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No Rio, musical coloca amor entre mulheres e MPB em cena


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No Rio, musical coloca amor entre mulheres e MPB em cena
Diretor do espetáculo, Sérgio Maggio destaca importância de discussão sobre gênero e sexualidade: ‘As caixinhas implodiram. O mundo é de muitos e variados’

09NOV2017|  7:52 - Espetáculo - Foto: Divulgação

Fica em cartaz até dezembro no Rio o espetáculo ‘L, O Musical’, dirigido pelo dramaturgo e curador Sérgio Maggio. A peça conta a história de uma conhecida autora de novelas que comemora com as amigas o sucesso do primeiro folhetim a incluir um triângulo amoroso entre mulheres, até que uma reviravolta muda toda a história. A atriz e poetisa Elisa Lucinda e a cantora e atriz de formação Ellen Oléria interpretam as personagens principais da trama, cujo elenco inclui as atrizes Renata Celidônio, Gabriela Correa, Tainá Baldez e Luiza Guimarães.

 Uma verdadeira homenagem às grandes cantoras e intérpretes da MPB, o musical traz canções de nomes como Ângela Ro Ro, Cássia Eller, Adriana Calcanhoto e Simone. O diretor também faz alusão à obra de Rainer Fassbinder, com ‘As Lágrimas Amargas de Petra Kant’. Ao começar o projeto, Maggio já tinha em mente a ideia de colocar em palco uma dupla de protagonistas negras. “Acreditava nessa escolha como política e decisiva para minha carreira. Atualmente, tenho dois musicais em circulação (‘L, O Musical’ e ‘Eu Vou Tirar Você Deste Lugar – As Canções de Odair José’), ambos estrelados por atrizes negras”, conta.

O espetáculo, que teve temporada em Brasília e deve seguir para São Paulo em janeiro de 2018, vem tendo boa recepção pelo público, segundo Maggio. “[A resposta dos espectadores] tem sido espetacular no sentido de atingirmos nosso objetivo maior com o público afetivo, a mulher lésbica”, diz.

Temos recebido inúmeros depoimentos de mulheres emocionadas, que se sentem acarinhadas e representadas no palco. Esse tem sido nosso maior prêmio”, afirma Sérgio Maggio.

O musical representa uma volta ao teatro para Ellen Oléria, que vinha se dedicando à carreira musical nos últimos 12 anos. “Estar no palco como atriz me tirou completamente da minha zona de conforto, me senti um tanto estrangeira”, diz ela. “Porém, o elenco é formidável e, junto com nossas preparadoras e preparadores físicos, e nossa coreógrafa, Ana Paula Bouzas, tive todo o suporte para ocupar esse espaço com leveza”.

Única atriz declaradamente lésbica no elenco, Ellen diz que este fato permitiu a ela contribuir em primeira pessoa à construção da peça. “Minha lesbianidade conduz e aprimora minhas vivências e encontros, inclusive dentro desse espetáculo. O valor disso foi poder contribuir com o processo a partir de um referencial em primeira pessoa, além de objeto de estudo. Contribui trazendo um universo muito particular, que não teria vazão fora do discurso oral”, explica.

“Não há mais como colocar questões de gênero sob o tapete”, diz diretor

O trabalho com o tema do amor romântico entre mulheres acompanha a carreira de Sérgio Maggio desde 2009, com a montagem de ‘O Cabaré das Donzelas Inocentes’. O autor considera “urgente” a inclusão do assunto nos palcos – opinião compartilhada por Ellen.

Não se fala muito a nosso respeito nas grandes mídias literárias, televisivas, radiodifusoras… e o mais comum é que uma carga altíssima de lesbofobia e misoginia acompanhem as nossas representações”, diz Ellen Oléria.

O musical inclui entre as personagens Simone, um homem transexual, interpretado por Gabriela Correa. A atriz admite ter sentido receio ao receber o papel, mas investiu em pesquisa sobre ativistas como João W. Nery e Lam Matos para dar corpo e voz a ele. “Senti uma espécie de medo em estar entrando num lugar de fala que não era meu. A questão da representatividade como força política é fundamental, e eu como atriz, entro em cena para contar uma história”, diz. “Não sabia por onde começar, então fui atrás de histórias, de narrativas de homens trans. Como sempre, eu gosto de pesquisar bastante sobre o tema da peça, de modo mais abrangente, e depois fui ficando mais específica com relação à transexualidade”, explica.

Gabriela destaca a música ‘Metade’ de Adriana Calcanhoto, como uma de suas preferidas no espetáculo. “É uma cena muito íntima, em que Simone abre o coração para o público sobre não conseguir se identificar com o corpo feminino, sobre sua raiva dos seios”, conta. A canção, que não estava no roteiro original da peça, acabou sendo incluída por descrever perfeitamente o sentimento do personagem.

Em tempos de polêmicas como o cancelamento da exposição ‘Queermuseu’, em Porto Alegre, e as críticas à performance do artista Wagner Schwartz, Maggio destaca a necessidade de pautar questões delicadas nas artes. “É urgente o teatro pôr no palco as questões que inquietam o mundo em momentos delicados como este em que vivemos. Estamos numa transição de mundos, passando para uma outra zona de direitos e de entendimentos, nesse momento perigoso, forças conservadoras se debatem porque sentem que o tempo escoou. Não há mais como colocar questões de gênero sob o tapete. As caixinhas implodiram. O mundo é de muitos e de variados. O teatro tem o papel de assentar esse furacão e apontar caminhos”, diz.

Serviço

‘L, O Musical’

Local: Centro Cultural Banco do Brasil – Rua Primeiro de Março, 66 – Centro, Rio de Janeiro

Data: de quarta-feira a domingo, das 19h30 às 22h30, até 17 de dezembro de 2017

Ingresso: R$ 20 (meia-entrada por R$ 10)

Mais informações no site do CCBB

 

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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