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Lula incomoda Washington ao receber visita de chanceler russo


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Mais do que a visita de Estado à China, em que já foi difícil para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sustentar a imagem de neutralidade no contexto da Guerra Fria 2.0 entre Pequim e Washington, a vinda de Lavrov posiciona o Brasil de um lado do conflito na Ucrânia aos olhos da diplomacia americana e ocidental.

PELO MUNDO - Lula sendo Lula

O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, desembarca nesta segunda-feira (17) em Brasília para uma viagem de dois dias ao país, na primeira etapa de um giro em que seguirá para três adversários dos Estados Unidos na América Latina próximos do PT.

Mais do que a visita de Estado à China, em que já foi difícil para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sustentar a imagem de neutralidade no contexto da Guerra Fria 2.0 entre Pequim e Washington, a vinda de Lavrov posiciona o Brasil de um lado do conflito na Ucrânia aos olhos da diplomacia americana e ocidental.

Para o Itamaraty e para o Kremlin, isso é irrelevante, e a visita é uma prova de uma saudável independência brasileira em um mundo que não comporta dominâncias e blocos estanques. Para críticos, é um alinhamento excessivo entre o Brasil e a Rússia –condenada pela maioria dos países da ONU por sua guerra.

Nem tudo será consenso, apesar do avanço recente das compras brasileiras de óleo diesel da Rússia, que deve estar na agenda. Haverá nas conversas em Brasília o espinhoso tema dos alegados espiões russos que se passavam por brasileiros, um assunto em apuração pela Polícia Federal.

Para complicar, advogados do notório opositor de Vladimir Putin Alexei Navalni dizem que ele está em estado crítico na cadeia, supostamente envenenado pela segunda vez. Se morrer com Lavrov junto à Lula, o constrangimento internacional é certo.

Descontando esse cenário extremo, tudo tende a ser ofuscado pelo contexto geral. A ambiguidade brasileira em relação à invasão russa de 2022 precede o conflito, quando o então presidente Jair Bolsonaro (PL) visitou Moscou e prestou solidariedade ao colega Putin uma semana antes das tropas do Kremlin atravessarem a fronteira.

O motivo é a dependência brasileira de fertilizantes russos, que somam mais de 20% do mercado nacional. Havia outros itens na pauta, como a necessidade brasileira de acesso a combustível nuclear certificado para o reator atômico de seu futuro submarino.

Mas os fertilizantes dominam a conversa. Eles puxaram o aumento do fluxo comercial Brasil-Rússia em pleno regime de sanções ocidentais a Moscou: em 2022, os brasileiros compraram 37% a mais produtos russos do que em 2021, somando US$ 7,8 bilhões, um balança superavitária para Moscou em US$ 5,9 bilhões.

Ao mesmo tempo, o Brasil votou duas vezes na ONU condenações à agressão contra Kiev, ainda que tenha rejeitado aplicar sanções à Rússia. O pragmatismo, consonante com a posição histórica do país, acabou ampliado com a volta de Lula ao poder.

Afinal, foi sob suas duas passagens pela Presidência anteriores que o Brasil estimulou, anabolizado pelo boom de commodities da China nos anos 2000, uma diplomacia mais agressiva ao buscar parcerias no chamado Sul Global. O Brics, o bloco que une até adversários como Índia e China, foi resultado disso.

No começo do ano, o petista rejeitou um pedido da Alemanha para vender munição de velhos tanques Leopard-1 que opera, que seriam repassados junto com os carros de combate do modelo que a Europa enviará ao esforço de guerra ucraniano. Disse que isso fere a ideia de neutralidade.

Kiev protestou, e o próprio presidente Volodimir Zelenski convidou o brasileiro a visitá-lo, sem sucesso. Lula já havia irritado os ucranianos ao dizer que o líder era tão responsável quanto Putin pela guerra e, recentemente, foi criticado por sugerir que a paz poderia ser alcançada se a Ucrânia cedesse território.

Há duas semanas, Lula enviou o influente assessor e ex-chanceler Celso Amorim para encontrar-se com Putin no Kremlin. Agora, Lavrov devolve a cortesia. “Qual a vantagem disso?”, questiona Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington.

A terceira encarnação de Lula presidente, aproveitando a terra arrasada deixada por Bolsonaro no campo internacional, buscou vender a ideia de que o país está de volta ao jogo. Só que, em vez de focar em temas sobre os quais há consenso do peso brasileiro, como crise do clima e segurança alimentar, Lula mira alto.

Quer assento em um tema vital de segurança mundial, a Guerra da Ucrânia. Sugeriu a criação de um “clube da paz”, ideia bombardeada pelos EUA por incluir a China, aliada russa, e elogiada em Moscou e Pequim.

Para críticos, isso oscila entre deslumbramento e o risco de ser usado por Putin e Xi Jinping. No caso russo, a vinda de Lavrov serve à necessidade do Kremlin de mostrar que não está isolado. Em artigo à Folha, o chanceler falou sobre a importância de um mundo sem a unipolaridade americana do pós-Guerra Fria.

Esse tempo de todo modo acabou, como os múltiplos desafios enfrentados pelos EUA demonstram: crises econômicas, fracassos militares e a ascensão chinesa –exacerbada pelo papel de Xi Jinping, o mais poderoso líder do país em mais de três décadas.

