Pesquisa de brasileiros sobre tratamento de AVC repercute no exterior
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Pesquisa de brasileiros sobre tratamento de AVC repercute no exterior
| IDNews® | EBC | Agência Brasil | São Paulo | Camila Boehm
Estudo propõe uso da trombectomia mecânica na rede de saúde pública
IDN – Saúde – Brasil
Um estudo feito por pesquisadores brasileiros para comprovar a segurança e eficácia da trombectomia mecânica no Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento de casos agudos de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico foi publicado pelo The New England Journal Of Medicine, uma das mais prestigiadas revistas na área da medicina.
Resultado de uma parceria entre o Ministério da Saúde e a Rede Brasil AVC, o estudo Resilient sugere a adoção do tratamento na saúde pública do Brasil. O acidente vascular cerebral isquêmico é o tipo mais frequente de AVC e ocorre quando um vaso sanguíneo que irriga o cérebro é entupido por um coágulo ou trombo. Quando esse entupimento provoca a ruptura do vaso, o AVC se torna hemorrágico, o que ocorre em 15% dos casos.
“Esses resultados e essa publicação são muito importantes para o Brasil, porque colocam o país no cenário internacional, na revista médica mais importante do mundo”, diz a fundadora da Rede Brasil AVC e vice-presidente da Organização Mundial do AVC, Sheila Martins, que coordenou o estudo. Segundo Sheila, a pesquisa mostra que o tratamento funciona no sistema público de um país em desenvolvimento. “Ele é efetivo, ele é factível de ser implementado e ele é custo-efetivo”, afirmou.
“O estudo mostrou para o mundo que outros países em desenvolvimento também podem implementar esse tratamento. O estudo teve uma grande repercussão internacional. Grandes universidades e nomes da neurologia vascular do mundo têm comentado o estudo e falado sobre a importância dele. Isso mostra a importância dessa pesquisa não só para o Brasil, mas também para outros países”, acrescentou a médica.
A trombectomia funciona como um cateterismo, em que um cateter é usado no AVC isquêmico para desobstruir um vaso sanguíneo no cérebro de forma mecânica, removendo o coágulo com o uso de um stent ou por sucção. O tratamento usado atualmente é a trombólise, em que se administra medicação na veia para dissolver o coágulo que interrompe a circulação cerebral. Os medicamentos são chamados de trombolíticos e são eficazes nos AVCs menores.
No entanto, no AVC isquêmico agudo, quando há obstrução de grandes vasos, o tratamento por trombólise intravenosa está associado a baixas taxas de eficácia. Nesses casos, a trombectomia mecânica representa uma alternativa terapêutica mais eficaz.
Os pesquisadores concluíram que, quando comparada aos tratamentos medicamentosos que estão no SUS, a trombectomia mecânica aumenta de 21% para 35% a independência funcional do paciente, além de diminuir em 16% a mortalidade ou o risco de dependência grave. As pessoas que receberam a trombectomia tiveram 2,6 vezes mais chances de ficar independentes, ou seja, sem precisar de outras pessoas para as atividades diárias, e tiveram 3,4 vezes mais chances de ficar sem sequela alguma na comparação com pacientes que fizeram apenas tratamento clínico.
Segundo a Rede Brasil AVC, o uso do cateter já ocorre em 68 hospitais privados do país e é uma realidade na rede pública de outros países, como o Canadá e o Chile. A adoção da trombectomia no SUS depende da aprovação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). O estudo já foi submetido à Conitec e aguarda aprovação.
“A aplicação da trombectomia no SUS depende da aprovação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no Sistema Único de Saúde (Conitec). Tivemos uma reunião em março com o Ministério da Saúde, em um grande evento, no Rio de Janeiro, antes da pandemia e ficou acordado que nós submeteríamos, como pesquisadores apoiados por todas as nossas sociedades, a solicitação de incorporação [do procedimento]. Isso foi feito, na última semana, junto com a publicação no renomado The New England Journal Of Medicine, já encaminhando os resultados oficiais”, disse Sheila Martins.
Edição: Nádia Franco