Guedes diz a empresários que mercado deve evitar ‘posição infantil’ sobre teto de gastos
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Ele afirmou que o país chegará ao ano eleitoral com um déficit maior do que o deste ano, mas considerou o movimento completamente compreensível diante das demandas da classe política
O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta quarta-feira (24) esperar que o mercado compreenda o governo após a manobra que dribla o teto de gastos, em vez de ter uma “posição infantil” sobre o assunto.
Ele afirmou que o país chegará ao ano eleitoral com um déficit maior do que o deste ano, mas considerou o movimento completamente compreensível diante das demandas da classe política.
“Vamos para a dimensão política e a preocupação com o social, [o movimento é] perfeitamente compreensível. Eu espero que os mercados compreendam isso ao invés de ter uma posição um pouco mais infantil de que ‘o símbolo é o teto’, ‘o teto ou a morte’, ‘vou pedir demissão hoje porque a classe política decidiu furar o teto'”, disse Guedes.
O ministro fez as declarações durante jantar na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria) promovido pelo MBC (Movimento Brasil Competitivo). O teto de gastos é visto como uma âncora para as contas públicas e os movimentos do governo geraram reações nos mercados de juros, câmbio e ações.
Após pressões da classe política por mais gastos, o governo decidiu incluir na PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios dispositivo para driblar a regra.
A PEC muda o teto de gastos alterando sua regra de correção, além de limitar o pagamento de precatórios (dívidas do Estado reconhecidas pela Justiça). Quatro membros de sua equipe pediram demissão em meio à manobra.
Para Guedes, no entanto, a piora fiscal com a proposta é limitada. “Em vez de 0,5%, o déficit vai ser 1% ou 1,2% [no ano que vem]. Eu acho que o Brasil é um pouco maior do que essa polarização política, jogando um pedaço do governo contra o outro”, afirmou.
Guedes afirmou que o governo Bolsonaro sairia gastando menos do que quando entrou, mas que “não vão deixar” isso acontecer -mencionando pressões por mais gastos, mas dizendo em seguida que as demandas são compreensíveis.
“Somos o primeiro governo que sai gastando menos do que quando chegou. Naturalmente, não vão deixar que a gente faça isso. Tem as pressões para o outro lado dizendo ‘bom, se já arrecadou, tira uma nota mais baixa aí no fiscal'”, disse.
“[São] pressões políticas naturalmente compreensíveis para cicatrizar sequelas para atenuar os impactos da pandemia”, disse. Ele citou como exemplo o programa Auxílio Brasil e seu valor maior do que o do antecessor Bolsa Família.
“Em vez de terminar o ano com déficit praticamente zero, vamos para as eleições com déficit um pouco acima ou igual o deste ano. [Em torno de] 1%. Parece razoável”, afirmou.
Guedes ainda disse que o país está estagnado há anos, e que isso não é culpa do atual governo. “Não é o governo Bolsonaro que esta estagnando o Brasil, o Brasil estagnou”, afirmou.
O ministro fez um apelo para que os empresários apoiassem as reformas no Congresso. Disse ainda haver uma ala do governo contrária ao avanço delas, por achar que prejudicam o presidente eleitoralmente. Sinalizou também que esse entorno teria interesses políticos próprios ao sugerir isso.
“Dentro do governo, tem um entorno também que acha que presidente ganha se não fizer reforma”, disse.
“Eu acho que é o contrário. Avançar com as reformas é o sinal de uma administração que quer mover o Brasil. Mas tem gente, o cara quer ser eleito… Bom, deixa para lá”, completou.
O ministro não mencionou nomes, mas nos bastidores enfrenta uma batalha com a ala política do governo, em especial com Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) –que deve ser candidato ao governo do Rio Grande do Sul em 2022.
Essa ala do governo defende que Bolsonaro gaste mais com programas sociais no último ano de governo e deixe as reformas de lado. O próprio presidente admitiu a dificuldade de aprová-las na reta final de sua gestão.
A manobra que alterou o cálculo do teto de gastos e levou à debandada na equipe de Guedes foi a mais recente vitória da ala política sobre Guedes.
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