Eleitorado de Bolsonaro expõe mistura que inclui até opção de voto em Lula
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O eleitor de Bolsonaro se alinha com o restante dos brasileiros ao elencar saúde, desemprego e economia como os principais problemas do país, nesta ordem, e ao defender vacinas e máscaras em sua esmagadora maioria
A massa de eleitores de Jair Bolsonaro (sem partido) no segundo turno, em 2018, expressa atualmente uma mistura ideológica que vai de alinhamento ao presidente na defesa do governo ao voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022. Parte dos bolsonaristas se mantém fiel, e parte se arrependeu.
O ponto de vista dos eleitores de Bolsonaro está registrado na pesquisa Datafolha deste mês a respeito da avaliação do governo federal, do cenário eleitoral para o ano que vem e de opiniões sobre democracia.
O instituto ouviu presencialmente 3.667 pessoas com mais de 16 anos, em 190 municípios de todo o país, entre os dias 13 e 15 de setembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. No caso da amostra de eleitores de Bolsonaro, a margem de erro é de três pontos para mais ou para menos.
Em geral, se comparado com a média da população, o eleitor de Bolsonaro tem melhor avaliação do governo e responsabiliza menos o presidente por mazelas como desemprego, inflação e crise de energia.
Mas uma parte se descolou do bolsonarismo e não repetiria seu voto, chegando a avaliar o governo como péssimo, a defender impeachment e a declarar escolha por Lula.
O eleitor de Bolsonaro se alinha com o restante dos brasileiros ao elencar saúde, desemprego e economia como os principais problemas do país, nesta ordem, e ao defender vacinas e máscaras em sua esmagadora maioria.
No total, 53% da população considera a gestão Bolsonaro ruim ou péssima; 24% a veem como regular e 22% avaliam como ótima ou boa. A maioria se inverte no caso dos eleitores do presidente: 46% de ótimo ou bom, 31% de regular e 22% de ruim ou péssimo.
Nunca confiam nas declarações do presidente 57% dos brasileiros, enquanto 28% confiam às vezes e 8% confiam sempre. Mesmo entre quem votou em Bolsonaro em 2018, 25% nunca confiam no que ele diz -34% sempre confiam e 40% às vezes confiam.
O Datafolha mostra que 24% dos que elegeram Bolsonaro querem que o Congresso analise seu impeachment. Outros 73% não querem isso. Na população, a proporção é de 56% favoráveis e 41% contrários.
As três questões mostram que cerca de um quarto do eleitorado de Bolsonaro agora está em terreno de oposição a ele. É próximo do montante de eleitores do presidente que declara voto em Lula, num segundo turno contra Bolsonaro -23%. A maioria repete o voto (65%), e 12% declararam voto em nenhum, nulo ou branco.
Entre os brasileiros, a proporção é de 56% para Lula, 31% para Bolsonaro e 13% de nenhum, nulo ou Branco.
No primeiro turno, no principal cenário avaliado pelo Datafolha, a população declara voto em Lula (44%); Bolsonaro (26%); Ciro Gomes (PDT, 9%), João Doria (PSDB, 4%), Luiz Henrique Mandetta (DEM, 3%) e branco, nulo ou nenhum (11%).
Entre aqueles que votaram em Bolsonaro em 2018 a ordem é: Bolsonaro (56%); Lula (16%); Ciro (7%); Doria (6%); Mandetta (3%) e branco, nulo ou nenhum (9%).
Enquanto a população de maneira geral tem rejeição maior a Bolsonaro (59%), Lula (38%) e Doria (37%), os antigos eleitores do presidente rejeitam Lula (66%), Doria (46%) e Ciro (40%). Nesse grupo, 26% rejeitam Bolsonaro, ou seja, dizem que não votariam nele de jeito nenhum.
A pesquisa mostrou que, com um novo recorde de desaprovação, Bolsonaro vê sua base eleitoral encolher. Permanecem fiéis aqueles considerados seu núcleo duro, os mais radicais.
Nesse sentido, a pesquisa reflete a visão do presidente, compartilhada por bolsonaristas, de que não é ele quem ameaça a democracia, apesar de suas reiteradas declarações golpistas, e sim o Poder Judiciário.
Para 36% daqueles que votaram em Bolsonaro, o Poder Judiciário ameaça muito a democracia -26% acham que não ameaça. Na população, as taxas são de 26% e 32%.
