Catadora de papelão, travesti Erica ganha casamento após 16 anos de namoro
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Catadora de papelão, travesti Erica ganha casamento após 16 anos de namoro
Festa teve como palco a segunda Parada LGBTQ da cidade e ganhou a atenção de milhares de pessoas
7:54 |FP/FOLHAPRESS/Dani Braga |2018JUL25|
m sua página do Facebook, a prefeitura de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, fez um convite inusitado à população. Tratava-se de um casamento em que seriam celebrados o amor de um casal e também a diversidade. Isso porque o Instituto Nice, cujo trabalho é oferecer a travestis e transexuais apoio e qualificação profissional, organizou, em parceria com a prefeitura e com a comunidade local, o casamento de duas figuras conhecidas no município: Erica e Jorge.
Erica, de 54 anos, é travesti e namora Jorge, de 49. Ambos são catadores de materiais recicláveis nas ruas da cidade e estão juntos há 16 anos. A oficialização e a celebração da relação, porém, só aconteceram no último domingo (22). A festa teve como palco a segunda Parada LGBTQ da cidade e ganhou a atenção de milhares de pessoas, que assistiram ao casamento no local e também por meio de vídeos que a prefeitura postou em tempo real nas redes sociais.
Erica ostentou um vestido branco rendado, véu, coroa sob os cabelos loiros e um buquê cor de rosa. Antes disso, passou por tratamento dentário e dia de beleza para chegar radiante à celebração e encontrar Jorge de terno alinhado e barba feita.
Além do visual novo, a noiva conseguiu ajuda jurídica para trocar de nome e emitir a certidão de casamento. Agora, ela é sra. Erica também no papel.
Segundo Valeria Rodrigues, do instituto, Erica e Jorge se conheceram há 22 anos. Na ocasião, o carrinho de Jorge tombou e ela parou para ajudá-lo. Como retribuição, ele fez um convite para dividirem um vinho. A relação se estreitou e, seis anos depois, eles começaram a morar juntos.
A casa onde vivem foi herdada por Erica e está quase caindo, relata Valeria. O instituto diz que a rede do bem que fez o casamento não terminou. O foco, agora, é reunir recursos para dar continuidade a uma reforma no local e, para isso, conta com doações. A moradia é o bem que Erica quer deixar para Jorge. Com a saúde fragilizada, devido ao esforço que faz diariamente carregando cerca de 400 quilos de papelão no carrinho, ela confidenciou à Valeria que temia morrer e deixar o amado desamparado.
No dia do casamento, entretanto, as forças de Erica foram renovadas. O carrinho de madeira foi substituído por um carro de luxoemprestado para levá-la ao local onde diria “sim” para Jorge e realizaria seu maior sonho, sob aplausos de conhecidos e anônimos. Para Valéria, nada foi mais gratificante do que “ver a cidade voltada ao amor ao próximo, sem olhar identidade de gênero ou orientação sexual”. A sensação é de missão cumprida, garante.