Minha arma de defesa não é fugir, diz Cesare Battisti
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Minha arma de defesa não é fugir, diz Cesare Battisti
“Para que eu quero fugir? A gente tinha ido comprar material de pesca, casacos de couro, vinhos”, disse ele
13OUT2017| 7:10 - Cesare Battisti/Folhapress - Foto: © Ricardo Moraes/Reuters (Foto de arquivo)
Énum sobrado simples em Cananeia, no litoral paulista, que o italiano Cesare Battisti espera seu futuro ser decidido em Brasília.
A tranquilidade da vida que leva na cidade de 12 mil habitantes foi interrompida há pouco mais de uma semana. Detido no dia 4 numa viagem à fronteira com a Bolívia (prisão que ele diz ter sido fraudulenta), foi considerado fugitivo e viu crescerem as pressões para que seja extraditado.
“A minha arma para me defender não é fugir. Estou do lado da razão, tenho tudo a meu lado”, disse ele à Folha na tarde desta quinta-feira (12).
A trama se arrasta em solo brasileiro desde 2004, quando o ex-militante de extrema esquerda condenado pela morte de quatro pessoas chegou ao país. Ele nega a acusação. Com a permanência autorizada em 2010 pelo então presidente Lula e solto desde 2011, Battisti achava que tudo tinha se resolvido.
O esforço da Itália para repatriá-lo e fazê-lo cumprir a condenação à prisão perpétua, no entanto, nunca cessou.
Nesta semana, o governo Michel Temer decidiu revogar a condição de refugiado do italiano. O caso também depende de uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), onde sua defesa entrou com um habeas corpus.
O mesmo STF, em 2009, chegou a aprovar a extradição, depois derrubada por Lula, a quem Battisti chama de “um bom estadista”. Ele pede que Temer resista ao que chama de pressões do governo italiano.
Vivendo na casa emprestada por um amigo, o escritor está construindo um imóvel para morar em Cananeia. A renda vem da ajuda de amigos e parentes na Itália e na França, além da renda de livros que lançou e de traduções que faz.
Casado com uma moradora da cidade desde 2015, teve filho com uma ex-companheira em São José do Rio Preto. O menino, de quatro anos, é uma das razões que Battisti diz ter para ficar. “Ele [Temer] vai separar um filho do pai por toda a vida?”
O sr. tem dito que a prisão por evasão de divisas em Corumbá foi uma “trama” e que estava sendo vigiado. Como aconteceu?
CESARE BATTISTI: Durante o trajeto me dei conta de que estavam atrás de nós. Houve momentos em que víamos que estavam esperando o carro passar. Pararam a gente 200 km antes de Corumbá. Não pararam mais ninguém. Só nós. Era claro que estavam nos esperando. Quando cheguei à delegacia eles estavam felizes da vida, comemoravam, como se festejassem o sucesso de uma operação.
Nem disfarçaram muito. Pegaram o dinheiro de todo mundo e começaram a dizer que era tudo meu. Porque só assim poderia superar os R$ 10 mil [valor máximo permitido]. Mas o dinheiro era dos três. Aí a gente começou a ver que as coisas estavam andando de um jeito minimamente estranho.
O sr. queria fugir?
Para que eu quero fugir? A gente tinha ido comprar material de pesca, casacos de couro, vinhos. Tínhamos encomenda também, de amigos daqui que são pescadores. Transformaram essa prisão em outra coisa. Eu na Bolívia não conheço ninguém. Vou passar a fronteira para passar de um problema para outro?
A informação de que a Itália está pedindo sua extradição seria um motivo para se pensar na sua fuga, não?
É, é o que eles falaram. Mas só que não tinha nem tenho a menor intenção de fugir para um país onde não sei o que vai acontecer. E deixar o país onde eu estou sendo protegido. Essas pressões políticas que lançam sobre o Brasil nunca pararam. Só que desta vez me dei conta de que a pressão está sendo mais forte e pesada do que as outras.
Com informações da Folhapress.