Juiz se irrita com pedido de invasor do Capitólio para visitar família da namorada na Jamaica
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A promotoria já havia se manifestado contrária ao pedido
No dia em que os Estados Unidos lembraram a marca de um ano de um dos maiores ataques recentes à democracia do país, uma juíza do Distrito de Colúmbia foi direta ao julgar o pedido inusitado de um acusado de participação no ato. “Este tribunal não comemorará o aniversário de um ano do ataque ao Capitólio”, escreveu Beryl Howell.
A magistrada analisou a solicitação de Anthony Williams, réu em cinco crimes por envolvimento na invasão do Congresso por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, para uma viagem de dez dias à Jamaica. O objetivo dele era visitar a família da namorada, com quem mantém um relacionamento “há mais de um ano”. A promotoria já havia se manifestado contrária ao pedido.
O caso foi revelado pelo site BuzzFeed News.
Na decisão, Howell usa por mais de uma vez um tom de sarcasmo, dizendo saber que sua negativa impactará o que seria “um importante passo na relação pessoal [amorosa]” do réu, “que deseja deixar o inverno de Michigan para passar dez dias no clima mais quente da Jamaica”.
Ela ressalta, porém, que Williams “abdicou de sua irrestrita autorização para viagens internacionais quando […], em 30 de dezembro de 2020, anunciou a intenção” de participar de agitações populares em Washington. Na data, enquanto Trump propagandeava alegações falsas de fraude na eleição que perdeu para Joe Biden, muitos de seus apoiadores planejavam ações para o dia da homologação do resultado no Congresso.
“Sim, estamos irritados e estamos indo ao Capitólio”, escreveu Williams em um post no Facebook destacado na ação. Na decisão, Howell ainda lembra que, no dia do ataque, o réu se mostrou orgulhoso e satisfeito, ao dizer que, junto com a multidão, havia “tomado [aquela] porra de prédio”.
Apesar do vandalismo, do registro de ameaças a congressistas e de enfrentamentos com policiais -a invasão do Capitórlio deixou cinco mortos-, ele tratou o dia como “o mais orgulhoso da minha vida”.
A investigação descobriu a participação de Williams no ataque por causa de publicações no Facebook feitas enquanto ele estava no prédio. Nos vídeos, aos quais o FBI teve acesso, ele fala do sucesso de entrar no Congresso e diz que “tempos extremos pedem medidas extremas”. As imagens também o mostram ao lado de estátuas que ficam na sede do Legislativo americano.
O apoiador de Trump é acusado pela Justiça americana de cometer cinco crimes, entre eles entrar e permanecer em um prédio ou terreno restrito, conduta desordenada e disruptiva em um prédio ou terreno restrito e conduta desordeira no Capitólio.
O pedido de viagem de Williams não é inédito. De acordo com o BuzzFeed, em fevereiro um americano do Texas também acusado de participar da invasão solicitou autorização para ir ao México a trabalho.
Na ocasião, o promotor não se opôs ao pedido e o juiz do caso autorizou a viagem. O episódio, porém, gerou revolta de muitos americanos, que acusaram o Departamento de Justiça de afrouxar o trato com os invasores. Nos EUA, é comum que magistrados autorizem esse tipo de deslocamento a réus que respondem por crimes não violentos.
Um ano depois de uma multidão invadir o Congresso tentando cancelar o resultado da eleição que garantiu a derrota do republicano Donald Trump, os EUA já encontraram e puniram mais de 700 participantes do ataque.
A investigação envolve diversos órgãos federais. Em uma das frentes, o FBI tem feito um amplo trabalho para identificar e prender pessoas que participaram da invasão de fato. A grande quantidade de imagens, muitas delas publicadas em redes sociais pelos próprios ativistas, tem ajudado na tarefa.
Segundo dados do Departamento de Justiça, até 30 de dezembro cerca de 725 réus foram presos. Destes, mais de 225 foram processados por atacar ou impedir o trabalho de funcionários públicos, 10 por atacar profissionais de imprensa e 75 por entrar em área restrita com uma arma mortal.
Outros 40 foram processados por conspiração para obstruir ação do Congresso, impedir a ação da polícia ou atacar agentes. Dos réus, 165 se declararam culpados e 70 já foram julgados: 38 receberam penas de prisão -a mais dura delas foi de 5 anos e 3 meses.
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