Para embaixador palestino, colonialismo israelense é a origem da violência
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Para embaixador palestino, colonialismo israelense é a origem da violência
Após semanas de tensão em torno da expulsão de famílias palestinas de um bairro de Jerusalém Oriental, as forças de segurança israelenses usaram granadas de gás lacrimogêneo na mesquita de Al-Aqsa, deixando centenas de feridos
Desde o início dos bombardeios na Faixa de Gaza, há uma semana, Israel tem culpado a facção radical palestina Hamas pelo começo deste ciclo de violência. O diplomata Husam Zomlot discorda dessa justificativa. “Temos que nos lembrar de que é Israel que coloniza a Palestina, e não o contrário”, afirma.
Embaixador da Organização para a Libertação da Palestina no Reino Unido, Zomlot refuta também a versão israelense de que o Exército ataca Gaza para se proteger dos foguetes lançados pelo Hamas. “Não acreditamos que Israel tem o direito de se defender, dada a sua existência ilegal na nossa terra.”
Zomlot se refere à criação do Estado de Israel em 1948 e a subsequente expulsão de palestinos de suas casas. Foi o caso de seus pais, inclusive, que fugiram para Gaza. Ele nasceu em um campo de refugiados no sul da faixa. O embaixador não responde se apoia o lançamento dos foguetes do Hamas contra Israel.
Parece se incomodar com a pergunta e insiste que o foco deveria estar na causa do problema. “Não estamos aqui para condenar nosso povo sitiado, colonizado, enfurecido e resiliente”, afirma ele em entrevista por telefone. “Estamos aqui para condenar aqueles que nos ocupam.”
Após semanas de tensão em torno da expulsão de famílias palestinas de um bairro de Jerusalém Oriental, as forças de segurança israelenses usaram granadas de gás lacrimogêneo na mesquita de Al-Aqsa, deixando centenas de feridos.
O Hamas então disparou, no dia 10, uma primeira saraivada de foguetes. Em seguida, Israel começou a atacar Gaza, deixando ao menos 201 mortos. Do lado israelense, foram 10.
Para o embaixador palestino, a comunidade internacional deve se posicionar contra Israel e proteger os palestinos. O comportamento do Brasil, nesse sentido, deixa a desejar. Ele afirma que Jair Bolsonaro –que condenou o Hamas– tem “o regime racista de Israel” como modelo. “O Brasil merece mais do que isso.”
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Pergunta – Qual é a situação hoje na Faixa de Gaza?
Husam Zomlot – Gaza está sob uma campanha brutal de bombardeios israelenses. Gaza não tem um sistema de defesa, não tem abrigo, não há para onde ir. Nada. Famílias inteiras foram mortas. Esse é um crime de guerra, um crime contra a humanidade, e tem de acabar.
Como esses eventos estão relacionados com o que aconteceu nas últimas semanas em Jerusalém?
HZ – Os palestinos chegaram ao seu limite. Estão cansados da opressão, da negação de seus direitos, do deslocamento contínuo, do roubo de terras, da humilhação diária, dos controles militares, dos assassinatos diários. O último episódio foi a ameaça de expulsão de palestinos de suas casas em Jerusalém para serem substituídos por famílias judaicas. Essa é uma continuação do colonialismo, da limpeza étnica que começou em 1948. Isso enfureceu as pessoas. No ápice disso, Israel atacou a mesquita de Al-Aqsa durante o mês sagrado do ramadã e feriu centenas de pessoas. Isso tocou todos os palestinos. Se existe uma coisa que une todos os palestinos, é Jerusalém.
Israel acusa o Hamas de ter começado com a violência ao lançar foguetes contra Tel Aviv.
HZ – Nós temos que nos lembrar de que é Israel que ocupa a Palestina. É Israel que coloniza a Palestina, não o contrário. Palestinos não roubaram terras israelenses, não expulsaram ninguém.
Qual é a posição da liderança palestina? Apoia o Hamas, o lançamento de foguetes contra Israel?
HZ – Nossa posição oficial é clara. Condenamos a agressão israelense contra o nosso povo. Não acreditamos que Israel tem o direito de se defender, dada a sua existência ilegal na nossa terra. Independentemente de como enxergamos a reação de alguns grupos palestinos, é nisso que temos de nos concentrar. Não estamos aqui para condenar nosso povo sitiado, colonizado, enfurecido e resiliente. Estamos aqui para condenar aqueles que nos ocupam e garantir que a ocupação chegue ao fim.
O senhor diz que não acredita que Israel tem o direito de se defender…
HZ – Não vou falar disso. Quando o nosso povo está sob ataque, nós nos unimos. Estamos sendo mortos em Jerusalém, Ramallah, Hebron, Jenin, Jaffa, Haifa, Lod… Essa questão é irrelevante.
A resposta israelense é proporcional à ameaça do Hamas?
HZ – É repugnante. Nada menos do que um crime de guerra. Tem de ir ao Tribunal Penal Internacional. O mundo não está implementando suas próprias regras. Você não pode alvejar civis. Eles dizem que palestinos usam crianças como escudos humanos. É doentio. Eles têm armas sofisticadas. Destroem casas deliberadamente. Essa questão de proporcionalidade…
O que é proporcional? Quantos palestinos têm de morrer em relação a israelenses? Vinte contra um?Como isso afeta os palestinos na Cisjordânia e em Israel?
HZ – A máquina de direita que controla Israel tem espalhado ódio e discriminação contra palestinos. Não apenas o premiê Binyamin Netanyahu, mas toda a classe política, em coordenação com o Estado, a sociedade civil e a imprensa. Tudo isso levou ao linchamento de árabes por judeus.HZ – Qual é o papel dos EUA e da comunidade internacional para resolver essa situação? É simples, mas nunca foi feito. Impor sanções e implementar suas próprias regras. Israel nunca vai respeitar as leis internacionais se elas não forem acompanhadas de ações. Israel não pode estar acima da lei. Essa cultura de impunidade precisa acabar. Ademais, precisamos de proteção internacional imediatamente –uma missão de paz para proteger o nosso povo.
O presidente Jair Bolsonaro condenou o lançamento de foguetes pelo Hamas e pediu o fim dos ataques contra Israel. Como o senhor avalia a posição brasileira?
HZ – O Brasil foi um dos países que, historicamente, mais apoiaram a causa palestina. Mas a liderança de Bolsonaro tomou Netanyahu como uma inspiração e o regime racista de Israel como um modelo. É triste ter de ver as bandeiras do Brasil e de Israel juntas. O Brasil merece mais do que isso.
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