Netanyahu tenta voltar ao poder em eleição que lembra Dia da Marmota em Israel
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Nesta terça-feira (1°), os eleitores israelenses vão às urnas pela quinta vez desde março de 2019
O popular programa cômico de Israel “Terra Maravilhosa” (Eretz Nehederet) abriu sua temporada anual, em setembro, com uma cena imitando o filme “Feitiço do Tempo”. Mas, em vez de um meteorologista revivendo o Dia da Marmota, a versão israelense mostra um cidadão comum acordando sempre na mesma data: a das eleições para o primeiro-ministro.
A piada é quase óbvia. Afinal, nesta terça-feira (1°), os eleitores israelenses vão às urnas pela quinta vez desde março de 2019, numa média de um pleito a cada oito meses e meio.
A sensação de armadilha temporal, no entanto, não para por aí. Isso porque todas as pesquisas de intenção de voto apontam, novamente, para a continuação do impasse eleitoral que tem dificultado a montagem de uma coalizão de governo estável no país.
Os eleitores se dividem quase igualmente entre dois blocos: os que apoiam e os que querem evitar a volta ao poder do ex-premiê Binyamin Netanyahu –também chamado de Bibi–, líder do partido de direita Likud (União).
“Não há dúvida, é exaustivo fazer a mesma coisa há cinco eleições. São os mesmos partidos, as mesmas mensagens e os mesmos resultados. É devastador”, diz Ariel Kahana, analista político do jornal Israel Hayom.
No lado anti-Bibi estão duas figuras que despontaram nos últimos anos em Israel. A primeira é o atual premiê Yair Lapid, 58, um ex-âncora de TV bonitão que entrou na política há dez anos como bastião da classe média secular israelense. Seu partido, o centrista Yesh Atid (Há Futuro), vem ganhando popularidade. Se antes recebia entre 11 e 19 cadeiras das 120 do Parlamento, deve abocanhar, desta vez, entre 24 e 27, segundo as pesquisas eleitorais.
Mas Lapid tem contra ele a imagem de inexperiente. Ele ocupa o cargo de premiê há pouquíssimo tempo, desde o final de junho, quando foi convocada a eleição desta terça. Antes, o líder do governo era Naftali Bennett, do partido de ultradireita Yemina (À Direita).
Bennett e Lapid lideravam, juntos, uma coalizão formada por oito partidos heterogêneos que só tinham em comum a ojeriza a Bibi e conseguiram retirá-lo do poder. O plano era Bennett ser premiê nos dois primeiros anos do mandato e Lapid, nos dois anos seguintes.
Mas o governo caiu após perder maioria e se curvar ao peso das divisões internas –afinal, era formado por três partidos de direita, dois de centro e dois de esquerda, com apoio de um partido da minoria árabe. Lapid, que era uma espécie de “vice-premiê”, mesmo encabeçando o maior partido da coalizão, foi então elevado ao posto até a formação de um novo governo após novas eleições. Bennett abandonou a política.
O pouco tempo no poder é o que mais pesa contra Lapid. “Para construir sua imagem, ele precisa, mais do que tudo, de tempo para transformá-lo de um ‘turista casual’ em um líder. Não está claro que ele teve esse tempo”, afirmou o analista político Nahum Barnea no jornal Yedioth Aharonoth.
Nos últimos quatro meses, porém, Lapid teve agenda cheia: discursou na Assembleia-Geral da ONU, recebeu o americano Joe Biden, lidou com mais uma rodada de tensão com os palestinos e conseguiu assinar um histórico acordo com o Líbano para exploração de bacias de gás no mar Mediterrâneo.
O segundo personagem é o ministro da Defesa e ex-chefe das Forças Armadas Benny Gantz, do partido Azul e Branco, mas que concorre nessas eleições como parte da coligação Machané Mamlachtit (Campo Nacional). Suas ideias políticas são quase um mistério, e ele tenta se tornar o coringa dessa votação: alguém que poderia negociar tanto com o bloco pró-Bibi quanto com o anti-Bibi.
Mas, no final das contas, é Netanyahu quem será, novamente, a figura-chave deste pleito. Aos 73 anos, ele ocupou a cadeira de primeiro-ministro por 15 anos –sendo 12 anos consecutivos de 2009 até 2021, um recorde absoluto na história de Israel. Tentando demonstrar carisma, ele é inegavelmente o político mais popular, eficiente e malicioso que o país já teve.
Mas, paralelamente ao acúmulo de poder que o fez ser chamado de “King Bibi” numa capa da revista Time em 2012, Netanyahu colecionou inúmeros inimigos políticos e pessoais. Muitos de seus ex-aliados juram que nunca mais farão parte de um governo liderado por ele. O motivo: o ex-premiê é conhecido por não honrar acordos e passar a perna em qualquer possível competidor.
Um de seus maiores aliados, o parlamentar de extrema direita Bezalel Smotrich, foi gravado recentemente dizendo que Netanyahu é um “mentiroso, filho de mentiroso”. Fora isso, não se pode esquecer que Bibi foi indiciado em três casos de corrupção que ainda estão em andamento.
Apesar de tudo, ele demonstra uma ânsia quase insaciável por um retorno triunfal e, para isso, tem apelado para figuras da extrema direita antes consideradas à margem do debate político. Seu partido certamente será o mais votado e deve conquistar cerca de 30 cadeiras.
Mas, para conseguir o número mágico de 61 assentos -o mínimo para formar um governo- ele apadrinhou a coligação Otzmá Yehudit (Força Judaica), formada por Smotrich e Itamar Ben-Gvir, dois parlamentares que defendem a expulsão de cidadãos árabes que não jurem lealdade a Israel e são contrários aos direitos da comunidade LGBTQIA+.
Ben-Gvir tem como ídolo Baruch Goldstein, que matou 29 muçulmanos em 1994 em Hebron, na Cisjordânia. Ele é um advogado que se especializou em defender colonos e ativistas radicais acusados de crimes de ódio ou terrorismo.
Todas as pesquisas de opinião, no entanto, apontam que Netanyahu não vai conseguir maioria, bem como Lapid ou Gantz, que lidam com o enfraquecimento da esquerda e dos partidos da minoria árabe. Para muitos analistas, o nó da política local só será desatado no dia em que Netanyahu decidir finalmente se aposentar. Aí talvez novas alianças surjam. Até então, Israel deve continuar no seu Dia da Marmota particular, com uma 6ª eleição parlamentar, quem sabe, no horizonte.
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