Mais produtividade, menos expansão de terras ocupadas pela cana
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Mais produtividade, menos expansão de terras ocupadas pela cana
O estudo, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a University of Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos
8:13| 09/06/2016 José A Santilli - Diego Freire | Agência FAPESP
Um estudo desenvolvido na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) avaliou a eficiência agrícola da cana-de-açúcar no Brasil para determinar o grau de crescimento da produção canavieira sem a necessidade de dispor de mais terras.
Em artigo publicado na revista BioScience, da University of Oxford, os pesquisadores dizem que, se a produtividade atingir 80% do potencial da indústria brasileira, seria possível suprir a demanda de cana em um futuro próximo com redução de até 18% da área de cultivo.
O estudo, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a University of Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos, foi desenvolvido no âmbito da pesquisa “Eficiência da produção da cana-de-açúcar brasileira: cenário atual e projeções futuras baseadas em mudanças de clima, manejo do solo e de água”, realizada com apoio da FAPESP.
“Trata-se de um impasse no setor sucroalcooleiro brasileiro sobre para onde os investimentos devem ser direcionados: se para a ocupação de mais terras para o cultivo da cana-de-açúcar ou para a ampliação da produtividade nas terras já ocupadas, levando-se em conta o crescimento da demanda mundial. Diante disso, o artigo traça cenários para a produção de cana considerando a demanda projetada para 2024”, conta Fábio Marin, do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq.
O estudo analisa a trajetória de rendimentos do setor nas duas últimas décadas para determinar em que níveis eles devem ser acelerados de modo que se obtenha, em 2024, uma maior produção de cana sem a expansão da área de produção. Considerando essa série histórica de ganho de rendimento, o estudo avalia que o ritmo atual de crescimento não será suficiente para atender a demanda projetada sem uma expansão de área de 5% a 45% para cenários de baixa e alta demanda, respectivamente.
“O desafio é aumentar a produtividade da cana existente, dadas as preocupações sobre a conversão de novas áreas e a crescente demanda mundial por açúcar e etanol de cana. O rendimento médio nacional da produção nessas condições é de 62% do potencial – ou seja, há oportunidades de incremento de 38%”, diz Marin.
Para o pesquisador, “num cenário mais favorável, em que o setor atingisse uma produtividade de 80% do seu potencial, a demanda de cana em um futuro próximo seria plenamente atendida com uma possibilidade de redução de 18% na área de cana para o cenário de baixa demanda ou uma expansão de 13% para o cenário de alta demanda”.
Ainda de acordo com Marin, tal cenário é possível, mas desafiador, exigindo uma grande aceleração na taxa de rendimento em comparação com a tendência histórica, o que seria difícil de ser conseguido sem esforços de financiamento concentrado. Em contrapartida, alerta o pesquisador, “se continuarmos a aumentar os rendimentos seguindo a trajetória histórica das últimas duas décadas, será necessário expandir entre 5% e 45% a área de cana para satisfazer os cenários de baixa e de alta demanda até 2024”.
O estudo aponta a necessidade de focar os esforços de pesquisa na aceleração do ritmo de ganho de produtividade para minimizar a demanda por terras.
“Os resultados podem ajudar a fomentar as políticas e a priorização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento para atender a demanda de cana e, ao mesmo tempo, considerar as preocupações ambientais associadas”, aponta Marin.
Além da FAPESP e da University of Nebraska-Lincoln, por meio do Water for Food Institute, o estudo teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O artigo Prospects for Increasing Sugarcane and Bioethanol Production on Existing Crop Area in Brazil, com os resultados do trabalho, é assinado por Marin, Geraldo B. Martha Jr., da Embrapa, e Kenneth G. Cassman e Patricio Grassini, do Departamento de Agronomia e Horticultura da University of Nebraska-Lincoln. Está disponível para acesso aberto emhttp://bioscience.oxfordjournals.org/content/66/4/307.