Com dividendos de mais de R$ 100 bi, Petrobras se apresenta como ‘vaca leiteira’
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Levantamento feito pela Economática com petroleiras que divulgaram balanços até sexta-feira (25) mostra que a estatal brasileira foi a segunda empresa do setor a pagar mais dividendos em 2021, atrás apenas da gigante americana Exxon Mobil.
Com o anúncio de que vai compartilhar com acionistas R$ 101,4 bilhões de seu resultado de 2021, a Petrobras confirma a expectativa de que caminha para se tornar uma “vaca leiteira”, como o mercado chama empresas boas pagadoras de dividendos.
Levantamento feito pela Economática com petroleiras que divulgaram balanços até sexta-feira (25) mostra que a estatal brasileira foi a segunda empresa do setor a pagar mais dividendos em 2021, atrás apenas da gigante americana Exxon Mobil.
Considerando o indicador que mede o rendimento de uma ação pelo pagamento de dividendos, conhecido como “dividend yield” a Petrobras também é a segunda da lista, atrás da britânica BP, garantindo ao acionista um retorno de 19,94% sobre o valor da ação.
O número considera apenas os valores pagos em 2021. Somando a parcela de dividendos anunciada nesta quarta-feira (23), de R$ 37 bilhões, o retorno em dividendos das ações da estatal sobe para 33%, segundo o banco UBS, considerando o valor médio das ações durante o ano.
O mercado espera que a tendência de ganhos elevados se mantenha, ao menos até uma eventual troca de governo: em seu último planejamento estratégico, a Petrobras anunciou a previsão de distribuir até US$ 70 bilhões (R$ 360 bilhões) em cinco anos.
“Continuamos com uma visão positiva da companhia, já que o novo nível de lucratividade leva a um dividend yeld de 15% a 25% ao ano”, escreveram, em relatório, os analistas do UBS Luiz Carvalho, Matheus Enfeldt e Tasso Vasconcellos.
Para o estrategista-chefe da TC Matrix, Hugo Queiroz, a transição da empresa para o status de “vaca leiteira” reduz a percepção de risco sobre o investimento em suas ações, que costumam apresentar alta volatilidade ao sabor do cenário político.
Assim, diz, Petrobras passa a ser um bom ativo para carteiras de investimento com perfil voltado à remuneração por dividendos. “Mesmo ação sendo volátil, não quer dizer que a empresa vá mudar trajetória de pagamento de dividendos”, afirma.
A guinada para o foco em dividendos foi feita ainda na gestão Roberto Castello Branco, primeiro presidente da Petrobras sob o governo Bolsonaro, que foi demitido em fevereiro de 2021 em meio a insatisfações sobre a escalada dos preços dos combustíveis.
Egresso da Vale e defensor da privatização da Petrobras, Castello Branco aprovou um plano estratégico com foco em investimentos em negócios mais rentáveis, venda acelerada de ativos e redução do endividamento, liberando caixa para remunerar os acionistas.
Em sua gestão, a empresa aprovou nova política de remuneração que permite a distribuição de recursos mesmo em anos de prejuízo e que determinou o pagamento de dividendos acima do piso previsto em lei quando a dívida chegasse abaixo de US$ 60 bilhões (R$ 309 bilhões).
A estratégia reduziu o endividamento para abaixo do piso e, com preços do petróleo em alta, a companhia tem apresentado forte geração de caixa, o que justificou os elevados dividendos anunciados nos últimos meses.
No Brasil, apenas a Vale paga hoje tão bem quanto a Petrobras. Em 2021, segundo a Economática, a mineradora pagou R$ 73,3 bilhões, o maior volume já registrado entre companhias abertas brasileiras. A Petrobras liberou R$ 72,7 bilhões, ficando em segundo nesse ranking.
Por outro lado, a estatal entrou prematuramente no debate eleitoral, com críticas aos altos dividendos em um ano de preços recordes de combustíveis nos postos brasileiros pressionando a inflação, o que lança incertezas sobre a manutenção da política.
Em 2021, ano que teve lucro recorde de R$ 106,6 bilhões, a Petrobras vendeu combustíveis a um preço médio de R$ 416,40 por barril, o maior valor já registrado em balanço e 15,6% superior ao praticado em 2018, ano da greve dos caminhoneiros, já descontada a inflação do período.
Líder nas pesquisas de intenção de votos, o ex-presidente Lula (PT) vem repetindo que, se eleito, vai mudar a política atual de preços dos combustíveis, que acompanha de perto as variações das cotações internacionais e da taxa de câmbio.
“Não vamos manter o preço da gasolina dolarizado. É importante que o acionista receba dividendos quando a Petrobras der lucro, mas não posso enriquecer o acionista e empobrecer a dona de casa, que vai comprar feijão e paga mais caro por causa da gasolina”, afirmou, no início do mês.
O próprio presidente Jair Bolsonaro (PL) tem feito críticas à estratégia da estatal. Nesta quinta (3), defendeu que a empresa reduza lucros para evitar uma alta brusca nos preços dos combustíveis diante da crise geopolítica causada pela guerra na Ucrânia.
“Em um momento de crise como esse, eu acho que esse lucro, dependendo da decisão dos diretores, do conselho e do presidente, poderia neste momento de crise ser rebaixado um pouquinho para a gente não sofrer muito aqui” “, declarou o presidente, durante sua live semanal.
Ligado aos sindicatos de petroleiros, o Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis) critica a estratégia de gerar “superlucros” com a venda de ativos e a prática de preços internacionais.
“A empresa está comunicando claramente que vai privilegiar a geração e distribuição de valor no curto prazo”, diz o pesquisador do Ineep e do Núcleo Desenvolvimento, Trabalho e Ambiente da UFRJ, Mahatma Santos.
Na sua opinião, esse modelo terá consequências para o futuro da empresa, com reflexos da venda de ativos e a redução de investimentos sobre sua sustentabilidade. No último plano estratégico, ressalta, a Petrobras prevê mais recursos para dividendos do que para investimentos.
O risco de nova guinada é reconhecido pelos analistas que cobrem a empresa, mas eles mantêm, em geral, recomendação de compra das ações da companhia, hoje consideradas baratas em relação a suas concorrentes internacionais.
“Reconhecemos que a potencial troca no acionista controlador pode limitar esses níveis [de retorno] a médio e longo prazo, com uma mudança de foco da companhia para a alocação de capital e o desenvolvimento nacional”, dizem os analistas do UBS.
Para Queiroz, o baixo preço atual da ação vale o risco, mesmo para investidores mais receosos com o sobe e desce das bolsas. “Vale o investidor acompanhar para ver se não é interessante ter uma posição na empresa. A Petrobras está muito barata perto do que ela entrega.”
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