Filhos de Bolsonaro se cacifam para assumir lideranças no Parlamento
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| IDNews | Via Metrópoles.com/Ana Helena Paixão
No Senado, na Câmara dos Deputados e Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Flávio, Eduardo e Carlos ganharam musculatura com pai no Planalto
Parlamentares, três dos cinco filhos do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), estarão ainda mais sob os holofotes com o retorno dos trabalhos nas casas legislativas do país, em 1º de fevereiro. A partir dessa data, o atual deputado estadual e presidente do PSL no Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, assumirá uma das 81 cadeiras do Senado Federal. Já o deputado federal Eduardo (PSL-SP) chega à Câmara para seu segundo mandato como recordista histórico de votos a uma vaga na Casa. O vereador Carlos (PSC-RJ), por sua vez, retomará o mandato na Câmara Municipal do Rio de Janeiro como importante aliado do correligionário e novo governador do estado, Wilson Witzel.
Mesmo experientes no trânsito político, aliados afirmam que os Bolsonaro nunca procuraram para si o protagonismo nos cargos ocupados nem reivindicaram assumir posições de liderança. No entanto, como filhos do presidente da República, a pressão sobre eles e a expectativa para que tenham bom desempenho nos respectivos parlamentos aumentam.
“Eles são tremendamente simples e modestos, não procuram protagonismo, mas têm influência própria. Liderança não é obsessão para eles”, afirma o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, deputado federal reeleito por Pernambuco. Ele assumiu o comando da legenda do presidente da República em novembro de 2018. “Agora, se as coisas vierem a pedido das bancadas, para assumirem essa missão [de liderarem seus partidos no Parlamento], aceitarão”, avaliou.
Bivar, contudo, aposta que os Bolsonaro no Congresso Nacional e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro acionarão seus respectivos comandos partidários para darem o devido encaminhamento a projetos e medidas que considerem prioritárias tanto às suas bases eleitorais quanto, e principalmente, ao governo federal. “Há mecanismos para isso e devem utilizar os partidos para defender as bandeiras mais importantes”, completa o presidente nacional do PSL.
Aos 36 anos, Carlos é o herdeiro do presidente com mais experiência política e também o mais próximo de Jair Bolsonaro, cujo rosto está estampado em uma tatuagem no braço de Carlos. Estava com o presidenciável quando ele foi atacado durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
Foi eleito para a Câmara Municipal carioca em 2000, com apenas 17 anos, tornando-se, assim, o vereador mais jovem da história do país. Ele permanece até hoje na Casa, mas está em licença não-remunerada desde agosto, quando se afastou para se engajar na disputa presidencial. Chegou à atual legislatura como o vereador mais bem votado.
Durante a corrida eleitoral, assumiu o comando das redes sociais do pai presidenciável, muitas vezes sendo ríspido no trato com a imprensa e aliados – o que lhe conferiu o apelido carinhoso, dado por Bolsonaro, de “meu pitbull”. Foi justamente o modelo de comunicação direta e “sem papas na língua” na web, implantado por Carlos, que deu o impulso necessário ao então candidato ao Planalto para fidelizar eleitores e ampliar o alcance de seu discurso junto àqueles que não o conheciam tão bem, mas ansiavam pelo fim do sucesso petista nas urnas em disputas presidenciais.
Com isso, Carlos chegou à transição governamental com moral alta e, desde então, participa ativamente dos encontros do pai com seus principais assessores – assim o fez na quinta-feira (3), quando o novo presidente reuniu pela primeira vez seus ministros: Carlos estava lá. Contudo, o parlamentar não integra o primeiro escalão do governo. Desentendimentoscom o ex-presidente do PSL e atual ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, o levaram a descartar a possibilidade de assumir a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), que fica sob o guarda-chuva de Bebianno.
Em novembro, o político formado em ciências aeronáuticas afirmou que retomaria em 2019 seu mandato no Legislativo municipal fluminense. E deve ganhar ainda mais destaque neste retorno. Carlos é do mesmo partido do novo governador do estado, Wilson Witzel, e defende bandeiras comuns aos chefes dos executivos do RJ e federal, como o recrudescimento penal e a não responsabilização de militares que matarem no exercício de suas funções – o chamado excludente de ilicitude –, o que não é raro nas operações de pacificação e combate ao crime organizado em terras cariocas.
