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‘No capitalismo não é preciso fazer concessões trabalhistas’


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‘No capitalismo não é preciso fazer concessões trabalhistas’
Historiador brasileiro Lincoln Secco fala sobre a política de bem-estar social

01MAI2017| 11h32 - Capitalismo

Em uma entrevista exclusiva à Sputnik, o historiador brasileiro Lincoln Secco falou sobre como a política de bem-estar social foi uma resposta do capitalismo à Revolução Russa e como austeridade se torna cada vez mais viável sem um sistema político que a ameace.

O Dia dos Trabalhadores em 2017 assume um significado especial. Nos 100 anos da Revolução Russa, que em geral mudou a geopolítica, é inevitável revisitar a trajetória dos direitos trabalhistas que foram conquistadas ao longo do século. Para o historiador brasileiro Lincoln Secco, tais conquistas estão sendo atacadas atualmente em todo o mundo, em um caminho cada vez mais aberto à austeridade.

“Em suma, o ano de 1917 mudou as características do mundo. A Revolução Russa nesse ano impulsionou o movimento comunista internacional. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, os comunistas chegaram ao poder em vários países e o capitalismo foi forçado a fazer muitos reformas. Eles tiveram que dar uma resposta aos comunistas, que eram uma ameaça. Neste contexto, o modelo de estado social emergiu, foi uma tentativa de humanizar o capitalismo e dizer ‘olha como o capitalismo pode ser ainda melhor para os trabalhadores do que o próprio socialismo”, diz Secco.

Doutor em História Econômica da Universidade de São Paulo (USP), Secco analisou o contexto e o impacto da Revolução Russa no mundo. De acordo com o estudioso, a evidência de que a política do ‘Estado-providência’ foi uma reação ao sistema implantado pelos soviéticos é que a sua implementação está em cheque nos países europeus que a adotaram.

Na sua opinião, os cortes nos benefícios do Estado de bem-estar são cada vez mais comuns em nome da austeridade como uma solução para as crises financeiras. Além disso, Secco lembrou que as políticas de austeridade surgiram na década de 1980, precisamente quando a União Soviética começou a declinar, o que abriu espaço para os governos liberais da época.

“O estado de bem-estar está sendo atacado na Europa, bem como os direitos trabalhistas em todo o mundo. Alguns historiadores e analistas internacionais argumentam que isto é assim porque não há mais qualquer ameaça ao capitalismo, nenhum sistema político capaz de competir com os valores ocidentais. Como não há concorrência de outro sistema político, não há mais necessidade de fazer concessões aos trabalhadores “, eu disse.

Falando sobre o papel das marchas populares, Secco observa que sempre que a população vai protestar, há “políticos profissionais e partidos de ocasião para canalizar suas vozes.”

“Os setores populares que se manifestam carecem de organização para governar”, eu disse. O historiador exemplifica com a Revolução Francesa (1789-1799), quando a burguesia chegou ao poder após intensos protestos e conseguiram derrubar a monarquia.

Na Revolução Russa de Fevereiro de 1917, que, segundo Secco, foi um marco para a Revolução de Outubro do mesmo ano, algo como aconteceu: As pessoas que tomaram a rua para a renúncia do czar não foram os únicos que tomaram o poder. Na visão do acadêmico, outro exemplo são os protestos no Brasil em 2013, que acabaram canalizados pela oposição ao governo da então presidente Dilma Rousseff.

“A população têm êxito ao se auto-organizar para protestar suas demandas e chega a derrubar um governo, mas não logra instituir outro. Os partidos ou políticos profissionais que estão organizados acabam sequestrando a voz popular, tomando seu lugar, disputando sua representação” disse o historiador. Com informações da Sputnik News Brasil.

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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