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‘Muita fé nas crianças’, diz Lázaro Ramos sobre escrever livros infantis


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‘Muita fé nas crianças’, diz Lázaro Ramos sobre escrever livros infantis

Para quem não conhece o lado escritor de Lazinho, como gosta de ser chamado, esta não é a primeira incursão dele no gênero


Edith e Gusmão são duas crianças que passam por pequenas grandes aventuras cotidianas e cujas jornadas geram reflexão. Em comum, eles têm ainda o fato de terem saído da mente de Lázaro Ramos, 42.
Mais conhecido como ator, ele lança duas obras voltadas para o público infantil: “O Pulo do Coelho” (R$ 39,90, 48 págs., ed. Carochinha) e “Edith e a Velha Sentada” (R$ 49, 64 págs., ed. Pallas).

Para quem não conhece o lado escritor de Lazinho, como gosta de ser chamado, esta não é a primeira incursão dele no gênero. Desde 2010, ele vem publicando títulos como “Cadernos de Rimas do João”, “Cadernos Sem Rimas da Maria” e “Sinto o Que Sinto”, entre outros.
O ator e autor explica que esse gosto pela escrita começou cedo, ainda na infância. “Sempre gostei da companhia do papel, mas eu não sabia se o que eu escrevia interessaria a mais alguém”, diz Ramos, em entrevista à Folha de S.Paulo.

“Eu escrevia mais como desabafo”, explica. “Não tinha exatamente um formato de diário, porque, às vezes, eu escrevia umas ficções e eram para mim mesmo. Meu pai até hoje guarda papéis meus da minha infância na casa dele.”

Lazinho, porém, afirma que virou autor de fato quase que por acaso. “Minha história com a escrita veio por causa do desemprego”, revela sobre a estreia com a peça infantil “Paparutas”, quando tinha 21 anos. “Foi uma fuga do desemprego.”

“Quando saí de Salvador, pela primeira vez, fui para Pernambuco fazer teatro”, diz o baiano. “De repente, o espetáculo parou e voltei para Salvador, sem emprego. Não tinha nenhuma peça para fazer, tinha pedido demissão do hospital em que eu trabalhava. Numa noite, desesperado, sem saber como me sustentar, escrevi o texto. No dia seguinte, mostrei para seis amigos, eles gostaram e disseram que fariam a peça.”

O ator também afirma que não decidiu racionalmente que iria escrever especificamente para crianças. “É um pouco o jeito de a minha cabeça funcionar”, explica. “Eu olho o mundo de um jeito humorado, emocional e lúdico. Este é um pouco do meu olhar. Escrevia, mas não sabia que era para criança. Hoje em dia, eu já consigo fazer especificamente pensando para as crianças, mas quando comecei, eu não sabia.”

Pai de João Vicente, 9, e Maria Antônia, 6, do casamento com Taís Araújo, 42, ele sabe que esse público é exigente e extremamente especial. “É onde eu tenho mais fé hoje em dia”, diz. “Se eu me perguntar: ‘Lázaro, onde é que você tem fé?’. Eu tenho muita fé nas crianças. Por isso que eu escrevo para crianças, porque eu sei que elas escutam e eu sei que elas entendem.”

Desta vez, ele explica que as histórias refletem sobre independência e equilíbrio. “São dois temas que estão muito quentes dentro da casa das pessoas”, diz, referindo-se à pandemia e à necessidade de maior convivência entre pais e filhos por causa das restrições, que deixaram as escolas do país fechadas por muitos meses.

Capa do livro “O Pulo do Coelho”, de Lázaro Ramos Divulgação ** Em “O Pulo do Coelho”, que tem ilustrações de Lais Dias, a ideia é falar de forma lúdica sobre a luta por autonomia e liberdade. Já “Edith e a Velha Sentada”, cujos desenhos foram feitos por Edson Ikê, propõe um uso mais comedido e responsável das tecnologias por parte das crianças.
“Meu filho fica no tablet, na televisão, no celular ou no computador o tempo inteiro, dá uma angústia”, diz o ator. “Eu escrevi para dar uma lição de moral, dizendo que a tecnologia era ruim, mas depois virou um livro para falar sobre o equilíbrio (risos). Pensei ser um tema importante para tratar com as crianças.”

Lazinho conta que os filhos fazem o controle de qualidade das tramas, já que são os primeiros a conferirem as novas histórias. “No começo era uma empolgação danada, agora eu tenho que pedir para lerem”, lamenta. “Chegou o momento em que não estão me achando grandes coisas, não (risos).”

“Mas eu consigo aprender muito com a reação deles”, comenta. “Isso é muito importante para mim. Algumas coisas eu reescrevo quando eles ficaram mais ou menos interessados na história. Vejo o efeito, deixo passar um tempo e converso depois para ver se a mensagem chegou até eles.”

O hábito da leitura é algo que ele faz questão de estimular nas crianças. “Lá em casa, a leitura é assunto do cotidiano”, comemora. “Eles já entendem que ler não é uma obrigação, mas, sim, um prazer. Foram crianças que foram muito criadas assim, desde o livrinho na banheira e da leitura de noite na cama, que já é tradição.”

Ele diz que, atualmente, o filho já lê sozinho, mas a filha ainda não. “Tem uma coisa bonita que, quando acontece, me deixa muito emocionado, que é quando João lê para Maria”, emociona-se. “Isso é muito legal, porque eu não tive essa vivência.”

Aliás, Lázaro diz que começou tarde a ser um leitor mais voraz. “Até 15 ou 16 anos, não tinha prazer nenhum em ler”, lamenta. “Pensava que era só uma obrigação para tirar uma nota na escola. Quando eu comecei a fazer teatro, saquei que a leitura tinha outros valores, que era prazer, era companhia, era uma maneira de ficar mais bem informado.”

“Perdi um tempo grande por isso”, continua. “Por isso que lá em casa é quase casa de ativista pela leitura. A gente fica com o livro embaixo do braço, na hora do almoço conversa sobre leitura, dá livro de presente… Tentando compensar o que, o que eu vivi!”

No momento, Lázaro Ramos também se dedica à produção de um livro infantojuvenil, cujo título é “Você Não É Invencível”, e trabalha na produção de um livro de não ficção para adultos. Como ator, ele gravou uma participação na segunda temporada de “Aruanas”, série estrelada por Taís Araújo no Globoplay.

Lazinho espera estrear no segundo semestre, entre outubro e novembro, o filme “Medida Provisória”, sua estreia na direção cinematográfica. A produção já estreou em festivais estrangeiros e recebeu elogios. “É muito bacana receber essas críticas positivas e ver a reação do público, mas no país de origem é outro sabor, né?”, avalia. “Eu confesso que estou ansioso.”

| IDNews® | Folhapress | Via NMBR |Brasil

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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