Com o fim da intervenção federal na segurança pública do Rio, Witzel precisará ainda mais de apoio de vereadores e deputados estaduais para levar adiante seus projetos mais polêmicos. O governador, porém, escolheu outro filho do presidente – no caso, o deputado estadual e senador eleito Flávio – para acompanhá-lo em viagem a Israel para conhecer drones que podem abrir fogo ao sobrevoarem uma região. Witzel quer usá-los nas operações “de guerra” em comunidades do Rio.
Embora vereador, a influência de Carlos junto à administração federal não deve minguar. Não bastasse a presença constante nos compromissos oficiais do presidente, enquanto os irmãos aguardavam Bolsonaro dentro do Congresso Nacional para ver o pai empossado como chefe do Poder Executivo, Carlos desfilava com o novo mandatário do país e a madrasta, Michelle, no Rolls-Royce presidencial pela Esplanada dos Ministérios (foto abaixo). Nem a filha do casal, Laura, 7 anos, teve essa honra.
Assim como o pai durante seus 28 anos de deputado federal, Eduardo Bolsonaro passou o primeiro mandato na Câmara dos Deputados como integrante do chamado baixo clero – grupo com pouca expressão na ribalta política nacional e de posição conservadora, mas importante para dar sustentação a qualquer governo. Quando a nova legislatura tiver início, contudo, a situação do político tende a mudar.
Desta vez, Eduardo adentra o Parlamento com a moral de ter sido eleito deputado federal com a maior votação da história do país: foram 1.814.443 votos (98,28% do total válido). Além disso, as bandeiras que defende – algumas consideradas antes retrógradas demais para sequer entrar na pauta de votação da Câmara – são as mesmas do projeto vencedor que levou o pai ao Palácio do Planalto.
Projetos que dormitam nas gavetas do Congresso tendem a ser encampados pelo último dos filhos de Jair Bolsonaro a entrar na política. Entre eles, a criminalização do comunismo no Brasil; o fim da política de cotas para negros e afrodescendentes, bem como do auxílio-reclusão para presos e das audiências judiciais de custódia; o estabelecimento do trabalho obrigatório para detentos, a revogação do Estatuto do Desarmamento e a redução da maioridade penal dos atuais 18 para 16 anos.
Advogado, Eduardo Bolsonaro é escrivão da Polícia Federal e também integra a chamada bancada da bala – oficialmente Frente Parlamentar da Segurança Pública. Apoia a Operação Lava Jato e o projeto 10 Medidas Contra a Corrupção, o recrudescimento penal e a valorização das Forças Armadas. É contra a união de pessoas do mesmo sexo.
Para a nova legislatura, o PSL contará com 52 deputados federais e espera que, na esteira do fenômeno Jair Bolsonaro, outros parlamentares troquem de legenda para reforçar o partido do presidente. Eduardo seria, portanto, importante nessas negociações, na reapresentação de projetos encampados pelo pai enquanto deputado e na defesa das propostas prioritárias do governo federal.
Contudo, a inexperiência pode atrapalhá-lo: prestes a completar 35 anos em julho, já foi chamado pelo pai de “garoto” em pelo menos duas ocasiões e levou puxões de orelha públicos, como quando esqueceu o dia de votação para a escolha do presidente da Câmara em 2017 – Jair Bolsonaro ficou em último lugar na disputa e não contou com o voto do filho – e ao pregar o fim do Supremo Tribunal Federal (vídeo abaixo). Já presidenciável, o pesselista falou depois sobre a saia justa com o STF: “Já adverti o garoto”.
Quatro vezes deputado estadual no Rio de Janeiro e presidente do PSL no estado, o advogado Flávio Bolsonaro completará 38 anos, em abril, em uma nova Casa parlamentar. Nas eleições de outubro, ele foi o candidato ao Senado Federal mais bem votado pelos cariocas, tendo recebido 4.380.418 votos (31,36% do total válido).
Único casado dos filhos de Bolsonaro e pai de duas meninas, Flávio, que já disputou a prefeitura do Rio, é considerado o mais “moderado e progressista” da família – embora já tenha louvado o período militar. Segundo interlocutores é também o mais afastado do pai: eles teriam embates sobre questões ideológicas e porque o senador eleito é politicamente independente do “capitão”.
