Saúde & Cuidados

Hepatite C. Médica pede “intensificação do rastreio” em grupos de risco


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A propósito do Dia Internacional de Consciencialização para a Hepatite C, assinalado a 1 de outubro, Rita Serras Jorge, médica e elemento do Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado da SPMI, assina este artigo de opinião.


A hepatite C é uma doença infeciosa que causa inflamação do fígado e é provocada pelo vírus da hepatite C (VHC). A sua principal via de transmissão é através do contacto com sangue contaminado, nomeadamente, através da partilha de seringas, transfusões sanguíneas realizadas antes de 1992, uso de material não esterilizado, etc. Contudo, raramente, pode também ser transmitida por via sexual e de mãe para filho durante a gravidez ou parto.

Após a infeção, 20 a 30% dos indivíduos curam-se de forma espontânea, mas os restantes evoluem para infeção crónica que pode causar cirrose hepática e cancro do fígado. A infeção crónica pode ser assintomática durante décadas o que torna difícil o seu diagnóstico atempado.

Desde 2015 que estão disponíveis novos fármacos para o tratamento da hepatite C, designados de antivirais de ação direta, que são altamente eficazes, com taxas de cura na ordem dos 97%. Estes medicamentos são disponibilizados gratuitamente ao utente, muito bem tolerados e possuem poucos efeitos colaterais. A duração desta terapêutica é efetuada por períodos cada vez mais curtos, podendo a maioria dos doentes atingir a cura após oito semanas.

Apesar dos avanços científicos na área, a nível mundial, surgem anualmente 1,5 milhões de novos casos da doença e esta é atualmente responsável por cerca de 300.000 mortes por ano. Determina ainda morbilidade significativa e custos elevados na área da saúde. Em 2015, as hepatites virais no seu conjunto eram a 7.ª causa de morte no mundo.

Dado o elevado impacto desta doença, as Nações Unidas na sua Assembleia Geral de 2015 definiram na Agenda para 2030 vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável nos quais incluíram a erradicação das hepatites como principais causas de morte até essa mesma data. Desde então, a Organização Mundial de Saúde tem emitido várias orientações para o atingimento deste objetivo, incluindo medidas ao nível da prevenção, diagnóstico, tratamento e cuidados aos doentes com hepatite C.

Para o atingimento destas metas, foi criado em Portugal o Programa Nacional para as Hepatites Virais, sob alçada da Direção Geral de Saúde, que tem como diretor o Prof. Rui Tato Marinho. Este programa visa coordenar ações e desenvolver orientações para os profissionais de saúde e organizações não governamentais (ONG) envolvidas na área de forma a que estas metas sejam atingidas.

No seu último relatório, apresentou como objetivos para os próximos dois anosa criação de normas para que todos os indivíduos realizem o teste da hepatite C pelo menos uma vez na vida, a par de uma intensificação do rastreio junto dos grupos de risco, procurando ainda uma descentralização dos cuidados de saúde de forma a aproximá-los das populações mais difíceis de acompanhar e tratar, como por exemplo os utilizadores de drogas, os reclusos, os sem abrigo e os profissionais do sexo.

Dada a facilidade atual de tratamento, o esforço dos profissionais de saúde a nível mundial têm-se centrado no diagnóstico do maior número de indivíduos, com enfoque particular nos grupos de risco, e na agilização do acompanhamento, disponibilização e cumprimento do tratamento. Em Portugal, têm sido levadas a cabo várias ações de rastreio da população geral, estando inclusive disponíveis testes rápidos nalgumas farmácias comunitárias.

O acompanhamento comunitário de indivíduos em situação de exclusão social, inseridos em programa de reinserção ou recuperação, frequentadores de programas de consumo Assistido de estupefacientes, etecétera, tem constituído uma prioridade e o trabalho desenvolvido entre os profissionais de saúde e as ONG que dão apoio a estes indivíduos tem resultado em ganhos significativos no cuidado aos mesmos, possibilitando um diagnóstico de proximidade e um acompanhamento ao longo do processo de tratamento.

Contudo, muito há ainda a ser feito. É também necessário consciencializar a comunidade e o poder político para estas problemáticas.

Se tem algum dos fatores de risco acima mencionados e nunca realizou o teste da hepatite C, fale com o seu médico. A hepatite C tem cura!

*Artigo de opinião assinado pela médica Rita Serras Jorge

| IDNews® |Via NMBR |Brasil|

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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