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Pílula anticoncepcional completa 60 anos no Brasil em meio a mitos


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Neste domingo (15), a pílula anticoncepcional completa 60 anos da sua aprovação no Brasil.


A carioca Fernanda* começou a usar a pílula anticoncepcional aos 18 anos para prevenir a gravidez porque, na época, iniciou um tratamento para acne com Isotretinoína, um medicamento que não pode ser utilizado por gestantes.

“Mas sete anos depois, vieram à tona muitos casos de mulheres com trombose relacionados à [pílula] que eu usava. Por isso, parei de consumir”, conta.

Esse é o relato de muitas mulheres. Embora seja o método contraceptivo mais utilizado pelas brasileiras, segundo pesquisa realizada em 2021 pelo Instituto Ipsos, há um movimento cada vez maior de abandono por medo dos efeitos colaterais. Nem parece que, num passado muito recente, ele era considerado revolucionário.

Neste domingo (15), a pílula anticoncepcional completa 60 anos da sua aprovação no Brasil. Ela chegou ao país trazida por mulheres que viajavam para outros países, já que nos Estados Unidos, por exemplo, havia sido aprovada dois anos antes, em 1960.

Mas a droga poderia ter chegado às prateleiras ainda antes, diz o historiador Luiz Antonio Teixeira, professor do Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

“Já se sabia o papel dos hormônios no controle do ciclo menstrual e na possibilidade de usá-los para impedir a concepção. O desenvolvimento dos anticoncepcionais não se deu anteriormente por motivos culturais”, afirma.

O historiador conta que a contracepção era vista como imoral e “pecaminosa”, já que era instituído que o papel das mulheres na sociedade era apenas procriar. Posteriormente, a pílula se tornou uma ferramenta de controle da natalidade.

Foi a partir desse momento que as mulheres começaram a decidir se queriam ou não ter filhos, e entraram no mercado de trabalho. “Ao separar sexo e procriação, a pílula possibilitou uma nova forma de se conceber e viver as relações afetivas e sociais. Dessa forma, transformou aos poucos as visões sobre sexualidade, gênero e família”, diz Teixeira.

Hoje, não só ela como todos os outros métodos contraceptivos fazem parte das estratégias de planejamento reprodutivo. Mas como um remédio que era considerado inovador ganhou tamanha desconfiança?

A pílula anticoncepcional é segura? A ginecologista Carolina Sales Vieira, professora da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), explica que existem dois tipos disponíveis no mercado, ambos feitos com versões sintéticas de hormônios: a composta por progesterona e estrogênio (chamada de pílula combinada), e outra feita apenas com progesterona. As duas têm a mesma eficácia.

“A progesterona inibe a ovulação e deixa o muco cervical mais viscoso, o que impede a subida do espermatozoide para o útero. Já o estrogênio atua programando o sangramento”, esclarece Carolina. Isso significa que quem toma a versão só com progesterona menstrua menos vezes.
Assim como qualquer medicamento, a pílula oferece efeitos adversos. Os principais causados pela combinada são náuseas, vômitos, dor de cabeça e dores e inchaço nas mamas. “Na maioria das vezes, são sintomas transitórios que passam após três meses [de uso]”, diz a ginecologista.

Há também os efeitos mais graves, embora raros, como a trombose e o AVC (acidente vascular cerebral). Uma robusta revisão de estudos solicitada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e publicada no Journal of Obstetrics and Gynaecology Research mostrou que o risco geral de trombose entre as mulheres em idade reprodutiva é de 5 casos em 10 mil. Mas, quando há uso de pílula, ele sobe para no máximo 20 em 10 mil.

Só que, mesmo assim, o perigo ainda é pequeno. Para efeito de comparação, durante a gravidez, a possibilidade de tromboembolismo venoso aumenta de cinco a dez vezes, podendo chegar a 20 vezes no puerpério, em relação a mulheres não gestantes de mesma idade, segundo protocolo produzido pela Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

Já os AVCs em decorrência da pílula são dez vezes mais raros do que a trombose, de acordo com uma revisão de pesquisas da rede Cochrane.
Vale frisar que os problemas graves são restritos à versão combinada. “Os efeitos da pílula só com progesterona são apenas os brandos”, relata a profissional.

De acordo com a ginecologista Jaqueline Neves Lubianca, da Febrasgo, os especialistas precisam avaliar cada paciente para entender se a opção combinada é a ideal.

“Existem fatores de risco para a trombose, como obesidade, sedentarismo, tabagismo, doenças cardiovasculares e histórico. A gente procura não usá-la neste nicho, onde os riscos vão se somando. Se tomarmos os cuidados, é segura”, informa Jaqueline.

Pílula como tratamento Além de ser um contraceptivo, a pílula faz parte da terapia de várias doenças. É o caso da publicitária Bruna Macedo, 28, de São Paulo. Ela começou a usar para prevenir a gravidez, quando se casou há sete anos.

“Após seis meses, descobri que eu tinha síndrome do ovário policístico. Tempos depois, apareceram as cólicas mais fortes, inchaço, sangramento prolongado. Então, meu médico mudou a medicação para uma pílula indicada para o tratamento”, relata Bruna.

Ainda assim, os relatos de trombose deixaram Bruna com o pé atrás. “A gente vê várias coisas na Internet sobre isso. Fiquei com medo de sofrer algum efeito grave e levei essas dúvidas para o médico, que me orientou muito bem”, diz.

O tratamento de Bruna com o contraceptivo tem sido satisfatório.
“Não tenho do que reclamar. Futuramente, vou parar e seguir com outros métodos, mas no momento ela atende a minha síndrome. Quando surge alguma dúvida, sempre levo para o meu médico.”

O remédio é utilizado por quem sofre da síndrome e endometriose, pois ameniza os sintomas. “Ele também ajuda a tratar acne, diminui pelos em excesso, alivia as cólicas e a longo prazo protege do câncer de endométrio e de ovário”, informa Lubianca, ginecologista Febrasgo .

Independente do motivo que leve alguém a tomá-lo, o importante é ter informação e entender que existem alternativas. “Não devemos demonizar a anticoncepção hormonal pois os efeitos cumulativos são bons. É uma questão de risco e benefício, e de colocar a paciente a par de todos os métodos disponíveis para fazer a escolha.”

| IDNews® | Folhapress | Via NMBR |Brasil

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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