Fez campanha, por exemplo, ao lado de Wilson Witzel, embora Jair Bolsonaro tenha pedido que os filhos não apoiassem qualquer candidato ao governo do estado. No período eleitoral, Flávio chegou a percorrer ruas em Nilópolis, na Baixada Fluminense do Rio, acompanhado de nomes ligados ao jogo do bicho. Também teve ajuda dos policiais Alex e Alan Rodrigues de Oliveira, presos na Operação Quarto Elemento, que investiga suposta quadrilha de policiais especializados em extorsões.
Durante sua campanha ao Senado, prometeu empenho para, na Câmara Alta do Parlamento brasileiro, reduzir a maioridade penal e revisar o Estatuto do Desarmamento, além de trabalhar duro para desburocratizar leis que, em sua avaliação, atravancam o empreendedorismo e a geração de empregos no país. Também se comprometeu a se posicionar contra a legalização de drogas e a ideologia de gênero nas escolas.
Não contava, porém, que antes de virar notícia por seu desempenho no Senado Federal teria que dar explicações sobre atividades do homem que lhe servia como motorista e segurança na Assembleia Legislativo do Rio de Janeiro. Até outubro, foi chefe de Fabrício Queiroz, o ex-assessor por cujas contas bancárias teriam passado “movimentações financeiras atípicas” de R$ 1,2 milhão, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – órgão do Ministério da Fazenda.
O Coaf foi comunicado das movimentações incomuns do policial militar aposentado pelo banco porque as transações são “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira” do ex-assessor parlamentar e amigo dos Bolsonaro. O relatório do órgão cita um cheque de R$ 24 mil destinado à primeira-dama, Michelle Bolsonaro. A compensação do documento em favor da mulher do presidente da República aparece na lista sobre valores pagos pelo PM.
O ex-motorista, que faltou por duas vezes a depoimentos sobre o caso no Ministério Público do Rio de Janeiro, alega que as operações são resultantes de vendas de carros usados que promovia e os R$ 24 mil para a mulher do presidente seriam o pagamento de um empréstimo pessoal. Jair Bolsonaro disse o mesmo:
Sempre gozou de toda a minha confiança. E mais de uma vez emprestei dinheiro para ele, como emprestei para outros funcionários. Não vejo nada de mal nisso. E não cobro juros. Ele falou que vendia carros. Eu sei que ele fazia rolo. Mas quem vai ter que responder é ele“
Até que o ex-motorista explique sua situação, Bolsonaro disse não querer contato com Queiroz, e pontuou que o caso veio à tona para atingi-lo. A devassa promovida pelo Coaf lista, no total, movimentações financeiras suspeitas nas contas de 75 funcionários e ex-funcionários da Alerj, ligados a 21 gabinetes, de deputados estaduais integrantes de 14 partidos políticos: as transações chegam a R$ 207 milhões, segundo o órgão. O relatório indicou, contudo, que pelo menos nove funcionários e ex-funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro fizeram operações (depósitos ou recebimentos) na conta de Fabrício Queiroz, incluindo suas duas filhas e esposa.
Para aliados do clã, dificilmente o ex-patrão do ex-assessor – o deputado estadual Flávio – brilhará no Senado Federal até deixar claro qual sua participação ou isenção sobre os negócios mal explicados de Fabrício Queiroz. Antes, a expectativa era de que tivesse papel fundamental para o andamento de iniciativas de interesse da União na Casa, somando-se ao fiel amigo de Bolsonaro, o deputado federal e senador eleito por São Paulo Major Olímpio.
Lançado à corrida pela Presidência do Senado pelo presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, segundo fontes ouvidas pelo Metrópoles, Olímpio pode tanto assumir o comando da Casa, se bem-sucedido no pleito, quanto, em caso de derrota, aumentar o passe do partido nas tratativas no Congresso (a legenda fez quatro senadores). No mínimo, será líder da sigla ou do governo no Senado. Os aliados, contudo, não sabem o que esperar do desempenho do futuro senador Flávio Bolsonaro após o caso Coaf/Queiroz. Por enquanto, o primogênito no Presidente da República tem reiterado: “Não fiz nada de errado“.