Justiça

Defesa de cirurgião preso no RS por crimes sexuais nega acusações em carta


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Defesa de cirurgião preso no RS por crimes sexuais nega acusações em carta

O médico Klaus Brodbeck foi preso na noite de sexta, em Gramado, na Serra Gaúcha, um dia depois de prestar depoimento e negar as acusações envolvendo seu nome


A investigação da Polícia Civil do Rio Grande do Sul sobre crimes contra a dignidade sexual supostamente praticados por um cirurgião recebeu denúncias de mais de 80 mulheres em quatro dias, desde que a operação foi deflagrada na terça-feira (13) até esta sexta.

O médico Klaus Brodbeck foi preso na noite de sexta, em Gramado, na Serra Gaúcha, um dia depois de prestar depoimento e negar as acusações envolvendo seu nome. A prisão preventiva foi determinada pela 2ª Vara Criminal do Foro Central da Comarca de Porto Alegre.

A nota divulgada pela polícia gaúcha afirma que várias vítimas teriam se sentido coagidas depois que a namorada do médico publicou vídeos nas redes sociais com ameaças. A polícia afirma que instaurou inquérito e ouviu a mulher na quinta-feira (15).

As mulheres relatam episódios de importunação sexual, como toques inapropriados durante consultas médicas e falas que as deixaram desconfortáveis e em choque. A polícia investiga ainda supostos casos de estupro.

A Folha ouviu seis mulheres que se dizem vítimas e uma advogada que representa uma sétima mulher e, nesta sexta, teve acesso a um grupo de WhatsApp intitulado “Vítimas do Dr. Klaus”, criado pela modelo e influencer Sabrina Ferreira, há cerca de um ano.

Nele, há também relatos de sequelas que indicam erro médico em procedimentos de bioplastia feitos no consultório de Brodbeck, usando um produto conhecido como PMMA. Uma mulher relatou no grupo já ter feito duas cirurgias para tentar remover o produto colocado pelo cirurgião, a quem chama de monstro.

A SBPC (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), da qual Brodbeck é membro, diz que, apesar de o produto ser registrado na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com vários nomes comerciais, “tem alertado a população reiteradamente sobre a periculosidade do produto, motivo pelo qual não recomenda a utilização de PMMA, em qualquer volume ou plano anatômico de aplicação”.

A delegada responsável pela investigação, Jeiselaure Rocha de Souza, titular da 1ª Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher de Porto Alegre (Deam), afirma que esses casos podem ser investigados em um desdobramento da operação atualmente em curso.

No perfil oficial de Brodbeck em uma rede social, com 97,5 mil seguidores, foram publicadas mensagens de pacientes apoiando e abonando a conduta dele e uma carta aberta, assinada pelo advogado Gustavo Nagelstein. A reportagem tentou contato com Nagelstein na noite de sexta, mas não obteve retorno.

A defesa diz na carta que, durante a oitiva do médico, na quinta-feira, tomou conhecimento de que o número de acusações contra ele era muito inferior ao que tem circulado na imprensa e que a carta se refere aos fatos que são de conhecimento dos advogados e de Brodbeck.

O documento cita quatro casos. O primeiro, que teria ocorrido em 2016, é o que a polícia investiga como estupro de vulnerável, já que teria sido praticado contra uma paciente sedada no bloco cirúrgico do Hospital Moinhos de Vento –a instituição é citada na carta, que não fala diretamente sobre o suposto enquadramento do crime.

A defesa questiona por que o caso só se tornou de conhecimento público cinco anos depois e afirma que a paciente teria sido ouvida duas vezes por um delegado, e que teriam chamado a atenção dele divergências nos relatos.

O segundo caso, ainda segundo a carta aberta, teria relação com a denúncia feita por “uma ex-funcionária do Dr. Klaus, que, na época em que trabalhava em seu consultório, gravou, sem seu consentimento, a intimidade do médico, repassando os vídeos para uma quadrilha que tentou extorquir o médico”.

A nota diz ainda que ele denunciou a tentativa de extorsão à polícia e que uma pessoa chegou a ser detida em flagrante, afirmando que conseguiu as imagens com a ex-funcionária; e que um grupo de presidiários estaria envolvido.

O documento no perfil do médico menciona ainda uma terceira denúncia, que seria “oriunda de uma paciente que fez acordo na esfera cível, decorrente de ação de danos morais e, em referido acordo, recebe valores para fazer constar no documento que os fatos não existiram e que não passaram de desentendimento”, e de uma quarta, que seria de “uma menina” que se apresentou como modelo e influencer para fazer parceria com ele, o que acabou sendo negado.

“Infelizmente, apenas um lado da história tornou-se público, ferindo a dignidade pessoal e prejudicando a imagem profissional do dr. Klaus Brodbeck”, diz o texto. A carta afirma que “todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que sua culpabilidade tenha sido provada”.

À Folha, depois da primeira fase da operação, desencadeada na terça, com dois mandados de busca e apreensão na clínica do médico, no bairro Três Figueiras, a delegada responsável pelo caso disse que o pai de uma das mulheres que foi até a delegacia disse que esperou 12 anos para que a filha fosse ouvida.

Jeiselaure Rocha assumiu a delegacia no fim do ano passado e iniciou a investigação há cerca de seis meses, reunindo 12 denúncias iniciais envolvendo o nome do médico registradas em ocorrências.

Questionada sobre o porquê da demora em apurar as denúncias antes, já que parte delas não seria recente, ela disse: “O importante é dar voz para essas mulheres que estão em silêncio há tanto tempo. Não tenho como responder pelas outras investigações, pelo sistema como um todo. Eu espero que essas mulheres continuem procurando a Polícia Civil, que confiem no nosso trabalho. Estamos apurando todas as ocorrências. Precisamos que as vítimas nos procurem”.

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Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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