Direita vence na Itália e abre caminho para Giorgia Meloni, indica projeção
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Os 50,8 milhões de eleitores italianos, incluindo os 4,7 milhões fora do país, vão definir os 400 deputados da Câmara e os 200 ocupantes do Senado.
A coligação de direita liderada pela sigla Irmãos da Itália deve ser a mais votada nas eleições parlamentares da Itália neste domingo (25), indica projeção com votos já apurados para o Senado.
Segundo o Consorzio Opinio Italia para a emissora RAI, a chapa dos partidos Irmãos da Itália, de Giorgia Meloni, Liga, de Matteo Salvini, e Força, Itália, de Silvio Berlusconi, deve reunir 43,2% dos votos. Assim, a aliança pode obter a maioria nas duas Casas, sem precisar negociar com outras forças.
Se confirmada a projeção, o Irmãos da Itália, com 25,4%, indicará o nome do premiê, conforme pacto entre os líderes, e Meloni, 45, se tornará a primeira mulher chefe de governo da Itália e a primeira política da ultradireita no poder desde o ditador Benito Mussolini, no posto entre 1922 e 1943.
Em segundo lugar, a chapa de centro-esquerda, liderada pelo Partido Democrático, aparece com 26,5%, seguida pelo populista Movimento Cinco Estrelas (MS5), com 15,9%.
Com apenas 8,8%, a Liga aparece como o quarto partido, seguido pela Força, Itália (7,9%). Os números mostram que o partido de Meloni teve desempenho muito superior ao dos aliados, o que pode ser fonte de atritos dentro da coligação, a começar pela disputa para a nomeação de cargos importantes.
Em entrevista coletiva na madrugada desta segunda, noite de domingo no Brasil, Meloni disse que esta é uma “noite de orgulho para o Irmãos da Itália, mas é um ponto de partida, não o fim da linha”. “Se formos chamados a governar esta nação, governaremos para todos os italianos, para unir as pessoas, exaltando o que nos une em vez do que nos divide. Não vamos trair a confiança de vocês.”
A taxa de abstenção foi de 36,2%, a maior da história. Neste domingo, o comparecimento foi menor em algumas regiões do sul do país, afetado por fortes temporais.
Pouco antes das 10h, Salvini foi um dos primeiros líderes a votar, em Milão. Também na capital da Lombardia, Berlusconi registrou seu voto, junto à namorada. Já Meloni adiou sua ida às urnas, para que o grande número de fotógrafos na sua seção, em Roma, não atrapalhasse os demais eleitores.
Os 50,8 milhões de eleitores italianos, incluindo os 4,7 milhões fora do país, vão definir os 400 deputados da Câmara e os 200 ocupantes do Senado. No sistema misto, majoritário e proporcional, um terço das cadeiras é ocupado pelos mais votados, e o restante, por distribuição proporcional.
A formação do próximo governo, com a confirmação do futuro primeiro-ministro, pode demorar semanas ou meses -em 2018, foram quase 90 dias. Antes de o presidente Sergio Mattarella iniciar o processo de consultas aos partidos, é preciso que os eleitos tomem posse e que os presidentes das Casas sejam escolhidos, assim como os grupos parlamentares. Previsões otimistas falam em, no mínimo, 25 dias.
Programadas para o primeiro semestre de 2023, as eleições foram antecipadas devido à queda de Mario Draghi, que perdeu o apoio de três partidos de sua base -MS5, Liga e Força, Itália- e renunciou em julho.
Nascida em Roma, no bairro popular de Garbatella, Meloni entrou na política aos 15 anos, quando a Itália vivia os meses mais conturbados da Operação Mãos Limpas, que revelou, em 1992, o envolvimento do sistema político em esquemas de corrupção e que teve como efeito o fim das siglas tradicionais.
Sua escolha foi pela seção juvenil do Movimento Social Italiano (MSI), fundado em 1946 por integrantes dos últimos anos do regime fascista de Mussolini. Por isso, analistas a identificam ora como pós-fascista, termo usado para definir o movimento derivado do fascismo e que buscou diálogo com forças da direita conservadora moderada, ora como neofascista, em que o período segue como ideologia inspiradora.
“É um debate em curso, com a maioria se inclinando para o pós-fascismo”, diz o analista político Valerio Alfonso Bruno, membro do Centro de Análise da Direita Radical, no Reino Unido.
Após anos como militante do movimento estudantil, no qual aperfeiçoou a retórica de palavras claras e contundentes de seus discursos, Meloni foi eleita, aos 29, deputada federal pelo partido Aliança Nacional, formado por membros do MSI. Logo, assumiu uma das vice-presidências da Câmara.
Dois anos depois, tornou-se a ministra mais jovem do país, ao assumir a pasta da Juventude sob o quarto governo Silvio Berlusconi (2008-2011). No período, seu partido se fundiu com o Força, Itália, do então premiê, sob o nome de Povo da Liberdade. Em 2012, motivada pelo declínio de Berlusconi, criou a própria agremiação. Com cerca de 130 mil filiados, o Irmãos da Itália obteve apenas 4,3% dos votos em 2018.
Seu programa é nacionalista, o que pode gerar conflitos com a União Europeia, e inclui propostas como bloqueio naval para conter a imigração. É contra a “islamização da Europa” e a adoção por homossexuais.
Apesar de declarar não ter intenção de mudar a lei que descriminaliza o aborto, de 1978, afirma querer dar ênfase à prevenção, o que pode resultar em obstáculos no acesso ao procedimento pelas mulheres.
Sua agenda é considerada distante do movimento feminista e, durante a campanha, viu um movimento do tipo “Ela, não” surgir entre celebridades italianas. Um de seus slogans é “Deus, pátria e família”.
No âmbito internacional, seu partido é próximo dos líderes da Hungria, Viktor Orbán, e da Polônia, Mateusz Morawiecki, e do partido espanhol Vox, todos da ultradireita conservadora. Em relação à Guerra da Ucrânia, defende a linha Draghi, condenando a ação russa e apoiando o envio de armas a Kiev.
Meloni vai comandar um país fundador da União Europeia, a terceira maior economia do bloco e membro do G7, mas em um cenário de guerra, crise energética e inflação.
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