Maduro acusa Presidente da Colômbia de estar por trás de conspiração para o matar
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Maduro acusa Presidente da Colômbia de estar por trás de conspiração para o matar
Líder venezuelano escapou ileso, mas sete militares ficaram feridos. Presidente fala em “atentado” e aponta o dedo à oposição de “extrema-direita” e ao homólogo colombiano, Juan Manuel Santos. Bogotá rejeita acusações e desconfia da versão oficial dos acontecimentos. Não é a única.
7:41 |EL PAIS |2018AGO05|
O Presidente Nicolás Maduro diz ter sido alvo de um atentado enquanto discursava numa avenida de Caracas, no sábado. O ataque terá sido perpetrado com recurso a um drone com explosivos. O chefe de Estado aponta o dedo à oposição venezuelana e à vizinha Colômbia.
Maduro, que discursava numa tribuna ao lado da mulher, Cilia Flores, e de altas patentes militares, foi imediatamente retirado do local, ileso. Sete militares ficaram feridos e foram encaminhados para unidades hospitalares da capital.
As imagens da televisão venezuelana, que transmitia o discurso em directo, mostram a cerimónia a ser interrompida de forma abrupta, em ambiente de visível pânico, segundos após o chefe de Estado e oficiais das Forças Armadas terem olhado para cima. Nesse momento, em que o áudio é suspenso, as câmaras de televisão deixam imediatamente de focar o líder venezuelano, mas filmam um movimento de pânico entre centenas de elementos de uma parada militar, que fogem de forma desordenada.
Segundo a Associated Press, a versão governamental está longe da realidade. A agência ouviu bombeiros e “três autoridades locais” que assistiram à cerimónia e que garantem que houve uma explosão de uma bilha de gás num apartamento próximo
O discurso era proferido numa avenida da capital Caracas, por ocasião do 81.º aniversário da Guarda Nacional Bolivariana.Jorge Rodríguez, vice-presidente venezuelano para as áreas da Comunicação, Cultura e Turismo, afirmou na televisão nacional que foram detectados “artefactos voadores do tipo drone que continham uma carga explosiva que detonou nas imediações da tribunal presidencial”.
O regime responsabiliza a oposição pelo ataque. No Twitter, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello, escreveu que “a direita insiste na violência para tomar espaços que não consegue conquistar com votos”.
Mais tarde, Maduro falou ao país, apontando o dedo à “extrema-direita venezuelana” e a Juan Manuel Santos, o Presidente cessante da Colômbia. “Trata-se de um atentado para me matar […]. Não tenho dúvidas de que o nome de Juan Manuel Santos está por trás deste atentado”, disse o chefe de Estado numa intervenção transmitida pelas rádios e televisões em que aproveitou para interpelar o Governo norte-americano: “As investigações preliminares indiciam que vários dos financiadores [deste atentado] vivem nos Estado Unidos, no estado da Florida. Espero que o Presidente Donald Trump esteja disposto a combater grupos terroristas.”
Segundo a revista colombiana Semana, as autoridades têm já pessoas detidas na sequência desta investigação.
A reacção do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) colombiano não se fez esperar. No sábado à noite, segundo a imprensa de Bogotá, o governo “rejeitou enfaticamente” as acusações contra o Presidente Juan Manuel Santos, garantindo, através de um comunicado, que “são absurdos e carecem de todo e qualquer fundamento os indícios de que o governante colombiano será o responsável pelo suposto atentado contra o Presidente venezuelano”.
O MNE deixa, assim, claras as dúvidas em relação à versão oficial do sucedido e lembra que já é hábito que Maduro culpe Santos. “Exigimos respeito pelo Presidente Juan Manuel Santos, pelo Governo e pelo povo colombiano”, acrescenta o documento.
Quem reclama o “atentado”?
Entre as trocas de acusações, o Movimento Nacional Soldados de Flanela – um grupo que diz congregar forças da oposição –, reclamou a autoria do ataque através do Twitter e o relato que dele faz parece corroborar a versão oficial: “A operação era sobrevoar com dois drones carregados de C-4 [um explosivo plástico de uso militar] o palco presidencial. Franco-atiradores da guarda de honra derrubaram os drones antes da chegada ao objectivo. Demonstrámos que são vulneráveis. Hoje não conseguimos, mas é uma questão de tempo.”
Nas redes sociais e na televisão, circulou também um comunicado em que o incidente deste sábado é descrito como uma “acção militar” apoiada na Constituição e levada a cabo no âmbito de um plano mais lato para restituir a democracia ao país. Os promotores chamaram-lhe Operação Fénix.
Exilada nos Estados Unidos desde 2005, Patricia Poleo, jornalista opositora do Governo de Hugo Chávez, primeiro, e do de Maduro, que lhe sucedeu, leu o documento no programa Agárrate, transmitido pelo canal digital Factores de Poder. Nele se diz que a operação a que Maduro se refere como atentado é da autoria de um grupo formado por militares e civis que está cansado de ver o “país sequestrado” e que quer o “restabelecimento imediato da constitucionalidade” através de “eleições verdadeiras e livres”.
O grupo, acrescenta o comunicado, não pode tolerar que a população continue a suportar a fome, a falta de medicamentos e os atentados constantes aos direitos humanos. Não pode tolerar que “se use estrutura do Estado para apoiar o narcotráfico e o terrorismo internacional”, não pode aceitar a desvalorização permanente da moeda nem um sistema de ensino que não educa porque serve apenas para fazer a “doutrinação do comunismo”. Na Venezuela, sublinha, não se respeita a vontade popular, substitui-se a justiça pela impunidade e “a liberdade individual é uma memória distante”.
“Povo da Venezuela, para terminar com êxito esta luta emancipadora, é preciso que saiamos todos à rua, sem retorno, dando apoio aos nossos militares que respeitam a Constituição e aos líderes políticos civis na tomada e consolidação do poder, até que seja confirmado um Governo de transição”, conclui.
Versões diferente da do atentado
Segundo a Associated Press (AP), a versão que as fontes governamentais têm vindo a divulgar está longe do que realmente aconteceu. Esta agência de notícias ouviu “vários bombeiros” e “três autoridades locais” que assistiram à cerimónia e que garantem que o incidente se deveu à explosão de uma bilha de gás num apartamento próximo do palanque onde Maduro e as altas chefias militares se encontravam, podendo até ver-se fumo a sair de uma janela.
Estas fontes, que optaram pelo anonimato, não avançaram mais pormenores sobre como chegaram à conclusão de que se tratara de um acidente doméstico e não de um atentado contra a vida do Presidente venezuelano.
Ao diário espanhol El País, um militar que se encontrava a poucos metros de Maduro, também se revelou céptico quanto à versão oficial dos acontecimentos – garante que não viu nenhum drone e que não ouviu qualquer tiro. Até aqui as autoridades de Caracas têm dito que os explosivos chegaram por via aérea e que as forças de segurança foram obrigadas a disparar sobre um drone para pôr fim à ameaça à vida do Presidente.
O militar citado pelo El País diz que o que ouviu foi o som, vindo de cima, de uma explosão semelhante à provocada por um morteiro.
A transmissão do discurso, em directo em todas as televisões e rádios locais, foi imediatamente interrompida.
Escreve o diário espanhol que oficiais da GNB apreenderam, também, o equipamento de gravação e as imagens até então recolhidas pela televisão privada VivoPlay. O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa diz que desconhece o paradeiro dos três funcionários que cobriam a cerimónia para esta TV venezuelana.