Polícia confirma 18 mortes em operação no Complexo do Alemão, no Rio
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A ação durou cerca de 12 horas com intensos tiroteios, sendo finalizada por volta das 17h.
A Polícia Militar e a Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmaram ao menos 18 mortos em uma operação realizada no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (21). A ação durou cerca de 12 horas com intensos tiroteios, sendo finalizada por volta das 17h.
As corporações afirmaram, em entrevista a jornalistas, que este é um balanço parcial. Os corpos ainda estão sendo identificados pela Polícia Civil.
Considerando a contagem até o momento, a operação é a quinta mais letal da história do Rio de Janeiro, segundo levantamento do Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF (Universidade Federal Fluminense).
À tarde, a Defensoria Pública afirmou, com base em informações fornecidas por unidades de saúde da região, que havia 15 corpos na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Alemão e cinco no Hospital Estadual Getúlio Vargas. A reportagem viu sete corpos sendo carregados por moradores em lonas e toalhas.
Segundo as polícias, 16 morreram em confronto. Também foi vitimado o cabo Bruno de Paula Costa, 38, baleado enquanto estava trabalhando, em ataque à base da UPP Nova Brasília. Segundo a corporação, a morte foi uma retaliação à operação.
Ele ingressou na polícia em 2014, era casado e deixa dois filhos com diagnóstico de transtorno do espectro autista.
Morreu ainda Leticia Marinho, 50, uma mulher que passava pela região e estava dentro de um carro com o namorado. Ele afirmou ao portal Voz das Comunidades que parou no sinal ao lado de um veículo da polícia e que, então, um policial atirou contra o seu carro. A vítima deixa três filhos.
A Polícia Civil diz que está investigando esta morte. Questionado se algum policial foi identificado e afastado pelo fato, o subsecretário operacional da Polícia Militar, Rogério Lobasso, respondeu que primeiro é preciso entender a dinâmica, para então tomar as medidas necessárias.
Subsecretário operacional da Polícia Civil, o delegado Ronaldo Oliveira afirmou que a polícia reage de acordo com a ação dos marginais. “Preferia que eles não tivessem reagido e a gente tivesse prendido. Infelizmente escolheram a reação.”
De acordo com ele, havia mais de 30 mandados de prisão a serem cumpridos no Alemão.
Segundo a polícia, foram apreendidos uma metralhadora .50 (capaz de derrubar helicóptero), quatro fuzis e duas pistolas. Na favela da Galinha, próximo ao Alemão, quatro homens em fuga foram alcançados e detidos, de acordo com a corporação.
A ação, que começou no início da manhã, contou com 400 policiais do Equipes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da Polícia Militar e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) da Polícia Civil. Também foram utilizados dez blindados e quatro helicópteros.
Comandante do Bope, o tenente coronel Uirá Nascimento afirmou que a operação foi necessária porque dados de inteligência indicaram que a quadrilha poderia se movimentar e cometer ações criminosas na cidade, como invasão de outras favelas e roubo a bancos.
Segundo ele, os criminosos estavam arregimentados com fardas militares similares às utilizadas pela Polícia Militar e pela Polícia Civil para cometer atentados na cidade.
Coordenador da Core, o delegado Fabricio Oliveira afirmou que os policiais foram violentamente atacados durante a operação -ele citou vídeos que circulam nas redes sociais mostrando rajadas efetuadas contra helicópteros das forças de segurança. Disse, também, que os criminosos ficaram desesperados com a ação.
Oliveira afirmou que os traficantes utilizaram três tipos de tática para combater a ação policial. Primeiro, a tática militar de espalhar barricadas com fogo, que impedem o trânsito dos veículos das polícias. Segundo, a tática de guerrilha de espalhar óleo nas ladeiras, também para atrapalhar a entrada dos agentes.