Entre eleitores do presidente, 21% consideram que o Poder Executivo ameaça muito a democracia e 44% não veem ameaça alguma. No geral, os índices são de 37% e 25%.
De forma contraditória, os que votaram em Bolsonaro dizem, em sua maioria, não haver chance de que ele dê um golpe de Estado -mas, ao mesmo, tempo, a base bolsonarista ficou desapontada quando ele recuou por meio de uma carta feita com a ajuda do ex-presidente Michel Temer (MDB).
Quem votou em Bolsonaro diz que a chance de ele dar um golpe é de 27% e de não dar é de 68%. Metade dos brasileiros acha que o presidente tem chance de dar um golpe, outros 45% não veem esse risco.
A chance de que o país passe por uma nova ditadura é de 51% no geral, contra 45% que não enxergam essa chance. Entre os eleitores do presidente, os montantes são 43% e 53%.
Segundo a pesquisa, brasileiros e bolsonaristas se encontram na defesa da democracia. Respectivamente, 70% e 69% afirmam que a democracia é sempre melhor que qualquer outra forma de governo.
Para 9% e 12%, em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura do que um regime democrático. Já 17% e 16% acreditam que tanto faz entre democracia e ditadura.
Os eleitores de Bolsonaro veem menos ameaça à democracia em manifestações de bolsonaristas, nas ruas e nas redes, pedindo o fechamento do Congresso e do STF. Para 51%, os protestos são ameaça e para 46% não são. Na população, 66% veem ameaça e 31% não.
Os posts são entendidos como ameaça para 52% dos bolsonaristas e para 44%, não. Na população, 65% consideram ameaça à democracia e 31% não consideram.
A ameaça à democracia na divulgação de notícias falsas envolvendo políticos e ministros do STF tem índices parecidos: 73% dos eleitores do presidente e 77% dos brasileiros veem risco, contra 24% e 19% que não.
Se Bolsonaro cumprir sua declaração no 7 de Setembro em relação a não respeitar ordem judicial, 76% dos brasileiros defendem impeachment, contra 54% entre os eleitores do presidente.
Os eleitores de Bolsonaro também o protegem em relação a sua responsabilidade na pandemia, embora defendam o uso de máscara e ecoem a população geral na confiança da vacina -ao contrário do mandatário, que expõe opiniões negacionistas.
O desempenho do presidente em relação à pandemia é ruim ou péssimo para 54%, regular para 22% e ótimo para 22%. Entre quem votou Bolsonaro, os índices mudam para 28%, 26% e 45%.
O brasileiro (91%) defende o uso de máscara obrigatório enquanto a pandemia não estiver totalmente controlada -85% dos eleitores de Bolsonaro o fazem.
No total, 42% da população e 39% dos eleitores do presidente se sentem muito protegidos pela vacina contra a Covid que ele diz não ter tomado. Respectivamente, 48% e 49% se sentem pouco protegidos -10% e 12% não se sentem nada protegidos.
Quem votou em Bolsonaro no segundo turno de 2018 o culpa menos por problemas que o país enfrenta em seu governo. Em relação a inflação, 41% acreditam que seu governo tem muita responsabilidade, índice que cai para 34% entre seus eleitores.
Para desemprego, as taxas são de 39% e 25% respectivamente. A respeito da crise energética, as parcelas são de 27% e 19%.
Mesmo entre quem votou em Bolsonaro, 58% acreditam que a inflação vai aumentar (69% na população em geral). Outros 16% (12%) acham que vai diminuir e para 21% (15%) vai ficar como está. O desemprego ainda irá piorar na opinião de 43% dos eleitores do presidente e de 54% dos brasileiros -27% (25%) acham que vai diminuir e 27% (19%) acreditam que vai ficar como está.
Metade de eleitores de Bolsonaro acredita que a corrupção aumentará, percepção que sobe para 61% na média geral. Somente 11% da população crê que a corrupção irá diminuir, mas entre quem elegeu o presidente essa esperança alcança 20% da amostra.
Os eleitores de Bolsonaro enxergam, em sua maioria (54%), que a economia piorou no seu governo, mas demonstram maior expectativa de melhora (39%). Na população, 69% veem piora na economia e 28% acreditam em alguma melhora.
Para 39% dos brasileiros, a economia tende a piorar, algo com que só 26% dos eleitores de Bolsonaro concordam.
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