O que já foi dito sobre a ineficácia da cloroquina contra a Covid-19
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O que já foi dito sobre a ineficácia da cloroquina contra a Covid-19
A hidroxicloroquina para tratamento de Covid-19 foi a droga mais estudada desde o início da pandemia, com 268 pesquisas científicas registradas em 55 países, mas sua eficácia não foi comprovada
Na última terça (8), em novo depoimento à CPI da Covid, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou que a hidroxicloroquina não tem eficácia científica comprovada para o tratamento da Covid-19.
A afirmação do ministro representa uma mudança em relação ao seu primeiro depoimento à comissão, quando disse que não iria se posicionar sobre o uso do medicamento em uma nota técnica da pasta. É a primeira vez também que Queiroga se alinha às principais evidências científicas disponíveis até então sobre o medicamento e demais drogas do “kit Covid”.
“Essas medicações [se referindo às drogas do kit Covid, que inclui ainda tamiflu e azitromicina] não têm eficácia comprovada. Esse assunto é motivo de discussão na Conitec [Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao SUS]. Se eu ficar discutindo a discussão do ano passado, eu não vou em frente”, disse o ministro.
A Conitec é um órgão consultivo da Saúde responsável pela análise da inclusão de medicamentos e protocolos de tratamentos no SUS (Sistema Único de Saúde).
A hidroxicloroquina para tratamento de Covid-19 foi a droga mais estudada desde o início da pandemia, com 268 pesquisas científicas registradas em 55 países, mas sua eficácia não foi comprovada nem para tratamento de pacientes internados nem como medida profilática, de acordo com as pesquisas científicas que utilizam o chamado padrão-ouro do método científico.
Esses estudos são do tipo randomizados, duplo-cego e com grupo controle, ou seja, os voluntários são distribuídos de forma aleatória em diferentes grupos, uma parte recebe o medicamento e a outra, uma substância placebo, que é inócua no organismo, e nem os pacientes nem parte dos pesquisadores sabem quem está recebendo o quê –todas essas regras permitem eliminar vieses e avaliar de maneira direta a associação entre uso do fármaco e o desfecho clínico (melhora ou piora do paciente).
Um artigo publicado em junho de 2020 no periódico científico NEJM (The New England Journal of Medicine), um dos mais importantes da área médica, apontou que a hidroxicloroquina não tem eficácia como profilaxia (prevenção da infecção) após exposição pelo Sars-CoV-2. O estudo foi o primeiro ensaio clínico controlado publicado da droga, com 821 pessoas no Canadá e Estados Unidos.
Seu uso para redução de mortes ou de intubação também foi refutado em estudo publicado na mesma NEJM. A pesquisa foi do tipo observacional (ou seja, os pesquisadores só observam os resultados de vida real, sem fazer intervenções) com 1.376 pacientes que tinham sido tratados no Hospital Presbiteriano de Nova York.
Outro estudo também avaliou a mortalidade por Covid-19 entre pessoas medicadas com hidroxicloroquina associada ou não à azitromicina e não encontrou redução de mortalidade. A pesquisa, com participação de 1.438 pacientes, ainda apontou para maior ocorrência de arritmias e outras anormalidades cardíacas naqueles indivíduos que tomaram a combinação de medicamentos.
O maior estudo brasileiro até então, a Coalizão Covid-19, também mostrou que a hidroxicloroquina não tem eficácia para pacientes com sintomas leves ou moderados e não promoveu melhoria na evolução clínica deles. A pesquisa foi liderada pelos principais hospitais brasileiros (Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz e Beneficiência Portuguesa), pelo Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e pela Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Apesar de um estudo global com dados de 96 mil pessoas internadas publicado na The Lancet e que apontava para maior risco de morte associado à hidroxicloroquina ter sido retratado pela revista devido a inconsistências nos dados hospitalares, o acúmulo de evidências até então já era suficiente para comprovar que o seu uso não traz benefícios no tratamento da Covid-19.
Entidades médicas em todo o mundo, incluindo a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), recomendaram abandonar o medicamento, ainda em maio de 2020.
O Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês) dos EUA contraindicou o uso da cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina para tratamento da Covid-19 já em abril de 2020. A nota teve o apoio de 13 entidades, entre elas o CDC (Centro de Controle e Prevenções de Doenças), principal órgão de saúde norte-americano.
Posteriormente, em julho do mesmo ano, a FDA, agência regulatória de medicamentos no país, publicou uma nota que citava preocupação quanto ao uso da hidroxicloroquina fora de ambiente hospitalar para tratamento de casos leves ou profiláticos e como seu uso estava associado a um risco elevado de problemas cardíacos.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) interrompeu os estudos para avaliar a hidroxicloroquina para tratamento da Covid ainda em junho de 2020. Segundo o comitê independente que deu o parecer para encerrar a pesquisa, a droga não foi eficaz na redução da mortalidade.
Mesmo com todas as evidências e contraindicação dos principais órgãos e entidades do mundo, o Ministério da Saúde só publicou em maio de 2021 um parecer, avaliado pela Conitec, contraindicando cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina, entre outros medicamentos, para tratamento de pacientes hospitalizados com Covid-19.
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