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Eleição no exterior tem menos abstenção e virada petista em Portugal


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Desde 2018, o número de votantes no exterior subiu 39%, atingindo 697.084


As filas de até três horas para votar, registradas neste domingo (2) em grandes colégios eleitorais do exterior, como Lisboa, Londres, Paris e Milão, ajudam a ilustrar tanto o aumento do número de títulos registrados fora do Brasil quanto o maior comparecimento às urnas dessa parte do eleitorado.

Desde 2018, o número de votantes no exterior subiu 39%, atingindo 697.084. Desses, 43,8% compareceram às urnas no domingo, quase três pontos percentuais a mais do que no primeiro turno de quatro anos atrás –no conjunto total, a taxa mostrou estabilidade. Em Lisboa, maior colégio eleitoral no exterior, o não comparecimento passou de mais de 65% para cerca de 56%.

No total, os dados significaram 98,7 mil votos válidos a mais do que no primeiro turno anterior. Mesmo assim, em um universo de 156,4 milhões de aptos a ir às urnas, o número do exterior continua a ter representação ínfima, de menos de 0,5% do total.

Em relação aos resultados, porém, o exterior também apresentou mudanças neste primeiro turno.

Em 2018, quando chegou à Presidência, Jair Bolsonaro (PL) recebeu 113,7 mil votos no exterior e terminou em primeiro lugar, com 58,8% dos válidos. Em segundo ficou Ciro Gomes (PDT), com 14,5%, seguido por Fernando Haddad (PT), 10,1%.

Agora, com o total das urnas apuradas, o ex-presidente Lula (PT) obteve o primeiro lugar no exterior, tendo recebido 138.933 votos, 47,2% dos válidos. Bolsonaro viu a quantidade de eleitores subir para 122.548, mas acabou em segundo, com 41,6%. Segundo o Itamaraty, a eleição foi realizada em 159 cidades de 98 países.

Nos dez maiores colégios eleitorais, o ex e o atual presidente dividiram a liderança, com cada um vencendo em cinco cidades, com diferenças regionais. Lula se saiu melhor na Europa, tendo sobressaído em Lisboa, com 61,5%, além de Londres, Porto, Paris (77,3%) e Milão.

Bolsonaro teve melhor desempenho nos Estados Unidos, onde ganhou em Miami (74,3%), Boston e Nova York. No Japão, conquistou Nagóia (75,5%) e Tóquio.

O resultado nos três postos de votação em Portugal chama a atenção especialmente porque representou uma virada, já que o presidente triunfou no país quatro anos atrás. Em Lisboa, onde teve 30,7% neste ano, Bolsonaro recebeu 56,1% dos votos no primeiro turno de 2018, à frente de Ciro e Haddad. Petistas também haviam perdido as eleições de 2014 na cidade: no primeiro turno, o tucano Aécio Neves venceu com 38,43%; Dilma Rousseff acabou em segundo lugar, com 28,2%, só 7 votos a mais que Marina Silva.

A virada se deu também no Porto, que, com 30.098 pessoas aptas a votar, é a sexta cidade com mais eleitores fora do país. Os brasileiros na cidade deram 60,5% a Lula e 29,9% a Bolsonaro; em 2018, o presidente teve 57,6%, Ciro 16,3% e Haddad 12,8%. Quatro anos antes, Aécio também havia levado a melhor sobre Dilma.

Alguns fatores influenciaram o novo cenário do voto no exterior. Em primeiro lugar, a alta do número de eleitores reflete o aumento de 22,6%, entre 2018 e 2021, no número de brasileiros que moram fora do país: segundo dados do Itamaraty, a conta passou de 3,6 milhões para 4,4 milhões.

Dentro do perfil geral dos migrantes subiu o percentual de eleitores mais escolarizados –neste ano, 42% têm ensino superior completo, ante 34,3% em 2018–, e a maioria passou a estar no grupo entre 40 e 44 anos, mais velha que a maioria de 2018, entre 35 e 39 anos.

No caso português, o número de residentes legais mais do que dobrou em relação a 2016, chegando a 252 mil pessoas pelas estatísticas oficiais –que não contabilizam brasileiros com dupla cidadania portuguesa ou de outro país da União Europeia nem quem está com a situação migratória irregular.

O fluxo dos últimos anos para Portugal tem forte presença de estudantes, empresários e profissionais liberais. Moradora de Leiria, a empresária Débora Lemos faz parte desse contingente. Em Portugal desde 2017, a empresária diz que demorou a transferir o domicílio eleitoral para o exterior devido à burocracia. “Era preciso agendar um horário no consulado para apresentar documentos de forma presencial. Como eu moro longe, acabava sempre deixando para depois. Na pandemia permitiram fazer pela internet e corri para transferir [o título de eleitor]”, relata.

Também pode ter impactado o resultado das urnas a deterioração da imagem do Brasil na comunidade internacional, especialmente pela gestão da pandemia e da emergência climática, em questões relacionadas com a Amazônia.

“O momento pede esse esforço. Mesmo vivendo fora do Brasil, o que acontece lá impacta minha vida aqui, e eu não quero mais ter a imagem de ser brasileira manchada”, disse a estudante Maísa Nascimento. Moradora de Veneza, onde faz mestrado e trabalha em uma operadora de turismo, no domingo ela viajou de trem até Milão para votar –ao custo de EUR 35.

Histórias semelhantes foram vistas em outros locais. Na capital portuguesa, a primeira da fila era Cristiane Santos. Moradora de Alcobaça, a cerca de 120 km de Lisboa, ela chegara ao local de votação às 3h, para não correr o risco de perder o dia de trabalho em um restaurante. A capital precisou estender a votação porque a menos de 30 minutos do horário previsto para o encerramento das urnas, 3.000 pessoas ainda aguardavam do lado de fora.

Vencedor nos dez maiores colégios eleitorais no exterior

Lisboa Lula (61,5%)
Miami Bolsonaro (74,3%)
Boston Bolsonaro (69,9%)
Nagóia Bolsonaro (75,5%)
Londres Lula (55,2%)
Porto Lula (60,6%)
Tóquio Bolsonaro (66,9%)
Nova York Bolsonaro (46,3%)
Paris Lula (77,3%)
Milão Lula (50,2%)

| IDNews® | Folhapress | Via NMBR |Brasil

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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