Marina Silva diz que aliança de Lula com ruralistas cria amarras com o atraso
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“Com aliados desse tipo, ficará difícil cumprir as promessas feitas aos indígenas, aos ambientalistas, ao setor do agronegócio que quer se firmar na pauta da sustentabilidade e aos pequenos agricultores”, completa Marina Silva.
Marina Silva (Rede Sustentabilidade), ex-ministra do Meio Ambiente, recebeu em tom crítico as alianças que a chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) tem fechado com parlamentares da bancada ruralista em Mato Grosso nos últimos dias.
O deputado Neri Geller (PP-MT) será apoiado pelo petista em sua candidatura ao Senado, e o senador licenciado Carlos Fávaro (PSD-MT) participará da elaboração do programa de governo de Lula e coordenará a campanha presidencial no estado.
“Não há escolha que não tenha consequência. Aliar-se àqueles que lideram a articulação dos PLs [projetos de lei] da destruição é criar amarras com o atraso, estimular vetos internacionais ao agronegócio do Brasil e manter o país na condição de pária ambiental, uma das grandes conquistas do governo Bolsonaro”, diz Marina Silva à reportagem.
Geller é autor de texto substitutivo ao PL que estabelece a lei de Licenciamento Ambiental, atualmente em tramitação no Senado, e que é recorrentemente criticado por ambientalistas. Para eles, o texto transformar o licenciamento ambiental em exceção, e não mais uma regra.
Fávaro, por sua vez, é criticado por defensores da causa ambiental por seu parecer relacionado ao chamado “PL da Grilagem”. Ambientalistas viram favorecimento a grileiros no documento, com anistia a invasões de terras e mudanças nos marcos temporais para regularização fundiária, estimulando novas invasões.
“Com aliados desse tipo, ficará difícil cumprir as promessas feitas aos indígenas, aos ambientalistas, ao setor do agronegócio que quer se firmar na pauta da sustentabilidade e aos pequenos agricultores”, completa Marina Silva.
A ex-senadora é a principal liderança da Rede, partido que, em federação com o PSOL, oficializou apoio a Lula. O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) deseja que ela seja sua vice na disputa pelo Governo de SP, mas a Rede prefere que ela se mantenha como candidata a deputada federal.
Ela insinua que a aproximação com a bancada ruralista está se dando porque o PT mudou seus compromissos ambientais.
“A pergunta que precisa ser feita é: essas lideranças estão vindo por terem reavaliado suas ações e seus posicionamentos recentes ou porque estão sendo acolhidas suas teses antiambientais contraproducentes?”, afirmou.
Após anos rompida com o PT, partido ao qual foi filiada durante 30 anos, Marina vem sendo novamente cortejada por Lula.
Procurados pela reportagem, parlamentares ligados à causa ambiental e que fazem parte de siglas que apoiarão a chapa do petista apresentaram leituras menos críticas à aproximação com ruralistas.
O ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, vice-presidente do PSB do RJ, afirma que existe uma fatia do agronegócio que é mais moderna, menos truculenta e que consegue enxergar a necessidade de conciliar pautas ambientais ao aumento da produtividade.
Minc diz não conhecer Geller a fundo, mas afirma que, para ele, o deputado parece ser um representante mais responsável com o qual Lula deve dialogar.
O deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), que tem a causa ambiental como bandeira, também enfatizou a importância do diálogo e disse que isso sempre pautou as administrações de Lula.
“Acho natural que haja esse diálogo. O que temos dito é que o agro precisar mudar sua visão ambiental”, afirma. Sobre alianças políticas, disse ser uma questão a ser comentada pelos dirigentes partidários.
“As campanhas do Lula sempre trabalharam com integração. Defendo que tem que ouvir todo mundo. A política exige diálogo”, completa Agostinho. “É muito importante que a chapa recupere o que se perdeu nos últimos anos: os projetos de agricultura familiar e segurança alimentar”, conclui.
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