possibilidade.
Lula deve comparecer a debate na Fiesp (Fundação das Industrias do Estado de São Paulo) na próxima terça-feira (9), quando, segundo aliados, poderá endossar o documento articulado pela entidade.
A carta conta ainda com a assinatura de centrais sindicais (como CUT, Força Sindical e UGT), da Febraban (que representa os bancos), da Academia Brasileira de Ciências e da UNE (União Nacional dos Estudantes).
O documento expressa compromisso “inarredável com a soberania do povo brasileiro expressa pelo voto e exercida em conformidade com a Constituição”.
Lula também estuda assinar a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, que reunia mais de 700 mil assinaturas até esta quinta-feira (4).
O texto foi organizado por ex-alunos da Faculdade de Direito Largo São Francisco, da USP (Universidade de São Paulo), e contou com o apoio posterior de movimentos como o grupo Prerrogativas, que reúne juristas e advogados.
Ambas as cartas serão lidas no dia 11 de agosto em cerimônias na própria Faculdade de Direito Largo São Francisco.
Desde que foi publicado no site da instituição, no último dia 26, a carta foi assinada por juristas, acadêmicos, artistas, economistas e também políticos.
Pré-candidatos à Presidência Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) endossaram o manifesto, assim como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), entre outros
De acordo com pessoas próximas, Lula inicialmente resistiu a assinar os manifestos por receio de dar um caráter político-eleitoral ao movimento e ser acusado de tentar instrumentalizar a iniciativa.
Diante da ampla lista de signatários, porém, aliados de Lula avaliaram que seria importante ratificar o documento para marcar posição e fazer um contraponto a Jair Bolsonaro (PL), que tem feito diversas manifestações golpistas e colocado em xeque a lisura das urnas eletrônicas.
A ideia é que, ao assinar os textos, Lula ressalte que os manifestos pró-democracia são independentes.
O advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas disse que, se for aderir, Lula o fará “no momento certo de forma a respeitar a independência, autonomia e suprapartidarismo do ato”.
“Lula é o único candidato que não precisa demonstrar o compromisso que tem com a democracia, assinando cartas, manifestos, ou aderindo a qualquer movimento ou ato”, complementa Marco Aurélio.
Bolsonaro cancelou sua participação na sabatina da Fiesp, onde seria convidado a assinar a carta da entidade.
Segundo relatos, o presidente vê conotação política nela e não deve assiná-la. Bolsonaro participaria do “Encontro com Candidatos à Presidência: Diretrizes prioritárias do governo federal (2023-2026)”, que já sabatinou Simone Tebet (MDB) e receberá Lula, na terça. Não está descartada a ida do presidente à entidade em outro momento.
Ele também cancelou jantar com empresários, promovido pelo grupo esfera, que ocorreria em SP também no dia 11.
Os documentos tanto da Fiesp como dos alunos de direito da USP são vistos como resposta aos ataques de teor autoritário de Bolsonaro.
A iniciativa dos ex-alunos da Faculdade de Direito da USP remete à Carta aos Brasileiros de 1977.
Naquele ano, representantes da comunidade acadêmica também leram no largo de São Francisco um manifesto em repúdio à ditadura militar, daí surgiu a iniciativa de fazer uma nova edição da carta, explica Celso Campilongo, diretor da Faculdade de Direito da USP.
“O professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos”, diz texto.
A carta, elaborada em resposta aos ataques de Bolsonaro, relembra a superação da ditadura militar (1964-1985), a promulgação da Constituição de 1988 e afirma que a democracia amadureceu.
O texto pondera, porém, que, com as eleições deste ano, o Brasil passa por um momento de imenso perigo para a normalidade democrática e de risco às instituições.
“Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”, diz a carta.
Já a carta articulada pela Fiesp ressalta importância dos 200 anos da independência do Brasil.
“Nossa democracia tem dado provas seguidas de robustez. Em menos de quatro décadas, enfrentou crises profundas, tanto econômicas, com períodos de recessão e hiperinflação, quanto políticas, superando essas mazelas pela força de nossas instituições”, diz outro trecho do documento.
O texto afirma que o respeito ao Estado de Direito e a estabilidade democrática no país indispensáveis para o Brasil superar os desafios e que esse é “o sentido maior do Sete de Setembro neste ano”.
Em outra frente, no entanto, Bolsonaro já convocou seus apoiadores para um novo ato na Dia da Independência e a tendência é que ele repita o estilo do ano passado, quando o mandatário atacou decisões do Supremo e repetiu discurso de teor golpista.
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