Por último, disse que os criminosos estão lançando mão da tática terrorista de utilizar a população como escudo humano. Segundo ele, há registro de pedidos de traficantes para que mototaxistas e moradores simpáticos ao crime fossem às ruas fazer manifestações. “Quem se associar será responsabilizado”, disse.
Questionado pela reportagem sobre como diferenciar o morador que vai às ruas protestar em conluio com o tráfico daquele que protesta por vontade própria, fazendo valer seu direito como qualquer cidadão, Oliveira respondeu que, nas últimas ações, “as pessoas que vão para a rua fazer baderna são simpáticas ao tráfico”.
“Basta fazer uma busca nas redes sociais. Eles falam ‘morador, vamos pra pista que estão fazendo covardia com a gente’. Mas quando vai ver os vídeos das operações, o traficante está dando tiro de rajada contra a aeronave.”
O delegado afirmou que, passadas as operações, as polícias são atacadas por ONGs, por algumas instituições e por “narcoativistas” -segundo ele, pessoas que defendem os traficantes.
Ouvidor da Defensoria, Pimentel afirma que recebeu relatos de muitos mortos e feridos que ainda estavam na favela à tarde. A operação se estendeu por 12 horas, com tropas adentrando a comunidade.
“Temos informação de pessoas feridas dentro da favela, pedindo socorro. Neste momento estamos cobrando do Ministério Público que tome atitudes de controle da força policial para que haja estabilização [do terreno] e a gente possa entrar e checar as graves denúncias de violações de direitos humanos”, disse.
Mais cedo, o órgão recebeu denúncias sobre invasão de residências pela polícia e de helicópteros sendo utilizados como base para tiros. Ele afirma que moradores narraram intenso tiroteio e que eles estavam em pânico, inseguros dentro da própria casa.
Nascimento, comandante do Bope, afirmou que o confronto foi muito intenso e disse que, em alguns momentos, os policiais precisaram adentrar as residências para proteger a própria vida.
Em nota, o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou que acompanhou a operação policial para a “adoção das providências cabíveis”. O órgão foi comunicado da operação pela Polícia Militar às 5h40.
Segundo decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), apenas operações excepcionais podem ocorrer no estado enquanto durar a pandemia. O MP-RJ disse que a análise do cumprimento da determinação será realizada posteriormente, com a remessa da comunicação ao promotor natural.
De acordo com a PM, as bases das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) Fazendinha e Nova Brasília foram atacadas por criminosos, que também derramaram óleo em via pública e atearam fogo em objetos.
Em nota, a Polícia Militar afirmou que informações dos setores de inteligência indicaram a presença de criminosos do Complexo do Alemão praticando roubos de veículos, principalmente nas áreas dos bairros do Grande Méier, Irajá e Pavuna.
Segundo a polícia, o grupo vem realizando roubos a bancos e roubos de carga, além de planejar tentativas de invasão a outras comunidades.
Entre os roubos de carga, de acordo com a corporação, constam roubos de óleo diesel para derramar em ladeiras durante operações policiais, com o objetivo de dificultar o avanço das equipes.
Clínicas de saúde tiveram o funcionamento suspenso com a operação. Moradores com quem a reportagem conversou relataram que se trancaram em casa e perderam o trabalho com medo dos disparos.
A operação ocorreu apesar da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que restringiu as operações policiais para casos excepcionais no estado do Rio de Janeiro, enquanto durar a pandemia da Covid-19.
Em maio, operação policial na Vila Cruzeiro, a segunda mais letal no estado, resultou na morte de 23 pessoas. A favela é vizinha ao Alemão, alvo da ação desta quinta-feira.
A operação mais letal ocorreu em maio de 2021, na favela do Jacarezinho. Foram mortas 28 pessoas, sendo um policial civil.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro e a Ordem dos Advogados do Brasil no estado pediram que o governo do estado reduza em 70% as mortes por intervenção policial no prazo de um ano. As propostas foram encaminhadas ao Palácio Guanabara em junho.
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