Em nova ofensiva, polícia e Prefeitura de SP planejam levar usuário de crack para delegacia
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Os agentes deverão abordar os dependentes químicos que estiverem consumindo crack na rua e os levar para a delegacia
A Polícia Civil e a Prefeitura de São Paulo planejam uma nova ação para coibir o tráfico e o uso de drogas no centro da cidade. Na nova estratégia, os agentes deverão abordar os dependentes químicos que estiverem consumindo crack na rua e os levar para a delegacia, de onde serão encaminhados para tratamento.
A ideia é combater o consumo da substância em vias públicas e acabar com a sensação de que há uma espécie de território livre para isso na cidade. Foi essa sensação, avaliam as autoridades, que deu vida às cracolândias ao aglomerar os usuários e, consequentemente, traficantes.
Na quarta-feira (11), uma operação da polícia dispersou os dependentes da praça Princesa Isabel, até então endereço da cracolândia no centro da capital paulista.
Prevista para ter início nos próximos dias, a nova ação deverá dar sequência a essa operação. Na delegacia -preferencialmente no 77º DP (Campos Elíseos)-, será feita a apreensão do cachimbo do usuário, que depois será encaminhado para uma unidade de saúde. O material apreendido será enviado para a perícia.
O poder público considera que sem a aglomeração de usuários, fica mais fácil combater o trafico de drogas e prestas assistência aos dependentes químicos.
Para as autoridades, isso vai estimular o usuário a buscar ajuda para se tratar, o que ajudaria a reduzir os crimes na região -grande parte deles é cometido pelos dependentes.
De acordo com policiais e integrantes da prefeitura ouvidos pela Folha, a medida tem total apoio do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e só não foi colocada em prática já nesta quarta-feira porque os envolvidos no projeto consideram que antes é preciso fazer um trabalho de conscientização da população.
Houve um consenso, de acordo com as fontes, de que é preciso explicar a importância dessa ação. Os representantes do poder público avaliam que apesar da medida parecer dura contra os usuários, ela é a única forma de tentar solucionar um problema que já dura três décadas.
Nesta quinta-feira (12), um dia após a ação policial que esvaziou a praça Princesa Isabel, grupos de usuários se espalharam pelo centro da cidade na tentativa de encontrar um novo local para se instalarem.
Assim que uma aglomeração se fixava em determinado ponto, carros da Guarda Civil Metropolitana (GCM) apareciam para dispersar os dependentes químicos. Em seguida, equipes da zeladoria eram ágeis em recolher todo o lixo deixado para trás.
A reportagem acompanhou essa movimentação durante toda a manhã. Assim como na madrugada de quarta, quando foi deflagrada a operação policial, não havia a presença de assistentes sociais e agentes de saúde em cada uma dessas dispersões feitas pela GCM. As equipes eram vistas em rotina habitual, caminhando em duplas e abordando os usuários sem articulação com as forças de segurança.
Durante a ação da polícia na quarta, as equipes de saúde chegaram na praça só às 7h, cerca de 3 horas após o início da operação.
A previsão da prefeitura de instalar tendas da Smads (Secretaria Municipal de Assistência Social) para facilitar o atendimento aos usuários não foi cumprida. Assim, equipes de assistência emergencial do programa Baixas Temperaturas abordaram os usuários e os encaminharam para abrigos.
De acordo com o secretário-executivo municipal de Projetos Estratégicos, Alexis Vargas, as equipes de saúde e de assistência social não foram avisadas sobre a ação policial para evitar vazamentos de informações. “A operação foi feita pela polícia, que determinou o horário”, disse. “Naquele horário, a equipe que estava lá não faz parte do Redenção”, disse ao citar o programa antidrogas da prefeitura.
Na madrugada, segundo o secretário, as equipes abordaram 156 pessoas. Ao longo do dia, esse número subiu para 336, sendo que 106 aceitaram ir para abrigos. Esses locais não têm atendimento específico a dependentes químicos –apenas 13 foram encaminhadas para o serviço específico de acolhida terapêutica da prefeitura.
O secretário considera que esses números de atendimento são bons. “Não acho que perdemos uma oportunidade de ouro [em colocar as equipes de saúde horas depois do início da operação]. As horas seguintes [à operação] é que são a oportunidade de ouro para convencer os usuários a aceitar o acolhimento porque não tem mais a referência do traficante”, continuou.
Na nova ação direcionada aos usuários, as abordagens serão baseadas no artigo 28 da Lei de Drogas, que prevê sanções para “quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.
Os policiais e membros da gestão municipal afirmam que estão preparados para enfrentar críticas, como a de que a ação tem um caráter higienista, por exemplo.
De acordo com Vargas, as equipes atuais de abordagens já são suficientes para atender o território onde os usuários de drogas se espalharam após a ação na praça Princesa Isabel, e não há planos para aumentar seu contingente.
O secretário disse que o que irá mudar é o perímetro de ação das equipes –se antes os assistentes sociais ficavam principalmente na Princesa Isabel, agora deverão percorrer toda a região, já que os usuários estão mais espalhados.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que “no momento, avalia todas as possibilidades para combater o tráfico e o uso aberto de drogas, dentro dos limites da lei, nas ruas de São Paulo”.
Policiais que integram a operação Caronte (que combate o tráfico de drogas na cracolândia) afirmam que todas as ações feitas até agora não tiveram disparo de balas de borracha ou outra violência.
Essa nova ação, na qual os usuários deverão ser levados para a delegacia, será a quarta etapa da Caronte, que começou em abril do ano passado.
Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) disse que “não tem um passe de mágica” para solucionar o problema da cracolândia, e que o caso demanda “perseverança permanente de políticas públicas para que a gente possa melhorar o sofrimento dos dependentes químicos”.
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