Avenida da zona sul acumula vítimas e supera marginal Tietê em mortes
Warning: Trying to access array offset on value of type bool in /usr/storage/domains/i/idnews.com.br/www/wp-content/plugins/wp-social-sharing/includes/class-public.php on line 81
Avenida da zona sul acumula vítimas e supera marginal Tietê em mortes
O sentimento de insegurança no trânsito na avenida é justificável pela estatística
7:37 |IDNews/Folhapress/Via Notícias ao Minuto/ |
Na avenida Teotônio Vilela, na zona sul de São Paulo, os moradores sabem de cor a história de incontáveis acidentes de trânsito ocorridos por ali.
O sentimento de insegurança no trânsito na avenida é justificável pela estatística. Segundo dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), vinculada à gestão Bruno Covas (PSDB), e do governo do Estado, sob o governo Márcio França (PSB), a avenida de cerca de 10 km é a terceira na capital a concentrar o maior número de vítimas fatais desde 2015.
Só neste ano foram 12 mortes (seis motociclistas, cinco pedestres e um passageiro de um carro), mais do que as registradas na marginal Tietê.
Considerando-se o período de 2015 a setembro de 2018, foram 54 mortes na Teotônio Vilela, contra 70 na marginal Tietê e 56 na Pinheiros.
Em 2017, a avenida também ultrapassou o número de mortes na marginal Pinheiros, ficando em segundo lugar como a via mais perigosa do trânsito paulistano.
O grande número de mortes ocorre apesar de a via não estar entre os dez corredores mais extensos de São Paulo, caso de avenidas como Sapopoemba, Aricanduva, Jacu-Pêssego/Nova Trabalhadores, na zona leste e Estrada do M’Boi Mirim, na zona sul.
Para a especialista em segurança viária Meli Malatesta, o fato de a Teotônio Vilela ter tantos acidentes mesmo sem ser uma via expressa demanda uma atenção especial do poder público.
Nas marginais, já se sabe que veículos em maior velocidade contribuem para um ambiente mais inseguro.
Já quem vive próximo à avenida Teotônio Vilela vê o alto índice de mortes como resultado do desrespeito às leis de trânsito e da alta velocidade dos veículos. Motoristas frequentemente trafegam acima do limite local de 50 km/h.
“Quando não tinha nenhum radar [de velocidade] era ainda pior”, diz o mecânico José Roque, 41. Ele observa que o traçado da Teotônio chegou a ser considerado para parte de uma nova estrada que ligaria a zona sul à cidade de Itanhaém, no litoral sul paulista. “A avenida não virou estrada, mas o motorista continua achando que pode correr.”
Cercada por bairros altamente adensados, a Teotônio Vilela tem intenso movimento de pedestres que querem atravessá-la ou acessar os canteiros centrais da avenida, onde ficam as paradas de um corredor de ônibus.
“Se tem um corredor de ônibus, a avenida tem que estar pronta para absorver o grande número de pedestres. É preciso uma nova abordagem de tempo de travessia de semáforos e aumentar pontos de travessia”, analisa Meli.
Diego da Silva, 25, diz que parte dos acidentes é causada pelo grande número de pessoas que atravessam fora da faixa –os pedestres são os que mais morrem na avenida.
Já o comerciante Cesar Frioli, 45, que sempre atravessa a pé a avenida fora da faixa, defende-se: “Se eu fico na faixa, o motoqueiro não me respeita na hora de entrar na rua. Me sinto mais seguro atravessando no meio da rua mesmo”, explica.
Para tentar coibir esse tipo de travessia, a prefeitura chegou a instalar altas grades ao longo do canteiro central.
Mas é fácil ver pedestres pulando a barreira ou avançando por locais onde a estrutura foi derrubada por algum veículo nos últimos meses.
Em apenas um quarteirão da avenida, na altura do número 5.500, foram registradas seis mortes de trânsito, em quatro acidentes, isso durante seis meses (em 2016 e 2017). Todos eles envolveram motos. Uma dessas mortes é a do aposentado João Bosco, 78.
Em uma tarde de quinta-feira, João voltava do dentista e foi atravessar a avenida para comprar pão de queijo para a família. Quando estava quase chegando ao canteiro central, já no corredor de ônibus, foi atingido por uma moto.
As informações foram apuradas pela filha da vítima, Rogéria Bosco, 49, que conseguiu imagens de câmeras de segurança. O boletim de ocorrência pouco explica o que teria ocorrido e, segundo relatos do motoqueiro, a culpa teria sido do atropelado.
De qualquer forma, João foi socorrido, mas os médicos não puderam conter as múltiplas hemorragias em seu cérebro. Morreu cinco dias após o acidente.
“Há mais de um ano e sete meses meu pai morreu e nada foi feito. A polícia não tem novidades sobre o caso, nem mesmo a gravação do acidente adiantou. Quem atropelou meu pai segue livre para pilotar”, lamenta Rogéria.
O alto índice de mortes no trânsito da avenida Teotônio Vilela não é novidade para a Prefeitura de São Paulo nem para seu órgão técnico sobre o tema, a CET.
Ao menos desde março deste ano a gestão diz estudar um pacote de medidas para aumentar a segurança na via, a exemplo do que já foi feito na estrada do M’Boi Mirim –onde as ações ajudaram a reduzir o número de óbitos de 15 para 8 de 2017 para 2018.
Entre as alterações possíveis estão a instalação de lombadas, novos radares, o redesenho de acessos à avenida, maior presença de agentes da CET, melhor sinalização e proteção de obstáculos fixos que podem ser atingidos por veículos. O projeto, porém, não avançou na Teotônio Vilela.
A próxima avenida que deverá receber esse tipo de solução é a Caldeira Filho, também na zona sul de São Paulo.
Para a CET, ações são necessárias na via, que teve um aumento de mortes no primeiro semestre deste ano. Foram 12 óbitos, contra 2 em todo o ano de 2017, segundo dados do governo do estado.
Ainda assim, desde 2015, a Caldeira Filho teve só 65% dos acidentes fatais registrados na Teotônio Vilela.
A CET diz, porém, que não define sua estratégia de segurança apenas pelos números de acidentes fatais e leva em conta também as características das ocorrências.
A prefeitura informou ainda que estuda as alterações necessárias para a avenida Teotônio Vilela, assim como para as avenidas Dona Belmira Marin, na zona sul, e Raimundo Pereira de Magalhães, na zona norte.
Sobre a Teotônio Vilela, a CET diz ainda que a avenida recebeu em setembro o programa Pedestre Seguro, que aumentou em até 16% o tempo da travessia de pedestres.
Essas e futuras ações, de acordo com a companhia, estão dentro do conceito Visão Zero de segurança, que pressupõe que nenhuma morte no trânsito é aceitável.