Pós-eleição segue com violência, perseguições, ameaças e mortes
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Desde outubro, ocorreram 59 ameaças, 19 agressões, 13 homicídios, dez atentados e dois sequestros contra líderes políticos
Em meio a episódios de hostilidade a políticos e personalidades públicas, o Brasil registrou nos últimos dois meses 103 casos de violência política contra candidatos e políticos eleitos – inclusive no período posterior ao segundo turno. De acordo com o Grupo de Investigação Eleitoral (Giel), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), foram 48 casos só em novembro.
Desde outubro, ocorreram 59 ameaças, 19 agressões, 13 homicídios, dez atentados e dois sequestros contra líderes políticos. Os dados são preliminares. O Giel elabora relatórios trimestrais e antecipou parcial a pedido do Estadão. As ocorrências se mantiveram em alta mesmo após a eleição.
Os episódios de violência contra políticos em 2022 já somam 529. Superam as ocorrências de 2021 (309) e de 2019 (148). Em 2020, ano de eleição municipal, foram 538.
Entre julho e setembro de 2022, foram 212 casos. Houve aumento de 110% em relação ao trimestre anterior.
De acordo com o cientista político Felipe Borba, coordenador do Giel, os casos seguem o processo eleitoral. Em 2022, o ápice foi durante o auge da campanha no primeiro turno, assim como em 2020. Para Borba, os números tendem a cair no pós-eleição. “Neste ano, os casos já estão acima da média trimestral registrada pelo Observatório da Violência Política e Eleitoral no Brasil”, afirmou.
Minas Gerais (12), Bahia (9), Paraná (7) e Rio de Janeiro (6) lideram a lista das unidades da Federação com mais registros de violência contra políticos. O Giel não mensura ataques contra eleitores que não ocupam ou não concorrem a cargos públicos.
Truculência
As abordagens truculentas não foram dirigidas apenas a ocupantes de cargos eletivos. Em Nova York, bolsonaristas protestaram na porta do hotel onde Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes se hospedaram. Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) estavam lá para participar de um seminário. Entre os insultos que ouviram, estavam “ladrão, bandido, vagabundo”.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi hostilizado na segunda-feira por bolsonaristas ao chegar para um jantar do PL, em Brasília. Foi chamado de “traidor da Pátria” e “omisso”, por conversar com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Ídolo da música popular brasileira (MPB) e ex-ministro da Cultura de Lula, Gilberto Gil foi hostilizado por bolsonaristas na estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo do Catar. O ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (PSDB-RJ) também foi alvo de insultos, em um resort em Salvador. Já o ex-ministro Ciro Gomes, candidato derrotado à Presidência, foi vítima em um aeroporto de Miami, no EUA. A atriz Regina Duarte entrou na mira de ataques de apoiadores de Lula em um teatro de São Paulo.
O advogado Diogo Rais, professor de Direito Eleitoral do Mackenzie, disse que os casos de agressões e ataques são uma transposição do discurso de ódio que impera nas redes sociais. “Ao invés de atacarem o problema, eles atacam os grupos. É uma busca pelo extermínio desses grupos que pensam diferente, o extermínio de outros grupos”, afirmou.
| IDNews® | Jornal “O Estado de São Paulo” | Via NBR | Brasil