Decano da grande diplomacia mundial, Lavrov está no cargo desde 2004. Com experiência prévia de dez anos na ONU, sempre foi respeitado como um ponderado negociador multilateral.

A crescente agressividade do Kremlin –vista na tentativa de impedir a expansão da Otan, a aliança militar ocidental– colocou Lavrov sob fogo dos antigos admiradores.

Diplomatas e analistas russos contemporizam, dizendo que Lavrov, 73, não tem influência decisiva sobre as medidas do chefe. Seja como for, ele tem passado dificuldades públicas, como quando um comentário seu afirmando que a guerra foi imposta à Rússia pelo Ocidente foi alvo de risadas de uma plateia. Ao mesmo tempo, segue em alta costura, tendo organizado a pomposa visita de Xi a Putin.

Para completar o quadro, Lavrov deixará Brasília rumo a três ditaduras próximas de Moscou, e também do PT e da esquerda, na região: Venezuela, Nicarágua e Cuba.

|IDNews® | Folhapress | Beto Fortunato |Via NBR | Brasil


The Russian Chancellor, Sergei Lavrov, arrives in Brasília on Monday (17) for a two-day trip to the country, in the first stage of a tour in which he will visit three adversaries of the United States in Latin America close to the PT.

More than the state visit to China, where it has been difficult for Luiz Inácio Lula da Silva (PT) to sustain the image of neutrality in the context of Cold War 2.0 between Beijing and Washington, the coming of Lavrov positions Brazil on one side of the conflict in Ukraine in the eyes of American and Western diplomacy.

For Itamaraty and the Kremlin, this is irrelevant, and the visit is proof of a healthy Brazilian independence in a world that does not tolerate domination and tight blocs. For critics, it is an excessive alignment between Brazil and Russia – condemned by most UN countries for its war.

Not everything will be a consensus, despite the recent advance of Brazilian purchases of diesel oil from Russia, which should be on the agenda. In the talks in Brasilia there will be the thorny issue of alleged Russian spies posing as Brazilians, a matter being investigated by the Federal Police.

To complicate matters, lawyers for Vladimir Putin’s notorious opponent Alexei Navalni say he is in critical condition in jail, allegedly poisoned for the second time. If Lavrov dies with Lula, international embarrassment is certain.

Apart from this extreme scenario, everything tends to be overshadowed by the general context. The Brazilian ambiguity in relation to the Russian invasion of 2022 precedes the conflict, when the then president Jair Bolsonaro (PL) visited Moscow and paid solidarity to his colleague Putin a week before the Kremlin troops crossed the border.

The reason is Brazil’s dependence on Russian fertilizers, which account for more than 20% of the domestic market. There were other items on the agenda, such as the Brazilian need for access to certified nuclear fuel for the atomic reactor of its future submarine.

But fertilizers dominate the conversation. They led the increase in the Brazil-Russia trade flow in the middle of the Western sanctions regime on Moscow: in 2022, Brazilians bought 37% more Russian products than in 2021, totaling US$ 7.8 billion, a surplus balance for Moscow in US$ 5.9 billion.

At the same time, Brazil voted twice in the UN condemning the aggression against Kiev, even though it rejected applying sanctions to Russia. This pragmatism, in line with the country’s historical position, was amplified with Lula’s return to power.

After all, it was under his two previous presidencies that Brazil stimulated, anabolized by China’s commodities boom in the 2000s, a more aggressive diplomacy by seeking partnerships in the so-called Global South. Brics, the bloc that unites even adversaries such as India and China, was a result of this.

Earlier this year, the Brazilian president rejected a request from Germany to sell ammunition for the old Leopard-1 tanks it operates, which would be sent together with the combat cars of the model that Europe will send to the Ukrainian war effort. He said that this hurts the idea of neutrality.

Kiev protested, and President Volodimir Zelenski himself invited the Brazilian to visit him, without success. Lula had already angered the Ukrainians by saying that their leader was as responsible as Putin for the war, and was recently criticized for suggesting that peace could be achieved if Ukraine ceded territory.

Two weeks ago, Lula sent influential adviser and former Foreign Minister Celso Amorim to meet with Putin in the Kremlin. Now, Lavrov returns the courtesy. “What is the advantage of this?” asks Rubens Barbosa, Brazil’s former ambassador to Washington.

The third incarnation of Lula president, taking advantage of the scorched earth left by Bolsonaro in the international arena, sought to sell the idea that the country is back in the game. Only that, instead of focusing on issues on which there is consensus of Brazilian weight, such as the climate crisis and food security, Lula aims high.

He wants a seat on a vital global security issue, the Ukraine war. He suggested the creation of a “peace club”, an idea bombed by the US for including China, a Russian ally, and praised in Moscow and Beijing.

For critics, this oscillates between dazzle and the risk of being used by Putin and Xi Jinping. In the Russian case, Lavrov’s arrival serves the Kremlin’s need to show that it is not isolated. In an article in Folha, the Chancellor spoke about the importance of a world without the American unipolarity of the post-Cold War era.

That time is over anyway, as the multiple challenges facing the U.S. demonstrate: economic crises, military failures, and the rise of China – exacerbated by the role of Xi Jinping, the country’s most powerful leader in more than three decades.

The dean of great world diplomacy, Lavrov has been in office since 2004. With previous experience of ten years at the UN, he has always been respected as a thoughtful multilateral negotiator.

The Kremlin’s growing aggressiveness – seen in the

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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