Educação & Cultura

O diálogo como estratégia pedagógica e política


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Em atividade sobre o centenário de Paulo Freire, reflexões sobre a obra “A Pedagogia do Oprimido” foram elucidadas


“Não basta ler Paulo Freire, tem que viver!”, a fala do professor da educação infantil, Reinaldo Oliveira, poderia ser uma síntese da atividade sobre o centenário do filósofo e educador brasileiro, realizada pela Câmara na noite da quinta-feira (16). As considerações feitas durante o debate atentaram para a necessidade de aliar a prática docente à teoria de modo a efetivar as transformações. O bate papo online, conduzido pela vereadora Fabi Virgílio (PT), presidenta da Frente Parlamentar em Defesa da Cultura e da Educação, contou com a participação de especialistas da educação e da população, que pôde participar por meio das redes sociais da TV Câmara Araraquara.

Roseane Aparecida Araújo, professora de pedagogia da Universidade Paulista (UNIP), reiterou a relevância da perspectiva de Freire de que somos seres inacabados. Para o educador, o inacabamento e a inconclusão do homem permitem que as mudanças aconteçam e, nesse sentido, a transformação deve fazer parte da prática docente. Roseane lembrou de um exemplo recente para situar o pensamento freireano. “A pandemia inverteu a ordem das coisas que já estavam dadas. Foi difícil, mas a gente precisou aprender a lidar com isso. Houve a necessidade de transformar e repensar o modo de ensinar”.

Se o mundo e a educação pressupõem transformação, Freire será um crítico ao neoliberalismo, que baseado na lógica do mercado, defende que as situações já estão dadas. “A educação para ele é a lógica da utopia, da esperança. A formação integral do ser humano. Nem tudo está dado como previsto no neoliberalismo, a educação pode promover transformação, sobretudo para fortalecer a democracia”, explicou a docente.

Francisco José Carvalho Mazzeu, professor da Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho (UNESP), frisou que a defesa de uma educação dialógica proposta por Freire, na qual quem ensina, aprende e quem aprende também ensina, não objetiva somente a reflexão pedagógica, mas sim uma estratégia política. “Tendo o horizonte das transformações sociais, da luta de classes, o diálogo é uma forma de unir forças para combater a opressão. ‘A pedagogia do oprimido’ (obra renomada de Freire) trata a educação como prática de luta do oprimido para que ele se torne livre da exploração”.

Mazzeu ainda destacou o entendimento freireano de que as classes populares precisam ser sujeitas na história. “Há uma dependência mútua entre oprimido e opressor. O oprimido quando se liberta, liberta também o opressor, porém o fim da opressão não vai partir deste, mas sim daquele. A revolução, entendida para o educador como um ato de amor, é necessária para a libertação da violência”.

A secretária municipal de Cultura, Teresa Telarolli, lembrou sobre a necessidade de unir forças para o fim da opressão. “A gente precisa estar sempre reafirmando as forças dos retrocessos porque elas são organizadas e potentes, mas nós somos mais”, enfatizou. Nesse sentido, Fabi ainda falou sobre a importância da realização do debate em questão. “Como disse Freire, ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo, todes nós sabemos alguma coisa, todes nós ignoramos alguma coisa. Ninguém é o detentor de toda a história. Por isso, são importantes a troca e o constante movimento de aprendizagem”, frisou a parlamentar.

Quem foi Paulo Freire?

Nasceu na cidade de Recife, em Pernambuco, no dia 19 de setembro de 1921. Foi um educador e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. Sua prática didática fundamentava-se na crença de que o educando assimila o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em contraposição à por ele denominada educação bancária, tecnicista e alienante: o educando criaria sua própria educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um já previamente construído; libertando-se de chavões alienantes, o educando seguiria e criaria o rumo do seu aprendizado. Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência política. Foi o brasileiro mais homenageado da história, com pelo menos 35 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades da Europa e América; e recebeu diversos galardões como o prêmio da UNESCO de Educação para a Paz em 1986. Em 13 de abril de 2012 foi sancionada a Lei nº 12.612, que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira.

Ciclo de debates

O evento é uma parceria com a UNESP e a UNIP Araraquara, e teve o apoio da Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Araraquara, que emitiu certificado para os participantes. Nesta sexta-feira (17), a Câmara realiza nova atividade sobre o centenário de Paulo Freire.

Confira os convidados:
  • Rafaella Pucca: atriz, arte-educadora, cientista social e pedagoga. Especialista em teoria e crítica literária pela UNESP/Araraquara e mestra em Letras pela UEL. Coordenadora Executiva das Oficinas Culturais Municipais de Araraquara.
  • Bruno Caldeira: multiartista, escritor, bibliotecário, arte-educador e poeta. Em 2020 lançou seu primeiro livro “Por mais fortes que possam ser os teus anseios, você não pode segurar a água” (Artefato, 2020).

Ficou interessado? Acompanhe a discussão ao vivo na TV Câmara (canal 17 da NET), no Facebook ou no YouTube.

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Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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