CPI da Merenda tem ameaça de prisão, acareação e contradições
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CPI da Merenda tem ameaça de prisão, acareação e contradições
O primeiro a depor foi o ex-vendedor da Coaf César Bertholino, que transportava dinheiro vivo para pagar “comissões”
9.37| 02/09/2016 CPI da Merenda
A sessão da CPI da Merenda na Assembleia Legislativa de São Paulo nesta quarta-feira (31) teve acusação de cobrança de propina, ameaça de prisão de testemunha e acareação entre dois ex-funcionários da Coaf, a cooperativa suspeita de fraudar a merenda. Eles deram versões conflitantes sobre o envolvimento de uma servidora da Secretaria Estadual da Educação no caso.
O primeiro a depor foi o ex-vendedor da Coaf César Bertholino, que transportava dinheiro vivo para pagar “comissões”. Ele acusou Jéter Rodrigues Pereira, ex-assessor do presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB), de ter feito ameaças para receber propina.
“[Pereira] Ligava, fazia ameaças. Ele ameaçava o senhor Cássio [Chebabi, ex-presidente da Coaf,] que iria cancelar o contrato com o governo do Estado. Ele estava desesperado atrás de dinheiro”, disse o ex-vendedor.
A Coaf tinha dois contratos com o governo Geraldo Alckmin (PSDB) para fornecer suco de laranja às escolas em 2015, num total de R$ 11,4 milhões.Bertholino confirmou que Pereira -assessor de Capez até dezembro de 2014- recebeu ao menos um cheque de R$ 50 mil da Coaf. O cheque foi depositado por outro ex-assessor do tucano, José Merivaldo dos Santos, mas voltou por falta de fundos.
Ainda segundo Bertholino, também Merivaldo -funcionário de carreira da Assembleia que atuou na campanha de Capez em 2014- telefonou para ele cobrando os R$ 50 mil após o cheque voltar.
O ex-vendedor, porém, atribuiu o esquema exclusivamente a Pereira e ao lobista Marcel Ferreira Julio, que atuou em favor da Coaf junto ao governo do Estado.Bertholino disse acreditar que Marcel mentia quando dizia que repassaria propina a políticos como o deputado Capez. Em sua opinião, o dinheiro ficava com o lobista. “Isso é uma convicção minha com base no que o Marcel falava”, declarou.
Ao mesmo tempo, contudo, o ex-vendedor admitiu que o contrato com o governo estadual só vingou após a suposta intermediação de Marcel, no final de 2014.Questionado sobre o teor da delação premiada de outro ex-vendedor da cooperativa, Emerson Girardi, que afirmou ao Ministério Público que viu uma servidora estadual em Bebedouro (SP) cobrando dinheiro dele, Bertholino negou o episódio.
A servidora citada no acordo de delação é Dione Di Pietro, ex-chefe da coordenadoria à qual está vinculado o setor de compra de merenda da Secretaria Estadual da Educação. Bebedouro é a cidade onde fica a sede da Coaf.
PRISÃO E ACAREAÇÃO
Girardi, o outro ex-vendedor da cooperativa, depôs à CPI em seguida. Inicialmente, optou por ficar em silêncio, sob a justificativa de ter fechado acordo de delação, o que exige confidencialidade.
O deputado Alencar Santana Braga (PT) propôs, então, que a comissão votasse sua prisão -a CPI tem poder de polícia. O argumento era que Girardi prestou depoimento à Corregedoria do Estado em junho, após fechar o acordo de delação, e que, se não falasse à CPI, estaria omitindo informações, o que poderia ser enquadrado no crime de falso testemunho.
Com a concordância de deputados da base do governo, como Barros Munhoz (PSDB), sobre mandar prendê-lo, Girardi mudou de ideia e decidiu responder a algumas perguntas, desde que elas não o incriminassem.
O ex-vendedor reafirmou o que disse ao Ministério Público: viu a servidora Dione Di Pietro em Bebedouro conversando com Bertholino. Disse que descarregava produtos na rua quando Dione saiu do escritório da Coaf e foi seguida por Bertholino.
“Ela saiu do escritório e ele saiu atrás. Foram para um canto. Os dois se aproximaram e conversaram, do outro lado da rua”, disse.
Diferentemente do que declarou em sua delação, porém, Girardi disse que não ouviu o que conversaram. Ao Ministério Público ele havia dito que ouviu Dione dizer que tinha ido a Bebedouro receber dinheiro.
Os deputados fizeram, então, uma acareação entre os dois ex-vendedores da Coaf. Cada um manteve sua versão. Já há requerimentos para que Dione seja ouvida na CPI.
BALANÇO
“Foi um festival de mentiras cuja única conclusão é a seguinte: todos estão mentindo. Achei frustrante [a acareação]. Cada um falou uma coisa e continuou zero a zero. Um dos dois mentiu, ou até os dois mentiram”, afirmou Barros Munhoz.Na opinião de Alencar Santana Braga, a principal informação obtida na sessão foi a confirmação de que um ex-assessor de Capez cobrou propina e fez ameaças.
Para o petista, há indícios de que Bertholino tentou proteger servidores públicos e políticos ao isentá-los de envolvimento no escândalo.
“Tem um jogo combinado, alguns vão pagar o preço. Parece que estão focando no Jéter, no Marcel e no Chebabi para que não se avance. Há contradições com os depoimentos anteriores [prestados à polícia], o que demonstra mentira.”